Marina Silva: É possível servir a dois senhores?
28/09/2014
- Opinión
É lamentável ser obrigado a colocar em evidência o que já deveria ser sabido há muito tempo mas que é sempre ocultado pelos meios de comunicação mais importantes. Em geral se desconhece no Brasil os mecanismos pelos quais o governo dos Estados Unidos e os grupos de interesse organizados a partir daquele pais interveem ativamente na vida política do nosso pais.
Isto é normal, pois a função de centro hegemônico do sistema mundial que este país ostenta o leva a desenvolver mecanismos de intervenção diversificados que atuam sobre vários setores da vida econômica, politica, social e cultural. Veja-se o bombardeio sobre os povos do Oriente Médio neste momento.
Entre estes mecanismos é pouco conhecida a criação de instituições voltadas para a formação e filiação de quadros políticos que se subordinam aos objetivos estratégicos colocados por estas entidades. Trata-se claramente do estabelecimento de um time de ponta a serviço dos poderosos interesses dos capitais nacionais e transnacionais que buscam operar cada vez mais com princípios e objetivos comuns.
Uma destas instituições extremamente influente nas Américas é o Diálogo Interamericano, fundado em 1982. Segundo seu site, ele é “ o principal centro dos EUA de análise politica, intercâmbio e comunicação sobre assuntos do Hemisfério Ocidental”
Quem compôem este diálogo? Responde o website: “Os seletos membros do Diálogo são 100 (destaque meu) cidadãos ilustres de todo o continente americano, incluindo politicos, empresários, acadêmicos, jornalistas e outros líderes não-governamentais. Dos (100!!!, outra nota minha) membros do Diálogo dezesseis (16) serviram como presidentes de seus países e mais de três dezenas (30) serviram ao nível ministerial.”
Há bastante clareza de que estes membros seletos estão articulados com outras redes e atividades que são financiadas por “indivíduos, empresas, governos e fundações que ajudam a apoiar seus programas e fornecer receita operacional essencial”.
Gostaria de assinalar que estas empresas são um grupo de 108 corporações trans-nacionais que estão na lista das 500 maiores empresas do mundo. Também encontramos uma lista de 21 organizações governamentais e não governamentais e 11 fundações. Os leitores interessados nestes “detalhes” dispõem desta lista no site do Diálogo Interamericano. Estes poderosos senhores são membros do 1% de cidadãos do mundo que são proprietários de 47% da riqueza mundial, segundo o Banco Suisso, num excelente estudo recente sobre o tema.
Pois bem, quem são os proeminentes 100 cidadãos do mundo que formam esta “bem intencionada” rede que atrai os recursos destas pontas da “elite” econômica e política mundial. Não nos cabe apresentar em detalhe esta rede aqui, mas podemos perguntar-nos: como farão para compatibilizar eticamente sua militância em organizações politicas nos seus países e sua fidelidade a uma organização com uma clara ambição de exercer um poder mundial a serviço de seus membros financiadores.
Dada nossa preocupação com o processo eleitoral presente no Brasil neste momento, reservamos a apresentar a lista dos membros brasileiros da Aliança Inter americana, segundo a lista oferecida pelo seu website:
Membros Brasileiros:
Fernando Henrique Cardoso (Conselho de Administração - Presidente Emérito). Ex-presidente do Brasil.
Luiz Fernando Furlan. Presidente do Conselho da Fundação Amazônia Sustentável e ex-presidente do Conselho de Administração da Sadia – SA.
Marcos Jank (Conselho de Administração). Diretor Executivo Global de Assuntos Corporativos (responsável pelas áreas de relações governamentais, relações públicas, sustentabilidade e pelo Instituto BRF; responsável também pelos investimentos sociais da empresa) da BRF.
Ellen Gracie Northfleet. Ex-presidente do Supremo Tribunal Federal do Brasil.
Jacqueline Pitanguy. Coordenadora Executiva – CEPIA; Presidente do Conselho Diretor do Fundo Global para Mulher; Membro do Conselho Curador do Fundo Brasil de Direitos Humanos.
Marina Silva. Ex-senadora e Ministra do Meio Ambiente do Brasil.
