A "mãe das bombas", novo desafio
17/03/2003
- Opinión
Os Estados Unidos apresentaram nos últimos dias a "mãe de todas as
bombas". Última versão das armas convencionais, é a novidade da nova guerra
americana, prestes a ser desencadeada contra o Iraque. Não é uma guerra,
estrito senso, mas um massacre, pela evidente desproporção da força do
agressor com a capacidade de defesa dos agredidos. São 300 mil soldados
concentrados na fronteira sul do Iraque, além de centenas de aviões e
belonaves prontos para atacar o país árabe. Prosseguem as pressões
políticas, diplomáticas e a chantagem econômica tendo em vista obter a
aprovação da Turquia para que seu território seja usado como cabeça de
ponte para invadir o Iraque pelo norte.
Sinal dos tempos é a sem-cerimônia, a verdadeira desfaçatez com que o
novo artefato foi exibido em todos os noticiários televisivos. O script era
o de um anúncio de brinquedo ou de algum novo utensílio de uso doméstico ou
profissional. Já na primeira guerra do Golfo, em 1991, as bárbaras
operações aéreas foram comparadas a um "game". Agora, a "mãe de todas as
bombas", último modelo de armas convencionais de destruição em massa, é
apresentada como a possibilidade de evitar a guerra. Artefato de morte,
meio de agressão, suas imagens são difundidas com o apelo ao povo
Iraquiano, ao Partido Baath, ao governo de Saddam, aos generais e
suboficiais do Exército, para que cedam e o ataque não acontecerá. O
roteiro televisivo que tem como personagem a "mãe das bombas" encontra
correspondência na mudança de linguagem típica da nova fase de domínio
imperialista, em que os Estados Unidos processaram uma deriva belicista na
política externa. Nunca se falou com tanta naturalidade de guerra, que
passa a se incorporar ao cotidiano das pessoas como ato de rotina,
procedimento normal da Administração de um governo imperial.
Na guerra em preparação, os Estados Unidos já emitiram todos os
sinais de que não voltarão atrás. Encontram-se numa escalada e não
pretendem renunciar aos seus planos belicistas. Mas sabem que ao detonar a
primeira bomba e ordenar a entrada de suas tropas em território árabe,
estarão abrindo "a porta do inferno" e pagarão um altíssimo preço em vidas
humanas. A batalha de Bagdá, se houver, custará caro aos EUA.
É sólida também nos círculos dominantes em Washington de que crescerá
o isolamento do governo estadunidense no mundo se se recorrer ao uso da
força sem autorização do Conselho de Segurança das Nações Unidas. Daí a
tentativa de fazer o Iraque ceder sem luta, na verdade capitular, e de
construir uma maioria forçada, extraída na base de chantagens, pressões
econômicas e até de ameaças militares contra os países membros do Conselho.
A "mãe das bombas" não vai mudar a posição de quem está disposto a
resistir. Não vai mudar o voto, nem o veto de quem já se posicionou contra
a guerra. Apagada ou desferida, nos estoques do Pentágono ou explodindo
mega-toneladas, semeando destruição e morte, a "mãe das bombas" é também um
desafio. A que os povos se unam em torno da bandeira da paz, combatam a
guerra imperialista e detenham a mão assassina do imperialismo.
Ultimamente,como uma espécie de reação aos protestos multitudinários contra
a guerra americana e uma tentativa de silenciar vozes discordantes do curso
aventureiro do governo Bush, de gente como o ex-presidente Jimmy Carter e o
escritor Noran Mailler, começou-se a brandir o antiamericanismo. É mais
adequado mencionar o antiimperialismo em crescimento em todo o mundo,
inclusive da parte consciente do povo norte-americano, que com sua negativa
à guerra de Bush se incorpora à grande frente dos povos.
* José Reinaldo Carvalho. Jornalista. Vice-presidente nacional do PCdoB,
responsável pela Secretaria de Relações Internacionais do Comitê Central.
https://www.alainet.org/pt/articulo/107110
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