Um ano de Governo Lula
O medo nas rádios comunitárias
08/01/2004
- Opinión
Lula nas paradas de sucesso. Festeja-se um ano de Governo. Mas
ele já avisou para beber com moderação: o primeiro ano foi só de
arrumação da casa. Qual a casa? A casa deles. Parabéns pra você,
elite nacional. Continuamos sem-terra, sem-teto, sem-sonhos, sem-
voz, sem-água, enfim, sem-Brasil. Nesse Governo transgênico ou pro-
transgênico, sobrou pra nós o brasil minúsculo.
No caso da comunicação, é mais um ano perdido em nossa vã
existência. Entra e sai Governo e os coronéis da comunicação
continuam mandando no Governo. Os latifúndios permanecem quais
pedras encravadas, atravancando o destino deste Brasil.
A novidade é que os usineiros da comunicação e da cultura mais
uma vez estão quebrados. Não têm grana para botar combustível no
iate em Angra nem como pagar o mordomo suíço. Cresceram com base num
capital irreal, apostando num mercado irreal, e agora caem no país
real. Em 2002 fizeram o Estado mudar a Constituição pra ver se
entrava grana estrangeira. Não deu certo. Agora querem o de sempre:
grana pública pra sobreviver.
A grana é muita, acredite. Só na cobertura dos jogos pan-
americanos de Santo Domingo, em junho de 2003, a Caixa Econômica e
os Correios, juntos, botaram na TV Globo R$ 5,2 milhões.
Se este fosse um Governo popular, preocupado em democratizar o
acesso aos meios de comunicação, iria encarar esses coronéis, os
donos desse latifúndio. Lula poderia chamá-los num canto e
determinar: "tudo bem, a gente empresta, mas a gente vira sócio".
Que tal? Doideira? Não, porque são essas as regras normais do
mercado. Se essas famílias jurídicas forem ao mercado ele vai dizer
a mesma coisa: eu entro com a grana, mas mando. Ocorre que nessas
horas o capital quer socializar o prejuízo – o Estado entra com a
grana, abaixo de valores de mercado, mas eles continuam mandando.
Quem topa isso, filantropia pros ricos com dinheiro público? Zé
Dirceu, primeiro-ministro dessa República, já falou que a questão da
Globo é questão de Estado. Por quê falou isso? Assinale, na coluna
abaixo, o que lhe parece a resposta correta: a) por sentimento de
vassalagem; b) puxa-saquismo explícito; c) medo desses coronéis da
comunicação.
Assinale e jogue fora.
Mas o teste não acabou. Pergunta-se: por que Lula decretou luto
oficial pela morte de Roberto Marinho? a) ele não sabia quem era
Roberto Marinho; b) Lula não mora no Brasil; c) Lula nunca ouviu
falar nas organizações Globo; d) medo.
Qualquer das respostas assinaladas não resolvem o problema. O
terreno das comunicações continua entregue a sete coronéis. Sete
famílias nos dizem o que comer, o que vestir, onde andar, quem
presta e quem não presta, a quem devo amar ou odiar, em quem devo
votar. Os sete cavaleiros do Apocalipse continuam mandando.
Do que vou tratar agora, porém, é mais dramático. Tirem as
crianças da sala: o sangue vai espirrar. Vamos falar das rádios
comunitárias (RCs) – o que o Governo está fazendo para acabar com
elas.
Burocracia faz bem
No começo era o verbo. O ministro das comunicações, Miro
Teixeira, anunciou que faria uma revisão das autorizações de RCs
concedidas no Governo anterior. Estima-se que 90% das autorizações
de rádios comunitárias do Governo Fernando Henrique Cardoso fogem ao
caráter de comunitária. Revisar seria uma boa. Mas Miro não fez.
Intencionalmente o Governo puxou o debate para a burocracia, pro
debate no andar inferior: como agilizar o funcionamento do Minicom,
o cartório que concede títulos de bom comportamento às emissoras
comunitárias? Priorizou a agilização dos processos de RC. Tem 4 mil
amontoados no Ministério das Comunicações. Intencionalmente
pulverizou uma discussão política maior associada à questão das
rádios comunitárias, que era o acesso aos meios e a democratização
dos meios. Ao invés de discutir política, o Governo resolveu
discutir burocracia.
