Fórum Social Mundial: um outro mundo é possível
10/01/2001
- Opinión
Fórum Social Mundial: um outro mundo é possível
Frei Betto
Nos próximos dias 25 a 30 de janeiro estarão reunidas, na PUC de Porto
Alegre, mais de 2.000 pessoas, participantes do Fórum Social Mundial. 450
organizações de 77 países já estavam inscritas até novembro. No mesmo
período, em Davos, na Suiça, os ricos do mundo se encontrarão no Fórum
Econômico Mundial.
Desde 1971, os patrocinadores do sistema capitalista reúnem-se em Davos,
sempre no final de janeiro. Ali, trocam experiências, inquietações e
projetos, que visam mercantilizar ainda mais as relações sociais e pessoais.
A partir deste ano, o Fórum Social Mundial fará oposição ao da Suiça,
congregando movimentos e pessoas que emprestam sua voz aos que não têm voz.
O Fórum Social Mundial será um novo espaço de reflexão, debate e planejamento
estratégico para todos que se contrapõem às políticas neoliberais impostas
pelo Consenso de Washington através do Banco Mundial e do FMI, favorecidas
pela queda do Muro de Berlim e a unipolarização do planeta sob hegemonia dos
EUA. De certa forma, o Fórum dará continuidade às mobilizações iniciadas, em
1998, contra o Acordo Multilateral de Investimentos (AMI), e prosseguidas, a
partir de1999, em Seattle (reunião da Organização Mundial Comércio),
Washington (FMI), Praga (FMI e Banco Mundial) e Nice (Comunidade Européia).
Em Porto Alegre, movimentos sociais, sindicatos, ONGs, entidades religiosas e
lideranças mundiais debaterão táticas e estratégicas que visem assegurar os
direitos dos pobres e debilitar as políticas de reajustes que beneficiam os
credores internacionais em detrimento da maioria da população. Não se pode
admitir que só o capital viole fronteiras e soberania nacionais. A
globalização da solidariedade exige que se articule uma imensa rede
internacional capaz de mobilizar quem é sensível aos direitos humanos e à
preservação de Gaia.
Nossos governos precisam estar cientes de que a opinião pública está atenta
às medidas que tomam. Basta atribuir tudo às pressões de fora e à conjuntura
internacional desfavorável. Na verdade, há na América Latina, com exceção de
Cuba e Venezuela, uma cumplicidade endógena com o receituário monetarista do
FMI. Cabe à população exigir contas dessas medidas que salvam governos e
afundam nações, condenando a população a um crescente estado de pobreza.
Segundo o professor Noam Chomsky, o Fórum Social Mundial "proporcionará uma
oportunidade sem precedentes para a união de forças populares dos mais
diversos setores, nos países ricos e pobres, no sentido de desenvolver
alternativas construtivas em defesa da esmagadora maioria da população
mundial, que sofre constantes agressões aos direitos humanos fundamentais. É
uma importante oportunidade para se avançar no sentido de enfraquecer as
concentrações ilegítimas de poder e estender os domínios da justiça e da
liberdade".
Objetivos
As conferências matinais do Fórum Social Mundial visarão resgatar as
alternativas que têm sido formuladas, nos últimos anos, por quem resiste à
lógica do mercado, da especulação e da desigualdade. Além de abrir espaço
para um diálogo entre propostas, a metodologia estimulará organizações de
todo o mundo a proporem, no período da tarde, atividades que debatam em
detalhes temas mais específicos.
As oficinas da tarde abordarão temas como: ALCA, taxa Tobin, Plano Colômbia,
transgênicos, trabalho, saúde, gênero, meio ambiente, variados impactos da
globalização, violência, desenvolvimento sustentável, identidade cultural,
espiritualidade, educação, democracia, universidades, exclusão social,
tortura, discriminação racial, juventude, direitos humanos, direitos
econômicos, sociais e culturais, responsabilidade empresarial social,
voluntariado, drogas, saúde pública, cidades sustentáveis, dívida externa,
cooperação internacional, moradia, orçamento participativo e experiências de
movimentos sociais.
O Fórum Social Mundial pretende ecoar críticas e alternativas ao
neoliberalismo provenientes de vozes sociais e científicas, culturais e
religiosas, ecológicas e políticas. O documento final pretende assinalar que
"Um outro mundo é possível", bem como divulgará as bases consensuais de um
projeto de sociedade planetária sem centralidade no lucro e no mercado,
aberto ao direito de todos aos bens da vida.
