Paz para a Terra Santa

30/07/2014
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Embora toda a terra seja sagrada porque é expressão do amor divino que fecunda o universo, desde muitos séculos, judeus, cristãos e muçulmanos consideram o território constituído pelas terras hoje ocupadas pelo Estado de Israel e pelo pequeno resto de terra na qual o povo palestino ainda sobrevive como Terra Santa. Ali viveram os patriarcas e profetas da fé bíblica. Ali viveu Jesus de Nazaré, que nasceu como palestino sem terra, trilhou aqueles caminhos como pobre peregrino e ali testemunhou que Deus tem um projeto de paz e justiça para toda a humanidade. Ali nasceram e viveram os primeiros discípulos e discípulas do Cristo que deram origem ao Cristianismo.
 
Do mesmo modo, como um povo indígena guarda como sagrado o território no qual estão sepultados seus ancestrais, a humanidade toda pode ter como sagrada a terra que deu origem a três grandes tradições espirituais da humanidade: o Judaísmo, o Cristianismo e o Islã.
 
Tantos séculos depois, por ingerências de impérios ocidentais, todo aquele território foi ocupado militarmente pelo Estado de Israel. Desde 1948, dos mais diversos países do mundo, judeus migraram para a Palestina e a ocuparam sem levar em conta o povo que vive há milênios naquele território. Já no Antigo Testamento, mil anos antes de Jesus nascer, aquela terra se chamava Canaã, isso é, terra dos cananeus, ou seja, dos palestinos.
 
O Israel bíblico se apropriou da terra com a afirmação religiosa de que “essa terra, Deus a deu aos nossos pais”. Naquele tempo, os israelitas eram hebreus, isso é, nômades, semi-escravizados pelos reis cananeus. Atualmente, o Estado de Israel é um dos países mais armados e repressivos do mundo. Desde 1948, desrespeitou sistematicamente o direito internacional humanitário e foi ocupando, sistematicamente, os territórios palestinos. A cada dia, cria novos assentamentos de colonos judeus nas terras palestinas e, depois, constrói muros para segregar os que não são considerados judeus.
 
Nesses dias, como resposta à morte de três adolescentes judeus (que teriam sido assassinados por algum grupo palestino), Israel joga bombas incendiárias sobre casas, escolas, hospitais e mesquitas do território palestino. Os israelitas usam bombas de fósforo branco, armas com urânio empobrecido e bombas incendiárias, semelhantes ao Napalm usado pelos Estados Unidos na guerra do Vietnã. Essas armas são compradas em países pacíficos como o Brasil, que não fazem guerra, mas vendem armas para que outros as façam (uma das indústrias desse tipo de míssil é em Porto Alegre).
 
Nessa semana, estamos celebrando justamente um século desde o famoso 28 de julho de 1914, em que um terrorista matou o arquiduque Francisco Ferdinando, herdeiro do trono da Áustria. Isso serviu de estopim para o início da primeira guerra mundial. Conforme cálculos da ONU, só essa guerra matou 15 milhões de pessoas. Daqui a poucos dias, (6 de agosto), celebraremos os quase 70 anos do dia em que os EUA jogaram a primeira bomba atômica sobre a cidade japonesas de Hiroshima e dois dias depois sobre a popu-lação civil de Nagazaki. Até hoje, a humanidade inteira tenta se curar dessa chaga terrível.
 
Nesses dias, aumenta a pressão internacional contra o Estado de Israel. Acontecem manifestações da população civil em várias cidades do mundo, em protesto contra os ataques de Israel à população civil dos territórios ocupados. O Conselho Mundial de Igrejas, que reúne 349 confissões cristãs, deu a declaração pedindo imediata secessão dos ataques de Israel nessa guerra desproporcional. O papa já se pronunciou pedindo o fim do massacre. No entanto, não basta deter o genocídio armado. É preciso que se vá até a raiz da árvore e se impeça o Estado de Israel de continuar ocupando militarmente o território dos palestinos. O povo Palestino já teve reconhecido pela ONU e pelos organismos internacionais o direito à sua terra.
 
É importante que essa intervenção humanitária conte com o apoio e a força de todas as correntes espirituais. Na Idade Média, os cristãos fizeram cruzadas para libertar a Terra Santa. Atualmente, não concordamos com cruzadas. Fazemos campanhas e manifestações pela paz e pela justiça. É urgente formar uma opinião pública e ajudar a humanidade inteira a retomar o apelo do papa Francisco e atualizar o grito de Paulo VI na ONU em 1967: “Nunca mais a guerra!”.
 
- Marcelo Barros é monge beneditino em Goiás e escritor. Tem 45 livros publicados, dos quais o mais recente é Boa Notícia para todo mundo (Conversa com o Evangelho de Lucas), Ed. FASE, Recife.
 
31/07/2014
 
https://www.alainet.org/pt/articulo/102080?language=en
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