Imbuído desse espírito natalino, em abril de 2003 o Governo
constituiu um Grupo de Trabalho (GT) para discutir mudanças nos
procedimentos burocráticos. O GT foi formado por figuras e figuras
da área. E pra provar que falava sério, pra provar de que lado
estava, o ministro Miro Teixeira, botou nesse grupo um representante
da Associação Brasileira de Emissoras de Rádio e TV (Abert).
Para quem não sabe a Abert é inimiga declarada das rádios
comunitárias. Ela ainda hoje faz campanha contra as emissoras
"piratas", mentindo para população que derrubam avião. A Abert lida
com emissoras comerciais, as grandes redes, os latifúndios, é a UDR
da comunicação. O que ela foi fazer num grupo criado para lidar com
rádios comunitárias? Ora, Miro sabe disso, a gente sabe disso: a
Abert foi lá impedir que as rádios comunitárias quisessem algo mais
além da miséria que já têm. Ela foi colocada por Miro Teixeira para
impedir a democratização dos meios de comunicação.
Esse GT, que funcionou de 2 de abril a 2 de julho de 2003,
propôs uma série de mudanças no procedimentos burocráticos. Com
essas mudanças se agilizaria a rotina de avaliação dos pedidos. Mas
2003 chega ao fim e a gente ainda está no começo. Miro Teixeira
implementou somente umas poucas mudanças cartoriais.
O GT resolveu também mexer na legislação das rádios
comunitárias, propondo novas redações para a Lei 9.612/98 e para o
Decreto 2.615/98.
É importante avaliar o que foi feito aí.
O Decreto 2.615 é de julho de 1998. Se a lei já é ruim, o
decreto é pior. O decreto contém algumas aberrações. Por exemplo,
ele vai além da lei ao estabelecer o alcance de 1 Km (a lei fala em
atendimento a comunidade de bairro ou vila, com potência de 25 watts
e não em alcance). Mas como esse era um desejo dos coronéis,
inconstitucionalmente foi feito, e está em vigor até hoje.
Pergunta para não responder:
Se é um decreto, se depende somente do Executivo modificá-lo, se
ninguém que lida com rádio comunitária concorda com esse decreto, se
isso é um entrave a democratização dos meios de comunicação, por que
o Governo não modifica e ajusta-o aos interesses populares?
Pois bem, o GT transgênico criado por Miro Teixeira, com suas
figuras e figuras, conseguiu a proeza de elaborar um decreto pior do
que o original! Reconheçamos: é preciso muita coragem e competência
pra ruinzar o que já ruim. E assim não aconteceu o óbvio nesse
Governo Lula: a mudança imediata e para melhor no decreto que
regulamenta as rádios comunitárias.
Este Grupo de Trabalho chegou a apresentar uma proposta de
Projeto de Lei para o Governo. O GT, na verdade, condensou as muitas
propostas positivas em tramitação no Congresso Nacional, dando-lhe
uma cara única. Ora, o Governo Lula poderia sinalizar para a
população, encaminhando este PL ao Congresso como proposta sua. Mas
esse Governo enfrentaria os ruralistas da comunicação e defenderia
esse projeto?
Não fez isso.
Resultado: porrada no povo.
A legislação furreca
A lei (9.612/98) e o decreto (2.615/98) que regulamentam as
rádios comunitárias não prestam porque estabelecem que elas
funcionarão em um só canal em todo país; não poderão entrar em rede;
terão potência máxima de 25 watts; o alcance será limitado ao raio
de 1 Km a partir da antena; o Estado não as protegerá de
interferências de emissoras comerciais; os diretores da rádio terão
que morar dentro desse círculo de 1Km de raio; não podem fazer
publicidade...
Mas tem quem goste dessa legislação. O ministro Miro Teixeira,
por exemplo. Ele já afirmou que 1 Km é bom para as rádios
comunitárias.
Lá dentro do MC alega-se que se mantém o alcance de 1 Km por
razões técnicas. Isto não é verdade. De fato, com as rádios operando
na mesma freqüência, cada uma tem que limitar seu alcance para
evitar que os sinais se misturem. O problema é comum hoje no Brasil
e acontece, principalmente com as autorizadas. Há o caso de dois
pequenos municípios brasileiros, separados por um rio, em que mesmo
operando com 1 Km de alcance, há mistura de sinais.
