Fé e política

07/03/2002
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Goiânia sediará, em 20 e 21 de setembro, o 3º encontro nacional do Movimento Fé e Política. O primeiro ocorreu em Santo André (SP), em dezembro de 2000, reunindo cerca de 3 mil pessoas. O segundo, em março do ano passado, atraiu a Poços de Caldas (MG) 4,5 mil participantes. Em Goiânia, aguardam-se 7 mil pessoas. Nascido há duas décadas, o Movimento Fé e Política é ecumênico, aberto, destinado a propiciar aos cristãos engajados na política um fórum de debates no qual possam nutrir sua vida de fé e sua atuação transformadora da sociedade. Muitos vinculam-se às Comunidades Eclesiais de Base (CEBs), onde despertaram para a dimensão social da fé. Alguns tornaram-se políticos profissionais, e a maioria insere-se em movimentos sociais. São conscientes da importância de fermentar a realidade com os valores evangélicos. Além de servir de antídoto ao fundamentalismo, que sacraliza a política, e ao secularismo, que ignora o papel da religião na vida social, o Movimento Fé e Política alimenta o aprofundamento bíblico, teológico e pastoral quanto à relação entre as duas esferas. "Nada mais político do que afirmar que a religião nada tem a ver com a política", alertou Gandhi. Todos nós, cristãos, somos discípulos de um prisioneiro político. Jesus não morreu doente na cama, nem atropelado por bigas nas ruas de Jerusalém. Preso, torturado e assassinado na cruz, ele padeceu sob dois processos políticos. Sua mensagem era fermento na massa e questionava as estruturas sócio-econômicas descentradas da defesa e da promoção da vida como valor absoluto, sem distinção de classe. Toda religião é política, na medida em que visa religar (daí o termo 'religião') cada pessoa a Deus que a habita, aos semelhantes e à natureza. São Tomás de Aquino alertava que não se pode exigir a prática das virtudes de quem passa fome. Jesus incluiu entre as bem-aventuranças a fome de justiça. No Magnificat, Maria cantou a sua visão de Deus: Aquele que sacia de bens os famintos e despede os abastados com as mãos vazias, derruba os poderosos de seus tronos e exalta os humildes (Lucas 1,46-55). "Conquistar a Terra Prometida", eis o tema do evento de Goiânia, a ser aberto, na manhã de sábado, por Pedro Wilson, prefeito da cidade; dom Tomás Balduíno, presidente da Comissão Pastoral da Terra; e Gilberto Carvalho, chefe de gabinete do presidente Lula. Carlos Rodrigues Brandão, antropólogo, e Roseli Caldart, educadora do MST, dividirão o painel "Caminhar com os pés na terra". Darão testemunho Maria Junqueira, das CEBs; Antonio Cechin, educador popular; e Erialdo Pereira, da escola Família Agrícola. À tarde, o painel "Salvar a vida na Terra" contará com a participação de Marina Silva, ministra do Meio Ambiente, e Leonardo Boff, teólogo. Os testemunhos ficarão por conta do MST; de Lúcia Ivani, educadora ambiental; e Agnaldo Santos, pataxó hã-hã-hãe. À noite haverá apresentação cultural. No domingo, após a meditação e a dança circular sagrada, o painel "Novo céu e nova terra" reunirá Jether Ramalho, teólogo protestante, e eu. Para os testemunhos estão convidados Sérgio Alberto Dias, coordenador do Orçamento Participativo de Goiânia; Ivoni Reimer, pastora evangélica; e Luiz Inácio Lula da Silva, presidente da República. Lula participou dos dois encontros anteriores. O evento culminará com a celebração do envio. Os interessados podem se inscrever pelos emeios: mov.fepolitica@uol.com.br ou fepolitica.go@cultura.com.br * Frei Betto é escritor, autor do romance "Hotel Brasil" (Ática), entre outros livros.
https://www.alainet.org/pt/articulo/107917?language=es
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