A caminhada da humanidade pela Paz

17/02/2003
  • Español
  • English
  • Français
  • Deutsch
  • Português
  • Opinión
-A +A
Nos mais diversos e longínquos pontos do mundo, a cada dia, aumenta o número de pessoas e grupos que protestam contra a iminência da guerra do governo americano e seus aliados contra o Iraque. Desde que no sábado, dia 15, milhões de pessoas se manifestaram em mais de cem países, contra a guerra e pela paz, ficou claro que o conjunto da humanidade não aceita os pretextos usados pelo presidente Bush para levar o mundo a mais uma guerra assassina. O Conselho Mundial de Igrejas que reúne mais de 340 Igrejas pronunciou-se contra a guerra. O papa João Paulo II e as conferências dos bispos católicos da Europa e dos Estados Unidos escreveram: Não há nenhuma razão para a guerra . Cidadãos do mundo inteiro e crentes de diversas religiões se encaminham para o Iraque para, com o seu próprio corpo, defender os iraquianos, há dez anos prejudicados pelo bloqueio americano O papa enviou a Bagdá o cardeal Roger Etchagaray como seu representante e, nestes dias, o cardeal está visitando comunidades e tenta confortar a população civil. Das milhares de declarações contra a guerra, emergem alguns pontos comuns: 1. Toda guerra é absurda, mas a iminente invasão ao Iraque é uma das mais absurdas e covardes de que se tem notícia. A maior potência militar e econômica do planeta contra uma nação em frangalhos e empobrecida por mais de dez anos de bloqueio, cuja desgraça, paradoxalmente, é viver sobre um mar de petróleo em seu subsolo, excitando, assim, a cobiça dos países poderosos e, particularmente, de George Bush, que foi eleito com o dinheiro das empresas petrolíferas para expandir o poderio americano através do poder econômico. As reservas americanas deste combustível estratégico estão no final e esta é a única razão verdadeira para os Estados Unidos invadirem o Iraque. A irmã Sharine, religiosa dominicana iraquiana que participou do 3 Fórum Social Mundial, declarou: Há oito anos, diariamente, os Estados Unidos atacam o Iraque. O exército americano bombardeou os campos iraquianos com todo tipo de vírus e acabou com a agricultura nacional. O governo americano utilizou armas químicas em seus bombardeios contra o Iraque. Muitos iraquianos, sobreviventes dos ataques de 1990, sofrem câncer porque os aviões americanos jogaram urânio empobrecido sobre o nosso país. Bagdá, a capital, tem oito milhões de habitantes, dos quais 70% vindo do interior, sem emprego e dependendo de cesta básica do governo para não morrerem de fome. Na capital, praticamente não existe mais água potável, por causa dos bombardeios químicos que contaminam a água. 2. Esta guerra, injusta e absurda, deverá lançar o mundo inteiro em uma nova e maior espiral de violência e de terror. O governo do Iraque diz claramente que, se atacado, atacará Israel. O governo de Israel garante que se vingará nos palestinos. Grupos radicais palestinos ameaçam encher o próprio corpo com explosivos e suicidar- se matando muita gente inocente em centros comerciais, estações rodoviárias e aviões ocidentais. Desde o primeiro ataque, ao menos oito países estarão envolvidos diretamente nesta guerra que poderá se transformar em um conflito mundial. 3. O mais preocupante é que esta guerra poderia ser evitada através da diplomacia internacional. Mas parece que as maiores potências militares querem testar seu arsenal de destruição e organizações internacionais como a ONU têm se revelado impotentes ou omissas. Grupos civis de países como o Canadá estão propondo que a ONU estabeleça uma comissão de investigadores para percorrer instalações militares nos Estados Unidos e verificar que é o governo americano que mantém armas de destruição de massa, mais do que o Iraque ou e do que qualquer outro país no mundo. Afinal, foram os americanos e não os iraquianos ou russos, os únicos seres humanos que jogaram as duas bombas atômicas que foram detonadas na história. E até hoje Hiroshima e Nagasaki podem contar o que continuam sofrendo como herança dessa história. Não seria, portanto, a primeira vez. Com o poder destruidor das armas atuais, poderá ser a última. Há ainda nesta guerra um elemento novo. Nunca antes, as Igrejas e religiões juntas proclamaram com tanta força e clareza sua oposição radical à guerra. Por todo o mundo está circulando um manifesto escrito por teólogos e teólogas, cristãos e cristãs de diferentes Igrejas: Em nome de Deus que é Amor, defendemos a paz que se deve construir desde os fundamentos da justiça e da solidariedade. A guerra nunca é solução de problemas. Nós nos opomos a qualquer resolução das Nações Unidas que justifique a guerra. Em nome do preceito divino Não matarás , protestamos contra o uso do nome de Deus para justificar o emprego da violência, denunciamos uma espécie de teologia da segurança nacional que divide o mundo entre bons e maus. Em nome do Deus da Tolerância, defendemos a paz e o diálogo entre religiões como alternativa ao choque de culturas e civilizações. Através do diálogo, as religiões podem colaborar positivamente na construção de uma sociedade multi-religiosa, multi- cultural e multi-étnica. Convidamos todas as pessoas de boa vontade a entrarem nesta grande corrente da humanidade pela paz e não- violência. Podemos não conseguir evitar esta guerra monstruosa, mas colaboraremos para, daqui por diante, estabelecer no mundo uma nova cultura de convivência humana, respeitosa de toda a vida e que reconhecerá a presença divina em todo caminho e esforço de paz.
https://www.alainet.org/pt/articulo/106981?language=en
Subscrever America Latina en Movimiento - RSS