Enfraquecimento dos EUA levam a aumento da desordem global

07/09/2003
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Dois anos depois dos atentados de Nova York e de Washington, os EUA são mais fortes ou mais fracos? A vulnerabilidade de segurança que permitiu os atentados poderia levar a pensar que são mais fracos. Porém, a fulminante resposta do governo norte-americano no ataque e ocupação do Afeganistão e na derrubada posterior do governo de Sadam Hussein no Iraque revelam que a capacidade de ação dos EUA é irresistível e que os objetivos militares que se propôs foram cumpridos. Assim, do ponto de vista militar, se pode dizer que os EUA consolidaram sua predominância mundial. No, entanto, ao contrário do que manda a mentalidade predominante no governo Bush, à força política não corresponde necessariamente uma força política. O preço a pagar por Washington ter agido unilateralmente na invasão do Iraque é uma demonstração a mais de que se pode fazer tudo com as baionetas, menos sentar-se sobre elas. Esse preço é mensurável na necessidade do governo dos EUA de solicitar apoio da ONU, depois de ter negligenciado totalmente o papel do organismo, assim como ter que solicitar até mesmo à França, auxílio militar e econômico. A negativa de Paris e de Berlim de participar da empreitada, sem a correspondente partilha das decisões políticas é resultado da ação unilateral dos EUA, que ao mesmo tempo acentua a recessão interna com a quantidade elevada de recursos que têm que voltar para a defesa e a reconstrução do Iraque. Os EUA são portanto militarmente mais fortes, mas politicamente estão mais isolados do que em 2001. Mas se fazermos a pergunta – quem se fortalece com esse enfraquecimento norte-americano? -, podemos enfocar a correlação de forças mundial na sua devida medida. Porque o predomínio de uma nação está baseado numa correlação de forças, isto é, na relação entre a força da potência dominante e das outras, potencialmente adversárias. Nesse sentido, a força norte-americana atual se baseia, antes de tudo, na desaparição da outra potência mundial – a URSS -, assim como no enfraquecimento do Japão e da Europa. Os EUA são mais fracos do que foram nas décadas anteriores à crise dos anos 70, mas têm hoje uma situação mais favorável – pelas razões mencionadas – do que naquele período. O enfraquecimento dos EUA não é capitalizado pela Europa, dividida como se encontra e sem líderes que tenham uma postura de construção de uma hegemonia alternativa à norte-americana, nem pelo Japão. Em vários ramos da economia a capacidade competitiva norte- americana é menor do que a européia ou a japonesa, mas no seu conjunto, com potência imperial, com força econômica, política, militar, tecnológica, ideológica e propagandística, os EUA não encontram nenhum adversário à altura. Seu enfraquecimento leva mais ao aumento da desordem mundial, conforme o papel explícito de polícia do mundo que se atribuem têm cada vez menor possibilidade de ser colocado em prática. Esse deve ser o panorama mundial pelos próximos anos, conforme os atuais protagonistas não revelam capacidade de aglutinação para construir uma hegemonia alternativa. Podemos esperar então um mundo mais desordenado, violento, caótico, conforme os EUA perdem capacidade de consenso e a substituem pelo uso da força e por um discurso militarizado.
https://www.alainet.org/pt/articulo/108325
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