Roberto Teixeira da Costa. ex-Membro da Diretoria da BNDESPAR.
Jorge Viana.Senator, Partido dos Trabalhadores.
Henrique Campos Meirelles (em licença). Presidente do Banco Lazard Americas.
A presença da candidata a Presidente Marina Silva nesta lista tão seleta pode parecer um arranjo de última hora para influenciar as eleições. Não. A senhora Marina Silva é fundadora desta organização que conta com o ex-Presidente Fernando Henrique Cardoso como presidente emérito. Ele foi presidente desta organização em representação da América Latina enquanto Sol Linowitz (Importante assessor da família Rockfeller) representava os EUA. Nenhuma desta coisas e muitas outras foram divulgadas na imprensa brasileira que noticia tão amplamente as atividades dos cidadãos aqui citados. Isto se deve ao caráter secreto ou reservado destas ações?
Creio que os cidadãos brasileiros têm o direito de ter acesso a este tipo de informação. Creio que deve saber que ninguém chega à disputa do poder político principal de um país como o Brasil sendo um simples “coitado (a)” e que tem atrás dele poderosos interesses políticos, sociais e – sobretudo – econômicos. E está claro que estes interesses são exclusivos da classe dominante do mundo contemporâneo e se algum trabalhador quer votar nestas pessoas ele precisa saber que está traindo os interesses e as necessidades de sua classe de origem.
Mas talvez o leitor prefira escutar a voz do porta voz da Aliança Inter–Americana recém publicado no Latin Post de 18 de Setembro, citando um telegrama da Associated Press::
”If she wins, Silva will be the country’s first black (sic) president, AP reports.
“If elected, she has such a remarkable personal story that she’d come to the presidency with a lot of legitimacy, tremendous excitement and high expectations, Michael Shifter, president of the Washington-based Inter-American Dialogue, said.”
“If elected, she has such a remarkable personal story that she’d come to the presidency with a lot of legitimacy, tremendous excitement and high expectations, Michael Shifter, president of the Washington-based Inter-American Dialogue, said.”
“Se ela ganha, Silva (Marina) será o primeiro negro (sic sobre a origem étnica de Marina) presidente, disse o informe da Associated Press. Se ela for eleita , ela tem uma história pessoal tão marcante que ela levará para a presidência uma grande quantidade de legitimação, uma excitação tremenda e altas expectativas, disse o presidente do Diálogo Inter americano.” O atual presidente da Aliança Interamericana e as centenas de grupos econômicos que a financia, não conseguem ocultar seu entusiasmo.
É POSSÍVEL SERVIR A DOIS SENHORES?
É possível servir a dois senhores? A resposta de Jesus Cristo ao provocador foi muito hábil mas definitiva: “ A César o que é de César, a Deus o que é de Deus.” O cristianismo foi a religião dos escravos e dos explorados pelo Império Romano. O Império Romano esclareceu a opção do Império Romano com a condenação e a execução de Jesus Cristo... No final daquela Era, os cristãos derrotaram o Império Romano e instituir o Império Bizantino.
Esta senhora já tem seu lado. Você vai ajudar seus amigos da elite colocá-la no governo para disporem deste poder a mais no mundo atual. Você vai ajudar a botá-los do poder?
APẼNDICE:
“Latin Post
Sep 18, 2014 12:36 PM EDT
Sep 18, 2014 12:36 PM EDT
Marina Silva to Push Cuba Toward Democracy, Work on Relationship With US if She Wins 2014 Brazil Presidential Race
By Scharon Harding
marina-silva-brazil-2014
A month ago, Marina Silva entered the race to become the president of Brazil, after the candidate from her Socialist Party was killed in a plane crash. Now the candidate, who is in a head-to-head race against the incumbent, has given her first foreign interview since joining the race.
Silva is in a “dead-heat” race with Dilma Rousseff, the incumbent, The Associated Press reports. The incumbent is the candidate for the Workers Party, which Silva helped found.
In her interview, Silva explained how she plans to assuage concerns of Brazilians who lament an ineffective and corrupt political system.
