Os 50 anos da Globo

10/02/2015
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No final de semana, 7 de feve­reiro, a diretora da Central Globo de Jornalismo, Silvia Faria, enviou um e-mail a todos os chefes de núcleo dando a seguinte ordem:
 
“Assunto: Tirar trecho que menciona FHC nos VTs sobre Lava a Jato”
 
Atenção para a orientação
 
“Sergio e Mazza: revisem os vts com atenção! Não vamos deixar ir ao ar ne­nhum com citação ao Fernando Hen­rique”.
 
Conta o jornalista Luis Nassif que a ordem se deveu ao fato da reportagem da emissora ter procurado FHC pa­ra repercutir as declarações de Pedro Barusco, ex-gerente da Petrobras, que denunciou a existência do esquema de corrupção ainda no governo tucano.
 
Tanto quanto foi no mensalão (AP 470), cabe à Globo desinformar a po­pulação e criar no imaginário da po­pulação que a corrupção da Petrobras é uma invenção petista. Os tucanos, sejam os do governo de Yeda Cru­sius (RS), Aécio Neves (MG), Beto Ri­cha (PR) e os dos 20 anos do governo paulista, são probos... para a mídia.
 
Quantos mandatos o governo petista necessitará para se convencer de que o monopólio de comunicação exercido pela Rede Globo é um atentado à de­mocracia e é a maior trincheira, anti­democrática, de resistência às politicas sociais e à distribuição da riqueza pro­duzida em nosso país?
 
Um monopólio que nasceu e se con­solidou graças ao apoio que deu ao gol­pe militar, em 1964, destituindo um governo democraticamente eleito e jo­gando o país numa ditadura militar de duas décadas.
 
Não satisfeita em lamber as botas de governos ditatoriais, não poupou es­forços, nos seus 50 anos de malfada existência, a fazer a defesa de políticas entreguistas, do interesse do império.
 
Um entreguismo que está em seu DNA e que aflora, agora, com toda sua purulência nos ataques que faz à Pe­trobras. Fingindo combater a corrup­ção existente na empresa, uma prática entranhada desde governos anteriores ao dos petistas, esconde seus reais ob­jetivos: acabar com o sistema de par­tilha do petróleo, esquartejar e, pos­teriormente, privatizar a Petrobras. A mesma política entreguista defendida pelos tucanos José Serra, Aécio Neves e Fernando Henrique Cardoso. Assim, o e-mail da diretora de jornalismo da Globo, acima exposto, faz parte desse conluio mídia-tucanos, cada vez mais exposto à sua nudez.
 
Comprovadamente ré num processo em que sonegou milhões de reais em impostos, a Rede Globo continua re­cebendo verbas milionárias dos cofres públicos, gastos em publicidades. Re­cursos públicos que fortalecem uma mídia que se especializou em crimina­lizar a política, em atacar incessante­mente o atual governo, em condenar adversários políticos antes mesmo de qualquer julgamento, em promover assassinatos de reputações, em insti­gar os sentimentos mais antidemocrá­ticos, latentes nos segmentos mais re­acionários.
 
Um caso de sonegação que se asso­cia a outro crime: o processo foi furta­do da Receita Federal e até hoje per­manece desconhecido quem esteve por trás da funcionária que cometeu a ação criminosa. Sabe-se apenas que o furto, inexplicável até o momento, beneficiou indiretamente os réus do processo.
 
Sendo a família Marinho a mais rica do país, é compreensível que coloque seu império midiático contra as ini­ciativas de leis que defendem a neces­sidade de taxar as grandes fortunas, como ocorrem na maioria dos países desenvolvidos. Incompreensível é que esse arroto dos Marinhos, publicado como editorial no jornal da família, se torne a única versão a ser publicada pela mídia brasileira.
 
Não satisfeita em defender seus in­teresses econômicos e sua fortuna fa­miliar, não hesita em se contrapor às iniciativas de aperfeiçoar os mecanis­mos de participação popular na poli­tica e de fortalecimento da democra­cia em nosso país. Em outro recen­te editorial, a família Marinho se posi­cionou contra uma Assembleia Nacio­nal Constituinte, exclusiva, para que a sociedade possa promover as mudan­ças na política, reivindicadas nas gi­gantescas mobilizações populares, em junho de 2013. Ao se contrapor, utili­za como único argumento que se tra­ta uma iniciativa do PT para se man­ter no poder. Quando os tucanos com­praram votos de parlamentares para instituir a reeleição e assegurar o se­gundo mandato de FHC, nenhuma li­nha foi escrita.
 
Ignora, a Globo, propositalmente em sua incansável prática de promo­ver um jornalismo partidarizado, que essa inciativa pertence há centenas de movimentos populares, sindicais, estudantis e das pastorais de igrejas. Uma mobilização popular que em se­tembro do ano passado recolheu qua­se 8 milhões de assinaturas em defe­sa dessa proposta política.
 
Os setores conservadores aceitam apenas reforma políticas feitas sob o controle dos próprios parlamenta­res, confiando possuir a maioria no Congresso Nacional. Por isso, usan­do mais uma das artimanhas do mi­nistro Gilmar Mendes, conseguiram impedir que o STF decidisse favora­velmente pelo fim do financiamento privado de campanhas eleitorais, um dos principais focos de corrupção na política.
 
Estranhamente, o ministro Mendes recebeu da família Marinho o mesmo tratamento dispensado à FHC, quan­do denúncias envolvendo-o foram proibidas de serem divulgadas na re­vista Época.
 
A liberdade de expressão já é uma conquista do povo brasileiro, conso­lidada na Constituição Federal. É ne­cessário, agora, aperfeiçoar e fortale­cer esse direito, enfrentando o mono­pólio da mídia empresarial/familiar e democratizar a comunicação em nosso país. Que fiquem para trás os dias em que os Poderes da República eram reféns da família Marinho.
 
Editorial da edição 624
 
10/02/2014
 
https://www.alainet.org/pt/active/80757?language=en
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