Participantes
Já confirmaram presença em Porto Alegre: Graça Machel, ex-primeira-dama de
Moçambique; Eduardo Galeano, escritor uruguaio; Tabaré Vasquez, presidente da
Frente Ampla do Uruguai; José Bové, agricultor francês, porta voz da
Confederação "Paysan"; Nora de Cortiñas, presidente das Mães da Praça de
Maio, da Argentina; Kalaysh Satyarti, coordenador da Marcha Mundial contra o
Trabalho Infantil; Dita Sari, líder do movimento estudantil na Indonésia;
François Chesnais, economista francês; Njoki Njehu, representante da 50 Years
is Enough!; Susan George, escritora e vice-presidente da ATTAC/França;
François Houtart, do presidente do Centro Tri-Continental, da Bélgica;
Daniele Miterrand, presidente da France Libertè; Kevin Danaher, diretor da
Global Exchange; Ariel Dorfman, escritor chileno; Ignácio Ramonet,
presidente-diretor do Le Monde Diplomatique; Eric Toussaint, presidente do
Comitê pela Anulação da Dívida Externa dos Países de Terceiro Mundo; Norman
Soloman, crítico de mídia norte-americana; Yoko Kitazawa, presidente do
Jubileu 2000 do Japão; Vandana Shiva, física, ecofeminista, escritora e líder
do Movimento Internacional pela Preservação do Meio-ambiente e Culturas
Agrícolas Indígenas; Samir Amin, economista egípicio; José Ramos Horta,
líder timorense e Prêmio Nobel da Paz; , Ben Bella, ex-presidente da Argélia;
Nanjunda Swamy, ambientalista indiano;
Do Brasil, participarão, entre outros, Lula, presidente de honra do Partido
dos Trabalhadores (PT) e conselheiro-fundador do Instituto Cidadania; João
Pedro Stédile, da direção nacional do MST; Marina da Silva, senadora;
Sebastião Salgado, fotógrafo; Emir Sader, sociólogo; João Manuel Cardoso de
Mello, coordenador do Departamento de Economia da Unicamp; Oscar Niemeyer,
arquiteto; Leonardo Boff, teólogo; João Felício, presidente da CUT; Tânia
Bacelar, economista; Eduardo Suplicy, senador; Raí, presidente da Fundação
Gol de Letra.
Para quem não participa oficialmente do Fórum, haverá uma série de
programações paralelas em Porto Alegre, através das quais o público poderá
ter contato com as personalidades convidadas.
Mais informações nos sites:
www.forumsocialmundial.org.br
o Escritório de São Paulo: Rua General Jardim, 660 8? andar, CEP 01223-010
São Paulo - SP Fone: (0xx11) 258-8914 Fax: 258-8469. E-mail:
fsm2001@uol.com.br
o Para informações sobre Comitês de Mobilização do Fórum contatar Carlos
Tibúrcio ou Diego Azzi: fsm2001inter@uol.com.br.
EIXO I
A REPRODUÇÃO SOCIAL E A PRODUÇÃO DE RIQUEZAS
1. Como construir um sistema de produção de bens e serviços para todos?
2. Que comércio internacional queremos?
3. Que sistema financeiro é necessário para assegurar a igualdade e o
desenvolvimento?
4. Como garantir as múltiplas funções da terra?
EIXO II
O ACESSO ÀS RIQUEZAS E A SUSTENTABILIDADE
1. Como traduzir o desenvolvimento científico em desenvolvimento humano?
2. Como garantir o caráter público dos bens comuns à humanidade, sua
desmercantilização e o controle social sobre o meio ambiente?
3. Como promover a universalização dos direitos humanos e assegurar a
distribuição de riquezas?
4. Como construir cidades sustentáveis?
EIXO III
A AFIRMAÇÃO DA SOCIEDADE CIVIL E DOS ESPAÇOS PÚBLICOS
1. Como fortalecer a capacidade de ação das sociedades civis e a construção
do espaço público?
2. Quais os limites e possibilidades da cidadania planetária?
3. Como assegurar o direito à informação e a democratização dos meios de
comunicação?
4. Como garantir as identidades culturais e proteger a criação artística da
mercantilização?
EIXO IV
PODER POLÍTICO E ÉTICA NA NOVA SOCIEDADE
1. Quais são os fundamentos da democracia e de um novo poder?
2. Como democratizar o poder mundial?
3. Qual o futuro dos Estados-Nações?
4.Como mediar os conflitos e construir a paz?
COMITÊ ORGANIZADOR - FÓRUM SOCIAL MUNDIAL 2001
ABONG - Associação Brasileira de Organizações Não Governamentais
ATTAC - Ação pela Tributação das Transações Financeiras em Apoio aos Cidadãos
CBJP - Comissão Brasileira de Justiça e Paz, da CNBB
CIVES - Associação Brasileira de Empresários pela Cidadania
CUT - Central Única dos Trabalhadores
IBASE - Instituto Brasileiro de Análises Sociais e Econômicas
CENTRO DE JUSTIÇA GLOBAL
MST - Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra
*Frei Betto, escritor e membro do Conselho Consultivo do Centro de
Justiça Global, falará no FSM sobre "Espiritualidade e Solidariedade".
https://www.alainet.org/pt/articulo/105039
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