Fórum Social Mundial 2002

21/12/2001
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O primeiro encontro do Fórum Social Mundial ocorreu em Porto Alegre, em janeiro de 2001. O segundo está marcado para a mesma cidade, entre os dias 31 de janeiro e 5 de fevereiro de 2002. Do evento de janeiro participarão 18 mil pessoas de 117 países, incluindo 4.702 delegados, 2.000 integrantes do Acampamento da Juventude e 700 do Acampamento das Nações Indígenas. Agora, são esperados cerca de 50 mil participantes. O que pretende o FSM? Sob o lema UM OUTRO MUNDO É POSSÍVEL, afirmar-se como espaço internacional de reflexão e articulação de experiências. Ali, cidadãos e delegados de movimentos sociais, ONGs, religiões e partidos políticos, de todas as partes do mundo, debatem e formulam propostas para uma sociedade solidária e socialmente justa, em que a vida humana, e não o capital, seja o referencial. Com a queda do Muro de Berlim e o fim da bipolaridade entre socialismo e capitalismo, o neoliberalismo procura impor-se, em sua dimensão globalizada, como único modelo de sociedade, agravando as desigualdades sociais e alargando o contingente de excluídos. O FSM integra-se na grande mobilização mundial de questionamento do neoliberalismo e da globocolonização. Soma com as manifestações de protesto, como as ocorridas em Seattle, em 1999, durante o encontro da Organização Mundial do Comércio (OMC); em Washington, contra o Fundo Monetário Internacional (FMI) e o Banco Mundial, no início de 2000; e em Gênova, na reunião do G8, em julho de 2001. Uma das decisões do 1o. FSM foi o de voltar a realizá-lo, nos vários países do mundo, por entidades da sociedade civil. Sua data busca coincidir com a do Fórum Econômico Mundial, onde representantes das grandes empresas transnacionais e governantes definem políticas que salvaguardem seus interesses e ampliem seus lucros. Davos era, até 2001, a sede do FEM. Devido aos problemas de segurança criados pelos atentados de 11 de setembro, busca-se agora uma nova sede para o evento. Organização e caráter O FSM é regido por um Comitê Organizador, e possui um Conselho Brasileiro e um Conselho Internacional (CI), que aprovou, em 10 de julho de 2001, a Carta de Princípios elaborada pelo Comitê Organizador (ver box). O CI é constituído de 42 organizações mundiais. É uma instância ao mesmo tempo política - com a função de contribuir na definição dos rumos estratégicos do FSM - e operacional - ajudando nos trabalhos de mobilização e em outras atividades de caráter organizativo, especialmente nos demais países do mundo. A criação do Conselho Internacional expressa a concepção do FSM como um processo permanente, de longo prazo, que tem por finalidade construir um movimento internacional aglutinador de alternativas ao pensamento único neoliberal, e que proporciona o encontro da multiplicidade e diversidade de propostas. O FSM é mais do que um evento. É um processo de reflexão estratégica coletiva, originado do encontro entre redes, coalizões, campanhas, alianças e movimentos da sociedade civil. Sua programação busca responder a questões que envolvem grandes desafios globais, valorizando a diversidade e as múltiplas possibilidades de se construir um mundo melhor. O sonho, a vontade e a emoção que dão vida ao Fórum, são obtidos centrando os trabalhos nas perspectivas, demandas e propostas de tudo que é emergente e que tem como protagonistas sujeitos concretos em luta por uma civilização solidária. Programação 2002 A programação do FSM-2002 compreende Conferências, com o objetivo de apresentar propostas, plataformas e alternativas discutidas por redes, movimentos e organizações da sociedade civil que lutam contra a globalização neoliberal. Cada conferência é um espaço de debates, construção de consensos e diversidade de propostas. E uma oportunidade de análise e reflexão em torno dos eixos temáticos. As Conferências Especiais visam divulgar as propostas elaboradas em grandes eventos que precederam o FSM-2002 (como o de Havana, sobre Segurança Alimentar, e o Fórum Mundial de Educação de Porto Alegre). A finalidade dos Seminários é permitir a identificação, elaboração e aprofundamento de temáticas específicas, bem como o debate público e a socialização de reflexões