Porto Alegre, até logo!
30/01/2003
- Opinión
O movimento que desembocou no Fórum Social Mundial de Porto Alegre teve seu
momento fundador no grito zapatista, em 1994, pela lucha internacional de
resistência ao neoliberalismo e sua primeira grande formulação programática no
editorial de Ignácio Ramonet do Le Monde Diplomatique, de 1997, chamando à luta
contra a ditadura do "pensamento único". Quando representantes de ONGs
brasileiras buscaram a Bernand Cassen, do Le Monde Diplomatique e de Attac, para
propor um Fórum anti-Davos, levaram a idéia de que fosse realizado na Europa.
Cassen imediatamente aceitou a proposta, mas indicou que ele deveria realizar-se
na periferia do capitalismo – no mundo "globalizado"-, no Brasil, pela
importância que a esquerda assumia aqui e em Porto Alegre, pelo sucesso das
políticas de orçamento participativo.
Foi assim pelo sucesso de uma política pública que Porto Alegre fui guindada a
"capital mundial da esperança" e sede permanente do Fórum Social Mundial, para
reunir a todos os que se opõem ao neoliberalismo e lutam por "um outro mundo
possível". Ainda durante o primeiro Fórum Social Mundial, o então comitê
organizador (composto por seis ONGs, pela CUT e pelo MST) havia decidido
majoritariamente que não haveria um segundo Fórum em Porto Alegre. Foi
necessário ampliar o debate para o conjunto do Fórum para que se expressasse um
sentimento unanimemente contrário a essa decisão, que terminou triunfando: foi
aprovado que o II. Fórum Social Mundial se realizasse em Porto Alegre.
Na reunião do Conselho Internacional do Fórum novamente o comitê organizador
brasileiro desejava que não se realizasse o III. Fórum Social em Porto Alegre e
que o Fórum se realizasse a cada dois anos. Foi de novo unanimemente derrotado
pelo Conselho Internacional, que decidiu que o Fórum é um processo de acumulação
para a construção de um projeto hegemônico alternativo ao neoliberalismo, que
nessa qualidade se reunirá anualmente, além da realização de Foruns regionais e
temáticos e que Porto Alegre será sua sede permanente. O III. Fórum se
realizaria em Porto Alegre, em 2004 iria para a Índia e retornaria a Porto
Alegre em 2005, como faria sempre, tendo a capital gaúcha como sua sede
permanente, incorporando-a seu nome – Fórum Social Mundial de Porto Alegre -
ainda quando não se realize aqui.
Estas decisões foram tomadas em janeiro de 2002, muito antes portanto das
mudanças trazidas pelas eleições, tanto no plano federal quanto estadual. Este
ano o Conselho Internacional, reunido antes do III. Fórum Social Mundial
reiterou essas decisões. Para caminhar no processo de internacionalização do
Fórum se decidiu – corretamente, na minha opinião – que o próximo Fórum se
realize na Índia, retornando em 2005 à sua sede permanente – Porto Alegre.
Além da sua internacionalização, o Fórum Social Mundial tem que caminhar na
direção da sua politização, isto é, de ter alternativas globais aos grandes
problemas do mundo e de sua democratização, isto é, que amplie e torne
transparentes para todos suas decisões, fazendo com que o conjunto do Fórum
discuta o Fórum.
O "Wall Street Journal" se havia apressado em dizer "Porto Alegre, adeus" em um
editorial, logo depois dos atentados de setembro de 2001 - querendo encerrar o
mundo na alternativa Bush/Bin Laden. Nós, ao contrário, reafirmando que "um
outro mundo é possível", dizemos a Porto Alegre: "- Até logo, obrigado por
tudo". E principalmente "- Até sempre", porque Porto Alegre é nossa sede
permanente, a permanente capital da esperança.
https://www.alainet.org/pt/articulo/106870
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