Fé e politica

16/07/2003
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Cerca de 4 mil pessoas estarão participando do 2º encontro nacional do Movimento Fé e Política, em Poços de Caldas (MG), de 15 a 17 de março. Temas como Projeto alternativo de poder, Ética na política e Mística na política serão tratados por Patrus Ananias, ex-prefeito de Belo Horizonte; Maria Victoria Benevides e Plínio de Arruda Sampaio, cientistas políticos; dom Demétrio Valentim, da CNBB, e Margarida Ribeiro, pastoral da Igreja metodista. Lula; João Pedro Stédile; Chico Alencar, deputado estadual (RJ); o economista Marcos Arruda; o monge beneditino Marcelo Barros; Paulo Tadeu, prefeito de Poços de Caldas, e Maria do Carmo Silva, prefeita de Araçuaí (MG), darão testemunhos de como conciliam em suas vidas a fé e a política. A arquidiocese de São Paulo também promove, neste ano eleitoral, os Encontros de Cidadania e Política. Os temas enfocados serão: Interdependência dos poderes (6/4); Políticas públicas e planos de segurança pública (4/5); Palavra de Deus e ação política (8/6) e Atuação política no terceiro setor: profissionalismo e voluntariado (6/7). Neste mês, a Comissão Nacional de Justiça e Paz da CNBB lançará em cartilha a versão popular do documento dos bispos sobre as eleições deste ano, divulgado em dezembro passado. A Igreja católica, no que concerne às eleições, não se posiciona partidariamente, mas por razões pastorais, iluminando os fiéis à luz dos valores evangélicos. Já não faz sentido reeditar a LEC (Liga Eleitoral Católica), que nos anos 30 apresentava listas de candidatos abençoados pela hierarquia. Nem apoiar partidos confessionais, como o Partido Democrata Cristão, que jamais vingou no Brasil. Uma das conquistas da modernidade é a separação entre as instituições política e eclesiástica. No entanto, a Igreja católica não abre mão de defender a vida, e denunciar quando este dom primordial de Deus é ameaçado. Se, por vezes, há conflitos com o Estado, como ocorreu na ditadura ou, recentemente, na interrupção do diálogo entre autoridades federais e líderes do MST, é porque a Igreja, na linha da opção preferencial pelos pobres, coloca-se como voz dos que não têm voz. Daí a pertinência da questão indígena como tema da Campanha da Fraternidade deste ano. Em abril, a CNBB pretende reativar a campanha contra a fome e a miséria, mobilizando recursos para enfrentar as dificuldades do semi-árido do Nordeste e, em setembro, na Semana da Pátria, promoverá o plebiscito sobre a ALCA, a exemplo do que fez em 2000 em relação à dívida externa. A quem julga que a Igreja extrapola de sua função espiritual ao tratar de política, convém lembrar que, neste mundo, o espírito não existe sem o corpo, e que todos os cristãos são discípulos de um prisioneiro político. Jesus não morreu de hepatite na cama nem de desastre numa rua de Jerusalém. Foi assassinado sob dois processos políticos, pois sua mensagem espiritual nada tinha desse tom angélico conveniente a quem faz da religião um mero antídoto às angústias subjetivas. Fermento na massa, a palavra de Jesus desestabilizou a ordem daqueles que manipulavam a religião para oprimir sobretudo os pobres, com os quais, aliás, o Nazareno se identifica no capítulo 25 do evangelho de Mateus. Se a fé exige o amor como preceito supremo, a política é a ferramenta capaz de tornar possível a globalização da solidariedade, na expressão de João Paulo II. Frei Betto é escritor e assessor de movimentos pastorais e sociais, autor do romance "Hotel Brasil" (Atica), entre outros livros.
https://www.alainet.org/pt/articulo/105679
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