Parecidos e diferentes

05/02/2015
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Todos os governos bons se parecem, os ruins são cada um de seu jeito e o são porque acreditam que fazendo o mal, estão fazendo o bem.
 
Diante de todos os ajustes feitos e outros que ainda virão, a presidenta da República expõe os motivos para as surpreendentes medidas e diz que, “os ajustes feitos são necessários para garantir o projeto vitorioso das urnas”, vestido enganosamente com o lema de “governo novo, idéias novas”. Parece esquecer a mandatária, comprometida com os capitalistas, que tais ajustes faziam parte do programa do candidato perdedor, os mesmos que na década de 1990, implementaram, à sua maneira, o modelo econômico e político neoliberal.
 
 Nos programas dos governos ruins, os ajustes escondem os desajustes, mas não os eliminam; porque os desajustes começam no favorecimento dos mais ricos e acabam como consequências, na vida dos mais pobres. Daí que, a origem da violência urbana, a não demarcação dos territórios indígenas e o abandono da reforma agrária, que fazem aumentar o sofrimento humano, está na concentração da riqueza dos mais ricos e não na existência dos mais pobres.
 
 Sendo assim, há muitas coisas em que os governos novos se assemelham aos governos velhos, mas quando se trata de ruindades, cada um possui as suas especialidades. Por exemplo, em termos de reforma agrária, o governo ruim de Sarney, foi um pouco pior em relação ao governo Dilma, mas em relação à violência urbana e também contra os camponeses e indígenas, embora pese sobre os ombros do governo de Fernando Henrique Cardoso, os massacres de Carajás, Corumbiara e outros, o governo atual é muito pior.
 
 Para ilustrar melhor a comparação, tomemos a questão da demarcação dos territórios indígenas. A perversidade do governo atual não é ruim apenas por ter paralisado em 2013 a demarcação dos territórios, mas por duas razões ainda piores: a primeira diz respeito ao esvaziamento do poder da Funai, tirando dela a função de cuidar do assunto; a segunda, atendendo a um pedido dos capitalistas do agronegócio, repasou a responsabilidade para o Congresso Nacional, que agora prepara várias emendas constitucionais para impedir definitivamente que as terras indígenas sejam reconhecidas.
 
Por outro lado, o aspecto da violência urbana, faz o governo atual ser ainda mais ruim que os anteriores. No que diz respeito ao extermínio juvenil, o problema se agrava a cada ano. Prevêem os que estudam o assunto, que nos próximos 4 anos, serão assassinados 40 mil jovens nas cidades brasileiras. Os dados mostram que, entre 2011 e 2012, a taxa de assassinatos contra menores subiu 17%; mas, dentre as várias regiões, o Nordeste, que em 2014, representou a metade das famílias incluídas no programa Bolsa Família, ou seja, 6.983,530 famílias receberam o benefício, teve a maior incidência de morte de adolescentes, demonstrando que só o Bolsa Família, que aumenta o consumo de mercadorias, sem mexer no bolso dos ricos, para distribuir a riqueza, que gerará ocupação e dignidade, a juventude continuará sendo exterminada.
 
Em 2018 teremos novamente eleições para presidente da República, e lá, provavelmente serão apresentadas as hidrelétricas do Norte concluídas, a produção agropecuária ainda mais pujante, a roubalheira na Petrobras etc., mas, se nada for feito, o cenário social será marcado por velhas crises e novas cruzes.
 
É tempo das forças índias, negras e populares levantarem a cabeça e encherem de revolta as consciências para salvar a vida e o país.
 
- Ademar Bogo é filósofo e escritor.
 
05/02/2015
 
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