Afirmar, porém, que o limite de 1 Km é uma questão técnica é
escamotear a verdade. Porque a verdade é política. Quem disse que as
emissoras devem ocupar o mesmo canal em todo Brasil e por isso
ficarem encolhidas em 1 Km? Resposta: o latifúndio da comunicação.
Eles, os coronéis da comunicação, reservaram para si o espectro
eletromagnético, que é um bem da União. Eles – donos de 98% dos
canais de rádio e TV no Brasil - determinaram que as RCs ficariam
nos fundos do terreno, no galinheiro, num canalzinho furreca.
Ao alegar motivos técnicos para sustentar a injustiça existente,
é dada uma resposta política que tenta ocultar a falta de vontade
política de mudar a legislação, e, mais que isso, o modelo de
comunicação.
Sejamos francos: quando uma autoridade quer dar uma resposta
política, mas ocultando seu teor político, apela para imutabilidade
da lei, ou diz que é uma questão técnica.
Veja bem, quando a legislação (criada para atender determinado
segmento econômico) determinou que as emissoras operariam num só
canal em todo país, a Anatel cuidou de estabelecer este canal
conforme os interesses políticos desse segmento. E definiu por
portaria o Canal 200, equivalente a freqüência de 87,9 Mhz. Salvo
excepcionalidades regionais, todas as emissoras devem operar nesta
freqüência. Ora, ocorre que a faixa de freqüências para radiodifusão
em FM vai de 88 a 108 Mhz... Então, por "razões técnicas", como diz
a Anatel, colocaram-se as rádios comunitárias fora do dial! É como
fazer uma reforma agrária e botar o povo no meio do mar!
As razões disso, claro, são políticas. É a exclusão social
descarada. Ela continua. O Governo Lula fez mais.
Em dezembro de 2003, a Anatel disponibilizou para consulta
pública na Internet proposta de dois novos canais para as rádios
comunitárias. Eles estão na freqüência de 87,5 Mhz e 87,7 Mhz – isto
é, também fora do dial, e mais abaixo da freqüência oficial, 87,9
Mhz. Para dar legitimidade técnica a essa proposta absurda, a Anatel
solicitou e disponibilizou na Internet dois estudos feitos pelo CPqD
mostrando que os tais canais são viáveis. É tão viável que o CPqD
sugere a Anatel conversar com os fabricantes de aparelhos de rádio
para fazerem modelos que garantam a recepção nestes canais...
Propostas como esta sinalizam o profundo desprezo do Governo
Lula por aqueles que lidam com rádios comunitárias. Faz-se política
conforme interesses, mas se maquia como operação técnica e caridade,
"presenteando-se" o povo com dois novos canais. É sintomático que
isto seja feito dentro da prática da "consulta pela Internet" – um
meio acessível a menos de 10 % da população brasileira, exatamente
aqueles que não estão envolvidos com rádios comunitárias.
Seguindo esta linha, o Ministério das Comunicações também
colocou em consulta pública uma nova Norma operacional para as
rádios comunitárias. Embora incorpore algumas propostas operacionais
burocráticas do GT, ela traz também alguns malefícios (por exemplo,
ao definir "apoio cultural" como querem as comerciais). E, claro,
mantém o modelo existente.
A repressão
O Governo Lula está sendo mais eficiente que o Governo FHC na
repressão às rádios comunitárias. A regra é essa: não tem
autorização do cartório de Brasília, pau! Pelo menos uma rádio é
fechada por dia no Brasil. Agentes da Anatel e da Polícia Federal,
armados de metralhadoras e fuzis, ocupam a emissora de baixa
potência, algemam as pessoas, humilham homens, mulheres e crianças;
prendem, indiciam em processo; levam cartazes, papéis, agendas, CDs,
computadores, transmissores,...
As ações são espetaculares. Mais parece que ocupam um ponto de
tráfico de drogas. E são somente homens, mulheres e crianças fazendo
a comunicação. Ninguém tem arma para encarar a Polícia. A grande
maioria não dispõe nem de um advogado para questionar a legitimidade
das ações da Anatel ou da Polícia Federal. Qual o crime dessa gente?
Praticar a liberdade de expressão sem autorização dos coronéis.
