Transgênicos? Não
18/09/2003
- Opinión
Transgênicos resultam da transferência e alteração de genes de um
ser vivo (vegetal, animal, ser humano, microorganismo) ao outro
com o propósito de torná-lo mais saudável, produtivo e mais imune
a pragas e a bactérias.
A questão é altamente polêmica e envolve várias instâncias: os
produtores, o mercado, os consumidores, a pesquisa, o poder
público e a ética.
Produtores querem transgênicos, alegando dimuição de custos e
aumento da produtividade com a vantagem de criar sementes mais
resistentes a pragas. A crescente demanda mundia por alimentos
reforçaria esse propósito.
O mercado busca ganhos. Algumas empresas mundiais (cinco ao todo)
produzem sementes transgênicas que vão lentamente substituindo as
naturais (erosão genética). Mas acabam monopolizando o mercado de
sementes (uma delas controla 90%), tornando os produtores
economica e tecnologicamente dependentes.
Os consumidores relutam em consumir alimentos geneticamente
modificados por recearem consequências sobre a saúde no presente e
no futuro. Levantamentos feitos dão conta de que mais de 60% da
população européia é contra o consumo de transgênicos.
A pesquisa, ciosa de sua liberdade, continua a penetrar no segredo
da vida, desvendando possibilidades novas para a saúde e a
longevidade, advindas da biotecnologia.
O poder público fica perplexo, ora sob a pressão dos grandes
capitais e do mercado, ora das afirmações contraditórias de
cientistas, afirmando uns a biosegurança alimentar e ecológica dos
transgênicos, insistindo outros que não dispomos de investigações
conclusivas sobre seus riscos à saúde e ao meio ambiente. Que
decisão tomar? Sua missão é cuidar do bem comum e resistir às
pressões.
Em sua decisão, o poder público, instância delegada do poder
popular, deve se orientar pela ética. Dois princípios são
evocados: o da Responsabilidade e o da Precaução. O produto a ser
introduzido deve garantir que nenhum malefício direto e indireto,
global, cumulativo e de longo prazo vá afetar o ser humano e a
cadeia da vida. A ciência no atual estágio não pôde ainda emitir
tal parecer. O que sabemos é que a natureza trabalhou bilhões e
bilhões de anos para organizar o código da vida através de inter-
retro-relações que envolvem a física e a química do universo. Uma
célula epidêrmica de nossa mão contem, numa fantástica
nanotecnologia, toda a informação necessária para a constituição
da vida.
Questão: não é só com muita reverência e precaução que o cientista
ousa interferir nesse jogo complexíssimo, consciente de que cada
gene tem a ver com todos os demais? Quanto ao fenômeno da vida,
não é o paradigma científico newtiano que reduz e compartimenta,
insuficiente para captar as implicações de todos os genes entre
si? Quem nos garante que a bactéria resistente da soja Roundup
Ready não vá terburbar o equilíbrio das bilhões e bilhões de
bactérias que estão em nós? Por precaução e respeito a vida, se
impõe colocar os transgênicos sob quarentena. Por enquanto não!
* Leonardo Boff, Teólogo.
https://www.alainet.org/pt/articulo/108412
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