O "ponto Deus" no cérebro
05/12/2003
- Opinión
Uma frente avançada das ciências hoje é constituída pelo estudo do
cérebro e de suas múltiplas inteligências. Alcançaram-se resultados
relevantes,também para a religião e a espiritualidade. Enfatizam-se
três tipos de inteligência. A primeira é a inteligência intelectual,
o famoso QI (Quociente de inteligência)ao qual se deu tanta
importância em todo o século XX. É a inteligência analítica pela
qual elaboramos conceitos e fazemos ciência. Com ela organizamos o
mundo e solucionamos problemas objetivos.
A segunda é inteligência emocional popularizada especialmente pelo
psicólogo e neurocientista de Harvard, David Goleman, com seu
conhecido livro A Inteligência emocional (QE=Quociente emocional).
Empiricamente mostrou o que era convicção de toda uma tradição de
pensadores, desde Platão, passando por Santo Agostinho e culminando
em Freud: a estrutura de base do ser humano não é razão (logos) mas
é emoção (pathos). Somos, primariamente, seres de paixão, empatia e
compaixão e só em seguida, de razão. Quando combinamos QI com QE
conseguimos nos mobilizar a nós e a outros.
A terceira é a inteligência espiritual. A prova empírica de sua
existência deriva de pesquisas muito recentes, dos últimos dez anos,
feitas por neurólogos, neuropsicólogos, neurolinguistas e técnicos
em magnetoencefalografia (que estudam os campos magnéticos e
elétricos do cérebro). Segundo esses cientistas existe em nós,
cientificamente verificável, um outro tipo de inteligência pela qual
não só captamos fatos, idéias e emoções, mas percebemos os contextos
maiores de nossa vida, totalidades significativas e nos faz sentir
inseridos no Todo. Ela nos torna sensíveis a valores, a questões
ligadas a Deus e à transcendência. É chamada de inteligência
espiritual (QEs= Quociente espiritual),porque é próprio da
espiritualidade captar totalidades e se orientar por visões
transcendentais.
Sua base empírica reside na biologia dos neurônios. Verificou-se
cientificamente que a exeperiência unificadora se origina de
oscilações neurais a 40 herz, especialmente localizada nos lobos
temporais. Desencadeia-se, então, uma experiência de exaltação e de
intensa alegria como se estivéssemos diante de uma Presença viva.
Ou inversamente, sempre que se abordam temas religiosos, Deus ou
valores que concernem o sentido profundo das coisas, não
superficialmente mas num envolvimento sincero, produz-se igual
excitação de 40 herz.
Por esta razão, neurobiólogos como Persinger, Ramachandran e a
física quântica Danah Zohar batizaram essa região dos lobos
temporais de "o ponto Deus". Se assim é, podemos dizer em termos do
processo evolucionário: o universo evoluiu, em bilhões de anos, até
produzir no cérebro, o instrumento que capacita o ser humano
perceber a Presença de Deus que sempre estava lá embora não
percebível conscientemente. A existência deste "ponto Deus"
representa uma vantagem evolutiva de nossa espécie homo. Ela
constitui uma referência de sentido para nossa vida. A
espiritualidade pertence ao humano e não é monopólio das religiões.
Antes, as religiões são uma das expressões desse "ponto Deus".
* Leonardo Boff. Teólogo.
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