Que século foi esse?

07/12/2000
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Agora sim, chegamos ao final do século XX. Mas que século foi esse? Poderíamos caracteriza-lo de diversas maneiras. Em parte, foi o século da tecnologia. Embora as invenções que mais mudaram a vida das pessoas neste século, vieram do final do século XIX -trem, telégrafo, telefone, avião, rádio- foram ao longo do século que elas se generalizaram, mediante a produção em massa e a socialização do consumo. Foram grandes invenções tecnológicas -como o avião, os tanques, a bomba atômica- os maiores protagonistas das duas guerras mundiais -os maiores massacres do século-, incluindo aí os campos de concentração nazistas e o bombardeio de Hiroshima. Ficou claro que nem tudo o que vem do desenvolvimento tecnológico é positivo e que, na realidade, existe uma realidade, para além da ciência, que define a história dos homens. Isto porque, na realidade, o século XX, mais do que o século da tecnologia, foi o século do imperialismo -ou se se preferir, dos imperiaismos. Começou com as guerras dos Boers- na África do Sul -e dos Boxers- na China -, em que impérios ocidentais decadentes tentavam manter, pela força das armas, seu poderio contra resistências em países da periferia capitalista, vítimas do colonialismo. E terminou com as guerras do Golfo e da Iugoslávia, em que a coalizão de impérios atuais consolidou sua hegemonia mundial. No começo do século Lenin prenunciava que a humanidade havia entrado, pelas mãos do capitalismo, na sua fase imperialista. O mundo inteiro já havia sido apropriado entre as grandes potências e, como a dinâmica do capitalismo é a de expansão constante, cada uma dessas potências só poderia expandir-se à expensa das outras, prognosticando-se assim que se entrava num período de guerras inter-imperialistas. Não deu outra: as duas grandes guerras -na realidade, uma guerra só, iniciada em 1914 e terminada em 1945, com um breve interregno- tiveram esse caráter. A humanidade protagonizou sangrentas matanças, na sua periferia -considerada "bárbara" e "selvagem"-, mas no seu centro, supostamente mais "civilizado". Terminada a segunda guerra, veio a "guerra fria", em que os conflitos abertos no centro do capitalismo foram suspensos por um tempo, simplesmente porque duas super-potências empatavam no seu poderio para destruir-se mutuamente. Quando esse equilíbrio deixou de existir, foi retomada a fase abertamente bélica da dominação imperial, como a década de noventa o demonstrou. A hegemonia norte-americana se consolidou, como a única super-potência mundial. Essa hegemonia é também econômica, política e de meios de comunicação. Mas ela tem na superioridade militar um de seus elementos decisivos. Um dos teóricos atuais do Departamento de Estado dos EUA - assessor de Madeleine Albreghit e, ao mesmo tempo, colunista do New Yort Times-, Thomas Friedman, não deixa barato. Para ele, o McDonald's é a avançada da invasão do capitalismo norte-americano em qualquer lugar do mundo. Mas -confessa ele- o que garante o McDonald's é o McDonall Dougals - isto é, a empresa que fabrica os bombardeiros com que os EUA fizeram as guerras do final do século. Essa é a mão que embala o berço do imperialismo na virada do século. Para ler: "Era dos extremos"- Eric Hobsbawn - Cia. das Letras - São Paulo - 1994 "O longo século XX"- Giovanni Arrighi - Ed. Contraponto - Rio de Janeiro 1994 "Século XX: Uma biografia não-autorizada - O século do imperialismo"- Ed. Fundação Perseu Abramo - São Paulo
https://www.alainet.org/pt/articulo/104990
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