Lições de Hans Donner

09/10/2003
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Nunca vi nem encontrei pessoalmente a Hans Donner, o conhecido designer da Rede Globo de televisão. Mas no dia 1 de junho do corrente ano, na TV Cultura, deu uma entrevista à Conexão Roberto D¹Avila, marcada por magia e fascinação singulares. Desvelou sua vida, o desígnio do Mistero sobre ela, falou como lhe irrompe a criatividade e o que significa a convivência com Valéria Valença, sua "Beatriz" inspiradora e esposa. Austríaco, deixou-se converter à alma brasileira. Deu-nos algumas lições que poderão nos fazer bem, a nós brasileiros, nesse momento decisivo de nossa história. Eis algumas delas, entre outras. A visão mágica da vida: sente-se orientado e guiado por Deus. Como designer, se inspira no design divino, infinitamente mais perfeito, design da natureza, dos corpos de extrema graciosidade, dos andares femininos de uma sensualidade que nos remete à primeira manhã do Eden. O cultivo da auto-estima: esta falta à maioria dos brasileiros. Auto-estima é dar-se conta dos próprios valores, é ter confiança em sua força própria, em seu vôo de águia possivel. Essa auto-estima leva a trabalhar de modo pertinaz, generoso e sem qualquer propósito de retribuição imediata. Nós brasileiros, não apenas nos colocamos nos mapas abaixo do equador, mas nos empurramos ainda mais para o pólo sul, para a Antártica. Quando, ao contrário, somos portadores de uma criatividade fantástica, de uma miscegenização bem sucedida, de uma alegria de viver, herança do paraiso em nós, que não se perdeu totalmente. A alegria de viver: eis uma definição da identidade brasielira, segundo Hans Donner, no que concordo plenamente. Trata-se de uma exuberância de sentido que não tem explicação racional, talvez mística. Essa alegria não existe em canto nenhum. É um dom cuja destinação deverá ser a nova humanidade que está globalmente surgindo. A salvação do Brasil: resgatar a auto-estima e criar oportunidades para todos, pois então aparecerá o que o povo é capaz de fazer: inventar um outro Brasil possível. Um jornalista estrangeiro que por profissão, sentiu o pulsar da humanidade em sua tragédia e em sua grandeza, foi levado por Hans a um pagode no Rio. Havia sol, dança, feijoada, festa e muita alegria. Mas alegria, não porque alguém possuiria uma casa melhor ou um carro mais luzidio ou uma renda melhor. Nada disso. Alegria espontânea e pura, como irradiação da generosidade e como sorrisso do ser. E esse jornalista disse a Hans: se eu tivesse que morrer agora, pediria a Deus que fosse nesse lugar. Porque aqui está algo do paraiso querido por Deus a seus filhos e filhas. Austríaco, Hans Donner se criou na Alemanha e, encantado, veio morar e criar no Brasil. Foi ele que inaugurou os efeitos especiais na tv, quando lá fora, no Vale do Silício nos EUA ainda não se havia despertado para isso. Levou a imagem do Brasil criativo, leve, sobrenatural a todo o mundo. E penetrou tanto em nossas raizes que virou brasileiro. E com grazie testemunha: aqui há mais que bananas, macacos, cobras, Copacabana e mulheres deslumbrantes. Aqui vive, sofre e se alegra um povo tão rico que poderá conferir rosto humano, sensível e mágico ao processo de globalização. É disso que todos precisamos.
https://www.alainet.org/pt/articulo/108525
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