Vendendo a verdade com embalagem ‘fake’
25/08/2014
- Opinión
No exato momento em que o jornalismo em geral, e o impresso em particular, são desafiados, cobrados, pressionados, desacreditados e colocados sob suspeita, a Associação Nacional de Jornais (ANJ) entra em cena com novo e portentoso disparate que só reforça as cobranças, questionamentos e dúvidas.
Na quinta-feira (21/8), a Folha de S.Paulo, Estado de S.Paulo e Valor chegaram às mãos de seus assinantes em São Paulo com capas falsas – ditas “promocionais” ou mascaradas de “informes publicitários” – para vender a ideia de que se deu no jornal é verdade.
Jogada infantil para agarrar o público jovem, o anúncio tenta reproduzir uma página de tuítes e posts da rede social. O principal deles, postado por Maria Reininger (depois do 7 a 1 é chique ter nome alemão), informa que se algo está na capa do jornal de hoje “eu acredito”.
Na página interna diz-se que “quem abre uma notícia, abre um jornal (deveria ser o contrário – tudo bem, bacana ser obtuso). Seguem-se algumas linhas de sociologia de boteco informando que o que ontem foi viralizado, o que está nas page views, nos hashtags, nos tuites e retuítes só existe quando sair no jornal. Conclusão acaciana: “Jornal é o que leva a verdade até você, é o que garante que tudo aconteceu”.
Zona de turbulência
Primeira pergunta aos senhores acionistas de empresas jornalísticas: se o jovem é avesso a jornal como se apregoa, qual a utilidade de dirigir uma mensagem escrita a quem não lê ?
Segunda pergunta: se as capas daquela edição foram falsificadas, como associar o meio jornal ao conceito de verdade?
Terceira pergunta: no início da temporada eleitoral, quando os jornalões deveriam tentar a individuação para desfazer a imagem de pool ou confraria, a inconveniência da mensagem coletiva, em uníssono, não ocorreu a alguém? Uma autopromoção com forte teor corporativo e veiculada simultaneamente pelas maiores empresas jornalísticas do país (Valor é uma parceria da Folha com o Globo) não confirma – ao invés de desfazer – a falta de pluralismo e diversidade em nossos meios de comunicação?
Apertem o cinto, senhores: vamos entrar em área de turbulência e os pilotos estão tontos.
Observatório da Imprensa, edição 813, 26/08/2014
https://www.alainet.org/pt/active/76521
Del mismo autor
- Sopa de letrinhas 17/02/2017
- Trump não gosta da mídia 17/01/2017
- “Let’s Make Brasil Great Again” 10/01/2017
- Deu na mídia 20/12/2016
- Do Brasil e seus heróis 28/11/2016
- Cunha, Neschling, Arte, Sexo, Exorcismo 24/10/2016
- Casuais e instrutivos reencontros com o Santo Ofício da Inquisição 19/01/2016
- “Folha” vai firme contra Cunha; “Época” prefere beliscar Fachin 16/12/2015
- Papa em Cuba, Opus Dei na retranca 22/09/2015
- A mídia só deveria atuar às claras 17/08/2015
Clasificado en
Clasificado en:
