Crescer é para dentro
03/07/2003
- Opinión
Para os que gostam de ler e obedecer ao "mercado", mas
para todos em geral, o recado é claro: a economia
internacional está em recessão profunda e prolongada. Não
adiante fazer-lhe afagos, porque não virá nada que se
pareça a investimentos, empréstimos, incentivos à
reativação econômica. Ao contrário. Se quiserem voltar a
crescer, os países – especialmente os da perifieria
capitdalista, como o nosso – têm que se apoiar na expansão
do mercado interno.
A análise do economista conservador Martin Wolf no
"Financial Times" deste semana é clara: todas as medidas
monetárias dos bancos centrais dos países centrais do
capitalismo, a começar pelo Federal Reserve dos EUA, têm
se mostrado ineficientes para reativar a economia desses
países. Como diz o relatório anual do Banco de
Compensações Internacionais (BIS): "O último ano foi
marcado por decepções econômicas. Isso surpreendeu a
muitos, dado o alto grau de estímulo monetário aplicado em
grande parte do mundo. Na verdade, esse padrão de
expectativas irrealizadas vem sendo a norma há pelo menos
dois anos."
Pode-se apelar para causas precisas, dos escândalos de
grandes empresas aos atentados de 2001, da crise argentina
à guerra do Iraque, da Sars a qualquer outro escândalo
novo, apelos que Wolf considera "ladainhas desesperadas",
diante do fenômeno central: a economia dos EUS, que havia
sido, sozinha a locomotiva do capitalismo mundial na
década passada, esgotou seu combustível, sem que nenhuma
outra economia assuma seu lugar. Deu-se o que o economista
marxista belga Ernest Mandal previa há tempos – a
simultaneidade da crise nos três principais eixos do
sistema capitalista mundial: EUA, Europa ocidental e
Japão.
Qualquer análise que se faça da economia norte-americana
conclui que a recessão veio para ficar e se instalou de
maneira profunda naquele país, com todas as conseqüências
internacionais que o peso dessa economia produz, pelo peso
que assumiu. A possibilidade de retomar o crescimento
para os outros países é "gerar um crescimento da demanda
bem acima do seu potencial". Porém o próprio Wolf
constata: "Mas essa mudança vem sendo reprimida, porque os
governos impedem o movimento necessário das taxas de
câmbio e porque as autoridades não estão promovendo a
demanda doméstica." E ele conclui: "Se esse quadro não
mudar, alguns poucos anos decepcionantes podem facilmente
se tornar uma década desastrosa."
A contribuição brasileira para essa década desastrosa tem
a ver diretamente com as taxas de juros reais
estratosféricas que se continua a praticar. O recado é
claro, para quem não está surdo à realidade: se quisermos
crescer, só na direção do mercado interno, elevando o
poder de compra da massa da população, redistribuindo
renda, fazendo reforma tributária redistributiva,
estendendo e não restringindo direitos sociais. Está nas
mãos do governo, enquanto é tempo. Senão, tente-se dormir
com uma taxa de juros dessas.
https://www.alainet.org/pt/articulo/107817
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