estratégicas. Serão propostos prioritariamente por redes/organizações internacionais do Conselho Internacional do FSM. As Oficinas visam abrir espaços para o encontro, a troca de experiências, a articulação, o planejamento e a definição de estratégias de grupos, coalizões e redes. É uma oportunidade de pensar propostas para ações presentes e futuras. Nas oficinas, os participantes poderão formular propostas, assim como nas conferências. As oficinas podem, ainda, ser organizadas em torno dos mesmos temas das conferências. Os Testemunhos trazem ao FSM personalidades de reconhecida trajetória em prol da liberdade e dignidade humanas, apresentando suas experiências, análises e visões. Haverá ainda atos políticos, focados em determinadas campanhas, como o Tribunal de Dívida Externa, e a proposta de uma assembléia sobre a Área de Livre Comércio das Américas (ALCA). Haverá Fóruns especiais como o Fórum de Autoridades Locais e o Fórum de Parlamentares. Estão em discussão um fórum de centrais sindicais e outro de organizações ligadas ao trabalho. Também está sendo discutida a proposta de um Fórum específico sobre a paz, para tratar a questão dos conflitos e sua resolução, buscando dar uma resposta ao cenário provocado pelos atos de terrorismo de 11 de setembro. Na Programação cultural os participantes encontrarão um espaço aberto para eventos culturais que fortaleçam a mensagem e a identidade pública do FSM como evento político-cultural. Os Acampamentos da Juventude e o Indígena desenvolverão programações específicas, abertas à participação geral. Temário O FSM-2002 está organizado em quatro eixos temáticos, os mesmos de sua primeira edição. Eixo I: A produção de riquezas e a reprodução social. Eixo II: O acesso às riquezas e a sustentabilidade. Eixo III: A afirmação da sociedade civil e dos espaços públicos. Eixo IV: Poder político e ética na nova sociedade. As conferências versarão sobre os seguintes temas: Comércio mundial; Corporações multinacionais; Controle de capitais financeiros; Dívida externa; Trabalho; Economia solidária; Acesso às riquezas; Saber, propriedade intelectual; Medicamentos, saúde e Aids; Sustentabilidade ambiental; Água, bem comum; Povos indígenas; Cidades, populações urbanas; Combate à discriminação e à intolerância; Democratização das comunicações e da mídia; Produção cultural, identidade; Perspectivas do movimento global da sociedade civil; Cultura da violência, violência doméstica; Organismos internacionais e arquitetura do poder mundial; Migrações, tráfico de pessoas e refugiados; Democracia participativa; Soberania, nação e estado; Luta pela paz, contra o militarismo e o complexo industrial-militar; Princípios e valores na nova civilização; Direitos humanos (econômicos, sociais e culturais). Metodologia Os puxadores das conferências - uma rede, uma coalizão, uma campanha ou uma combinação entre elas - elaboram previamente suas propostas de conferências, com justificativas e análise de fundamentação. Os (as) debatedores (as) de cada conferência terão o papel de colaboração crítica, dissecando as possibilidades e os limites das propostas apresentadas pelos puxadores, ou, ainda, apontando propostas novas e sugerindo outras abordagens e análises. O animador ou animadora terá um papel chave na conferência. A animação deve trazer organicidade aos trabalhos, facilitando a articulação de todas as contribuições e levando a conferência a uma direção essencialmente propositiva. Quem organiza o Fórum Social Mundial Oito entidades participam do Comitê Organizador do FSM: ABONG - Associação Brasileira de Organizações Não Governamentais; ATTAC - Ação pela Tributação das Transações Financeiras em Apoio aos Cidadãos; CBJP - Comissão Brasileira Justiça e Paz, da CNBB; CJB - Centro de Justiça Global; CIVES - Associação Brasileira de Empresários pela Cidadania; CUT - Central Única dos Trabalhadores; IBASE - Instituto Brasileiro de Análises Sociais e Econômicas; MST - Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra. Frei Betto é escritor, autor, em parceria com Emir Sader, de "Contraversões - civilização ou barbárie na virada do século" (Boitempo), entre outros livros.
https://www.alainet.org/pt/articulo/105495
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