Missão internacional denuncia situação caótica no Haiti
14/04/2005
- Opinión
O grupo, composto por brasileiros, paraguaios, uruguaios, argentinos e chilenos, foi liderado pelo Prêmio Nobel da Paz Adolfo Perez Esquivel
Entre os dias 3 e 9 de abril uma missão internacional de investigação e solidariedade, coordenada pelo Prêmio Nobel da Paz Adolfo Perez Esquivel e por Nora Cortiñas, das Mães da Praça de Maio, esteve no Haiti e descobriu um país que resiste e procura buscar alternativas à miséria, à falta de água e a uma expectativa média de vida de menos de 50 anos.
O Haiti não possui recursos naturais. Restam apenas 2% de sua vegetação natural. Não existe sistema de transporte que garanta a integração viária neste pequeno país de 27.700 km2. Enfrentando uma grave crise econômica, social e política, com a forte presença militar estrangeira em seu território, e com a massiva pauperização da população, o Haiti tem um índice de analfabetismo que alcança 45% da população; menos de 1 pessoa, dentre 50, possui um emprego fixo.
Alguns pontos que mostram por que o país é um campo de disputa tão cobiçado entre a França, Estados Unidos e Canadá:
O Haiti localiza-se bem próximo a paises com grandes mercados consumidores, como o México, os Estados Unidos e o Canadá. A partir de 1998, começa a se instalar no país uma série de empresas maquiladoras na Zona Franca CODEVI em Ouanaminthe, na fronteira com a Republica Dominicana. A grande maioria de trabalhadores são mulheres (cerca de 70%) que recebem o equivalente a R$ 5,00 por dia dia em jornadas que variam de 12 a 14 horas. O ramo produtivo majoritário é o têxtil, com empresas como a Levi Strauss, Sisley e outras companhias dos EUA. Algumas dessas empresas estavam instaladas em outros paises da América Central e foram transferidas para o Haiti graças aos baixíssimos salários e às boas condições oferecidas pelo governo haitiano. Além disso, observa-se na região um processo de remilitarização através de manobras de tropas do Comando Sul do Pentágono e também da ampliação de bases militares como a de Curaçao, além de estar o Haiti muito próximo geograficamente de Cuba.
Depois de se reunir com funcionários do governo interino, organizações sociais de direitos humanos, camponesas, de mulheres, sindicatos, estudantes, partidos políticos, representantes universitários, embaixadas, organismos internacionais e a MINUSTAH, a Missão, composta por 20 representantes de movimentos, redes e instituições sociais, culturais e políticas de América Latina, o Caribe, América do Norte e África, fez algumas considerações iniciais, como:
- O problema do Haiti não é de caráter militar, portanto, não pode ser resolvido com medidas desta índole. Rechaçamos a presença de forças internacionais de ocupação no Haiti, pois afetam sua soberania. E exigimos aos nossos governos o retiro das mesmas, com formas e calendários estabelecidos pelos atores sociais e políticos da sociedade haitiana
- Os integrantes da Missão defendem um processo eleitoral democrático, transparente e seguro e recomendam às autoridades provisórias encarregadas que a União Interamericana de Organismos Eleitorais (UNIORE) seja convidada para que, conjuntamente com o Instituto Interamericano de Direitos Humanos e com a Comissão Assessora de Promoção Eleitoral (CAPEL), apóiem a constituição de um plano de administração eleitoral;
- O documento da Missão alerta e se opõe a que o país seja transformado em uma área onde se instalem fábricas montadoras aglutinadas em Zonas Francas, que exploram seus trabalhadores em uma nova forma de escravidão.
- Exigem ainda a anulação da dívida externa, imoral e ilegal, que continua sendo uma forma de saqueio do povo haitiano
De 1915 a 1934 o Haiti foi ocupado por tropas dos Estados Unidos. Uma missão das Nações Unidas ocupou o país de 1994 a 1999. A partir de fevereiro de 2004 iniciou-se um novo período de intervenção militar estrangeira em seu território. Esta terceira ocupação, segundo declarações de dirigentes da ONU, deve se prolongar por mais de 20 anos.
No Brasil, a Missão Internacional de Investigação e Solidariedade ao Haiti foi organizada pelas entidades que integram o Jubileu Sul, além de Rede Social de Justiça e Direitos Humanos.
Informações para imprensa:
Rede Social de Justiça e Direitos Humanos
https://www.alainet.org/pt/active/8013
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