Lula não governa mais coisa alguma. Um triunvirato formado pelos ministros Antônio Palocci, Luís Fernando Furlan e Dilma Roussef, Fazenda, Comércio e Casa Civil, assumiu o controle das funções governamentais. Há um consenso entre os acionistas do Estado (bancos e grandes corporações) que isso é o suficiente para garantir o mandato presidencial até o último dia. Bem entendido: se não surgirem fatos arrasadores. Pelo jeito não devem aparecer, as CPMIs já estão pisando nos respectivos freios. O suspense vai ficar por conta do descontrole do próprio presidente. Não admite ser banido das eleições de 2006, quer um segundo mandato e joga com o pouco tempo que lhe resta para tentar superar e triturar as dificuldades. O tucanato também. Vai mais devagar, mas pisa no acelerador se perceber que Lula recupera-se. O problema, a curto e médio prazo, passa a ser o PMDB. De repente o partido descobriu que tem candidato e com chances reais. O ex- presidente Itamar Franco. Ou como esquema alternativo a um choque entre tucanos e petistas, destruindo a ambos, a candidatura do ministro presidente do STF (Supremo Tribunal Federal), Nelson Jobim. O PMDB sabe que Anthony Garotinho está apenas de passagem pela legenda. É do partido do bispo Macedo. Por falar em bispos especialistas em malas, bancos, fraudes, etc, a Igreja Universal do Reino de Deus descobriu o reino nos imóveis valiosos de São Paulo e jogou por terra casarões com processo de tombamento em curso. É impossível que tenham sido demolidos sem que a Prefeitura tucana tenha tomado providências para impedir. Deve existir algum acordo por baixo do pano. Fazem acordo o dia inteiro. Aécio Neves e Alckimin, por exemplo, decidiram atuar em comum contra Serra e FHC, ainda que digam o contrário. Aécio achando que Alckimin não tem chance alguma e isso favorece a ele em 2010. Alckimin achando que pode virar presidente da República. No meio disso tudo a reforma política aprovada pelo Senado. Não muda nada, apenas cria mecanismos aparentes e superficiais de controle da corrupção, enquanto, noutra ponta, garante boa parte dos congressistas atuais. Faz que vai mas não vai. Reforma sem reformar. O Brasil, de um modo geral o mundo inteiro hoje, tem essa característica. A sociedade de consumo consome verdades absolutas, mas de curta duração. O processo de privatizações é o exemplo clássico. FHC dizia que não tínhamos alternativas e que o dinheiro seria usado em educação, saúde, etc, etc. Pegou a grana da CPMF (Contribuição Provisória de Movimentação Financeira), criada para a Saúde e entregou aos bancos. Os serviços públicos prestados pelas empresas privatizadas são da pior qualidade e no caso da telefonia, gangues controlam todas. Waldemar Costa Neto é uma cópia do ator Silvester Stallone. Ambos são grotescos, ridículos e se acreditam Rambos. O que me assustou no seu depoimento foi a possibilidade das asas de anjo romperem o palito e o dito ascender aos céus sob as bênçãos de São Severino Cavalcanti, do bispo Rodrigues, de ACM Neto e Rodrigo Maia, paladinos da moralidade. Um importante líder do movimento popular disse ontem que o “neoliberalismo é a explicitação doutrinária do sistema financeiro internacional”. E sobre a política de Lula: “Lula não inventou o neoliberalismo popular, inventou o escapismo popular”. Tem um pastor fundamentalista querendo que o governo de George Bush mande matar Chávez, com o argumento que é mais barato que uma guerra. Chávez foi eleito duas vezes pelo voto direto, ambas com maioria absoluta de votos, recolocado no poder pelos venezuelanos dois dias após um golpe financiado pelos EUA, confirmado por um referendo popular e por maioria absoluta sem margem de dúvidas, vitorioso em mais de noventa por cento dos estados e prefeituras de seu país e favorito para a reeleição. No Brasil, quando aqui esteve, Condoleeza Rice disse que “eleições nem sempre significam democracia”. Acostumou-se à fraude de Miami em 2000, na primeira eleição de Bush e a de Ohio em 2004, na reeleição. Em todas as conversas que tem, principalmente com empresários, Lula fala o diabo sobre manter os fundamentos da economia, evitar o caos, garante a autonomia do médico sanitarista Antônio Palocci na Fazenda, mas nem por um instante discute reeleição. Quando tocam no assunto faz de conta que não é com ele. Hoje, depois das declarações de Tarso Genro, deve estar amaldiçoando a escolha do político gaúcho para o lugar de José Genoíno. No PT, em processo de extinção, a turma de Dirceu está trabalhando para um candidato a presidente e uma chapa diferentes. O esquema você finge que é esquerda, que é contra, que vamos disputar o partido e o governo, no fundo nos ajeitamos. O medo é a perspectiva de vitória de Plínio de Arruda Sampaio. D.Hélder Câmara costumava dizer que as sogras eram eternas injustiçadas. Em boa parte tem razão. Muito boa parte. O trabalhador brasileiro escuta o Lula operário no sábado pela manhã inaugurando um conjunto habitacional e não conhece o Lula do sábado à noite, jantando com a fina flor da direita brasileira, os donos do País.