Lixo na alma

23/02/2003
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Falamos muito de lixo orgânico, químico etc. E também da importância da reciclagem, pois na natureza, como observou Lavoisier, nada se perde, tudo se transforma. Quero chamar a atenção para o lixo que corrói a alma: certos programas da TV aberta. Quando eu era adolescente e me dirigia ao centro de Belo Horizonte, meu pai recomendava não passar por determinadas ruas, onde ficava a zona boêmia. Como dizer isso hoje a seu filho? Basta ele apertar o monitor e o bordel é despejado no quarto ou na sala. Pornografia e violência, eis as fórmulas hipnóticas do entretenimento. Cultura é tudo aquilo que engrandece o espírito e a consciência. Cria discernimento e serve de antídoto ao consumismo. Por isso, a TV aberta prefere emitir entretenimento, que seduz os sentidos e nada acresce à subjetividade. O domingo, então, é o Dia Nacional da Imbecilização Geral. E o pior é que eles avisam: "Sai de baixo!" E a gente não sai. "Cuidado, alta tensão!" E a gente fica grudado na telinha. Na segunda-feira, acordamos todos com ressaca espiritual Urge promover uma campanha nacional de despoluição televisiva. Pesquisa da Unicef, divulgada em maio de 2002, revelou que os jovens brasileiros passam cerca de 3h55m por dia de olho na TV. Quase dois meses por ano! E o que assimilam como valores, espírito crítico, paradigmas e educação da subjetividade? É hora de a sociedade civil intervir na qualidade da programação televisiva, a começar por pressionar as empresas patrocinadoras. Pouco adiantam os nossos esforços para formar cidadãos se a TV aberta só quer saber de formar consumidores. O lixo na alma contamina e é capaz de imbecilizar uma nação. * Frei Betto é autor de Lula, um operário na presidência
https://www.alainet.org/pt/articulo/107023
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