Seattle: dois anos que mudaram o mundo

30/11/2001
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A primeira metade dos anos noventa foi o apogeu do neoliberalismo. Reinava o economicismo, o “livre” comercio, a flexibilizacao laboral, o pensamento único, a desregulacao economica, as custas dos direitos, da politica, da moral, dos movimentos e das politicas sociais, do direito e de tudo o mais que se opusesse ao reino do mercado. Isto e, ao reino em que tudo se perde, tudo se ganha, tudo e mercadoria e tem preco. Foi a partir de meados da decada, especialmente com a rebeliao zapatista de 1994, que se iniciou uma reacao que ganhou amplitude inimaginavel. A velha toupeira, depois de acumular insatisfacoes, desencantos, resistencias, aflorou a superficie, num movimento de amplitude e diversidade nunca vistos anteriormente e que so encontraria paralelo nos movimentos de solidariedade com os vietnamitas, entre os anos 60 e70. O movimento aflorou a superficie numa cidade que parecia condenada a ser uma das capitais da pos-modernidade, das sociedades em rede, do livre comercio e da globalizacao liberal – Seattle -, que passou a personificar as lutas de questionamento do pensamento único, do neoliberalismo e de seus organismos – o FMI, o Banco Mundial, a OMC, entre outros. O movimento não parou de crescer e de se estender – dos EUA ao sudeste asiatico, da Europa a America Latina, do leste europeu a Africa, ate encontrar em Porto Alegre seu espaco de formulacao de alternativas ao neoliberalismo, com o Forum Social Mundial. O 11 de setembro deste ano representou uma tentativa de deslocamento da tematica que o movimento iniciado em Seattle representa – a denuncia do carater injusto da ordem economica liberal e a luta por um outro mundo possivel – para tentar encerrar a humanidade nos estreitos limites da oposicao Bush/Bin Laden ou fundamentalismo de mercado versus fundamentalismo islamico. Nem bem ocorriam os violentos atentados nos EUA e se iniciava a não menos violenta reacao norte-americana no Afeganistao, e o Financial Times intitulava: “” Adeus Seattle?””, em que o ponto de interrogacao mal escondia um desejo. No entanto, a mais recatada revista britanica The Economist, que havia preparado um caderno especial para tenter rebater as criticas que haviam colocado a globalizacao liberal na defensiva, resolver publicar o caderno, apesar dos acontecimentos de 11 de setembro ultimo, considerando que o tema continuava atual. Não foi outra a atitude dos organizadores do Forum Economico Mundial (ex-Davos, este ano Nova York) que procuraram os responsaveis pelo Forum Social Mundial de Porto Alegre, para retomar o debate entre os dois mundos antagonicos, iniciado em janeiro deste ano com uma discussao que enterrou o pensamento único ao recnhecer que dois projetos contraditorios disputam hoje a hegemonia no plano internacional. No proximo dia 16 de dezembro, em Paris, no local da Fundacao para o Progresso da Humanidade, se reunirao, de um lado, representantes do FMI, do Banco Mundial, da OMC, por outro, de Attac Franca, do Le Monde Diplomatique, da agencia Inter Press Service (IPS) e do Centro Latino-americano de Ciencias Sociais (Clacso) para definir uma agenda de debates publicos sobre os temas que opoem as duas visoes do mundo. O primeiro deles deve ser dar justamente no mesmo momento em que os dois Foruns se realizarao, desde Porto Alegre e desde Nova York. A opiniao publica mundial podera retomar um debate interrompido pelas explosoes do TWC e de Cabul e que, desde entao, de forma intolerante, violenta e redutiva, tentam reduzir os caminhos do mundo a duas liderancas que se escolhem mutuamente como adversarios privilegiados, de tal forma representam visoes similares do mundo. A construcao de um mundo alterntivo, solidario, humanista, teve em Seattle, há exatamente dois anos atras, sua primeira grande manifestacao ampla e plural. Da sua retomada, no Forum Social Mundial de Porto Alegre, de 31 de janeiro a 5 de fevereiro do ano proximo, depende a possibilidade da construcao de um mundo que não seja a imagem e semelhanca de Bush e de Bin Laden. Geopolitica do terrorismo: Por que sera que um curdo que luta pela independencia do seu povo no Iraque, e considerado um “combatente da liberdade”, enquanto um curdo que luta pela independencia do seu povo na Turquia, e considerado um terrorista?
https://www.alainet.org/pt/articulo/105448
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