Retrato do Brasil

23/11/2001
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Com uma população de 170 milhões, o Brasil conta, hoje, com 54 milhões de pobres, dos quais 21 milhões são miseráveis. Os dados são do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada), ligado ao governo federal, que considera pobres as pessoas que, dividida a renda familiar pelo número de bocas, recebem até um salário mínimo (R$ 180) por mês. Miserável é quem vive com meio salário mínimo ou menos. No Nordeste, vivem na pobreza cerca de 70% da população. O mapa eleitoral do país, que hoje abarca os 116 milhões que elegerão o próximo presidente da República, revela que, quanto mais pobre uma região, maior a possibilidade de ali se eleger um candidato conservador. Vide o Vale do Jequitinhonha. Por que o mais necessitado de mudança vota em quem procura conservar o status quo? Uma professora da USP enfrentou a questão em sua tese de doutorado. Concluiu que um bebê não miserável chora ao sentir fome ou sede e, logo, é atendido. Um bebê miserável chora sem consolo. E, de repente, sem que espere, aparece o alimento. Não quando ele quis, mas quando os pais puderam atendê-lo. Assim, cria-se nele um reflexo behaviorista: não adianta reclamar ou reivindicar; só quem dispõe de recursos é capaz de satisfazer suas expectativas. Por que há tantos pobres num país tão rico como o Brasil? Para o governo, porque o crescimento econômico tem sido abaixo do esperado; é elevada a concentração de renda; e os recursos destinados à esfera social são mal aplicados. Na minha opinião cidadã, acresce-se a isso o monitoramento da economia brasileira pelo FMI, que propõe lei de responsabilidade fiscal, mas nunca a de responsabilidade social. Somados todos os governos - federal, estaduais e municipais - o Brasil investe na área social, por ano, R$ 135 bilhões. Pouco mais de 10% do PIB. Mais da metade é destinado ao pagamento de aposentadorias. Saúde e educação ficam com cerca de 37% dos recursos. É bom não confundir área social com pobres. Boa parte dos recursos vai para o bolso de quem não precisa, como é o caso dos privilegiados do sistema previdenciário, e os investimentos em universidades públicas, cuja maioria de alunos poderia pagar seus estudos. Bem faz a Inglaterra: o aluno paga segundo suas possibilidades e recebe educação gratuita quem tem necessidade. Direito dos pobres, como o seguro-desemprego, só é estendido a uma "elite" dentre eles, aqueles que tiveram carteira assinada, um luxo numa nação em que predomina a economia informal. O programa bolsa-escola do governo federal libera R$ 15 por cada filho estudante da família carente. Nos municípios e nos estados governados pelo PT, o benefício é, em geral, de R$ 45, três vezes mais.
https://www.alainet.org/pt/articulo/105426?language=es
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