“It’s neither the parties nor the political leaders who will bring about change,” she said. “It’s the movements who are changing us.”
Silva has gained popularity thanks to her past work as an activist for the Amazon rainforest and as an environment minister. During her time as environment minister, she helped her country deter deforestation of its jungles.
“Brazil has a great opportunity to become a global leader by leading by example,” Silva said in reference to environmental and human rights issues. “Our values cannot be modified because of ideological or political reasons, or because of pure economic interest.”
Because of her dedication to human rights, Brazil’s approach toward countries like Cuba, China, Iran and Venezuela may see a different focus if Silva becomes president.
“The best way to help the Cuban people is by understanding that they can make a transition from the current regime to democracy, and that we don’t need to cut any type of relations,” Silva explained. “It’s enough that we help through the diplomatic process, so that these [human rights] values are pursued.”
If elected, Silva also plans to fix the relationship between the U.S. and Brazil. The countries’ relationship has been strained ever since the National Security Agency was found to have targeted Brazilian officials like Rousseff via espionage programs more than a year ago.
“Both nations need to improve this situation, to repair the ties of cooperation,” Silva said. “The Brazilian government has the absolute right to not accept any such interference, but we also cannot simply remain frozen with this problem.”
Brazilians will cast their vote for president on Oct. 5, but the vote is expected to go into a second-round ballot three weeks later.
If she wins, Silva will be the country’s first black president, AP reports.
“If elected, she has such a remarkable personal story that she’d come to the presidency with a lot of legitimacy, tremendous excitement and high expectations,” Michael Shifter, president of the Washington-based Inter-American Dialogue, said.
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Follow Scharon Harding on Twitter: @ScharHar.
A month ago, Marina Silva entered the race to become the president of Brazil, after the candidate from her Socialist Party was killed in a plane crash. Now the candidate, who is in a head-to-head race against the incumbent, has given her first foreign interview since joining the race.
Silva is in a “dead-heat” race with Dilma Rousseff, the incumbent, The Associated Press reports. The incumbent is the candidate for the Workers Party, which Silva helped found.
In her interview, Silva explained how she plans to assuage concerns of Brazilians who lament an ineffective and corrupt political system.
“It’s neither the parties nor the political leaders who will bring about change,” she said. “It’s the movements who are changing us.”
Silva has gained popularity thanks to her past work as an activist for the Amazon rainforest and as an environment minister. During her time as environment minister, she helped her country deter deforestation of its jungles.
“Brazil has a great opportunity to become a global leader by leading by example,” Silva said in reference to environmental and human rights issues. “Our values cannot be modified because of ideological or political reasons, or because of pure economic interest.”
Because of her dedication to human rights, Brazil’s approach toward countries like Cuba, China, Iran and Venezuela may see a different focus if Silva becomes president.
“The best way to help the Cuban people is by understanding that they can make a transition from the current regime to democracy, and that we don’t need to cut any type of relations,” Silva explained. “It’s enough that we help through the diplomatic process, so that these [human rights] values are pursued.”
If elected, Silva also plans to fix the relationship between the U.S. and Brazil. The countries’ relationship has been strained ever since the National Security Agency was found to have targeted Brazilian officials like Rousseff via espionage programs more than a year ago.
“Both nations need to improve this situation, to repair the ties of cooperation,” Silva said. “The Brazilian government has the absolute right to not accept any such interference, but we also cannot simply remain frozen with this problem.”
Brazilians will cast their vote for president on Oct. 5, but the vote is expected to go into a second-round ballot three weeks later.
If she wins, Silva will be the country’s first black president, AP reports.
“If elected, she has such a remarkable personal story that she’d come to the presidency with a lot of legitimacy, tremendous excitement and high expectations,” Michael Shifter, president of the Washington-based Inter-American Dialogue, said.
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Theotonio Dos Santos
Professor Visitante da UERJ, Professor Emérito da UFF, Premio Mundial de Economista
Marxiano 2013 (WAPE), Presidente da Cátedra e Rede da UNESCO sobre Economia Global e Desenvolvimento Sustentável (REGGEN).
https://www.alainet.org/pt/articulo/103759
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