A grande mídia, metida à defensora da imprensa e da liberdade de
expressão, nessas horas se cala. Ou melhor, defende os seus
interesses. A gente sabe, o latifúndio da comunicação sabe: uma
rádio comunitária (a voz do povo no ar) é perigosa porque significa
a propagação da inteligência, da reflexão, do pensar. Por isso a
grande mídia defende o cartório-Brasília, o papelório. Para a grande
imprensa só há liberdade de expressão quando a rádio se enquadra na
legislação vagabunda em vigor. Quem não se enquadra é tratado como
bandido, ladrão, saqueador, marginal, isto é, pirata.
Para um Governo aplicado em seguir os mandos dos coronéis, não
estranha que esse discurso de "rádio pirata" esteja encravado e
verdejante lá dentro do Ministério das Comunicações. Como era antes,
e como era antes de antes. Nada mudou. As rádios comunitárias que
não têm o papel carimbado de Brasília são tratadas como piratas,
marginais, porque sempre foi assim.
Sejamos francos, o crime é federal porque é uma agressão ao
capital. O Estado é chamado a defender o capital, ou a lei feita
pelo capital, com o melhor do seu aparato repressor. O Estado
precisa calar a voz dos subversivos. E o faz.
Mas, está bem, se somos legalistas, o que temos que fazer? Mudar
a legislação? Como, se ninguém se habilita a descascar a batata
quente? O Executivo, já se viu, não ousa enfrentar os coronéis. E,
portanto, não vai mudar nada. O Executivo, que poderia melhorar o
Decreto, piorou; poderia apresentar um PL, não enviou. No
Legislativo há pelo menos 20 projetos melhorando a lei 9.612/98. Mas
não andam. Tudo emperrado. Uma dessas propostas contém a assinatura
de 70 deputados dos mais diversos partidos... E também não anda. Não
anda porque a UDR das comunicações não quer. E ponto.
Em resumo, se for esperar a vontade política dos atuais
detentores do poder o povo brasileiro não terá uma legislação
decente para rádio comunitária nos próximos dois séculos. Hoje só
lhe cabe duas opções: ou continua resistindo, e sendo tratado como
marginal, pirata, bandido, ladrão, por não se enquadrar na
legislação em vigor; ou, se enquadra e faz uma rádio comunitária no
galinheiro do latifúndio da comunicação. Esta discussão, que é
política, como já foi frisado, o Governo se recusa a fazer. O
discurso oficial é pela "universalização" das rádios comunitárias. O
Governo quer botar RCs em todos os municípios. Rádios, claro,
enquadradas na leizinha que existe. O debate fundamental - sobre
mudanças na legislação, a democratização dos meios de comunicação,
política de distribuição de canais - não é feito. Pra não incomodar
os ruralistas do ar...
Lei e ordem
A repressão, alegam os agentes de Estado, é devido à lei. A lei
manda reprimir, argumentam. A verdade, porém, é que reprimem por
opção política.
A Anatel começou a reprimir em 1997, logo ao ser criada por FHC.
A Lei Geral de Telecomunicações (9.472), LGT, em seu Art. 19, Inciso
XV dá à Anatel, poderes de: "realizar buscas e apreensão de bens no
âmbito de sua competência".Tal fere a Constituição no seu Art. 5º,
Inciso LIV, onde se estabelece que: "Ninguém será privado da
liberdade ou de seus bens sem o devido processo legal". O PT e o
PCdoB entraram com uma ação no Supremo Tribunal Federal, e ele
reconheceu, determinando que o referido artigo não fosse ser usado.
Ciosa dos seus deveres de bater no povo, o que fez a Anatel? Não
obedeceu e continuou apreendendo. Não cumpriu uma decisão do
Supremo! Seus agentes, que são tão legalistas, não cumpriram a lei.
Foi feita uma Reclamação ao STF contra a Anatel, que então parou
de descumprir a lei. Mas, mais uma vez ciosa de seu serviço, criou
"uma lei", uma Resolução interna dizendo que tinha poder de lacrar.
Lacrar emissoras não faz parte da LGT, do Código Brasileiro de
Telecomunicações, mas a Anatel lacra.
Diz o juiz federal aposentado Paulo Fernando Silveira: "A
apreensão ou lacração com base em dispositivo penal - ainda que
estivesse em vigor e fosse aplicável às rádios comunitárias - foge
da competência administrativa da Anatel, razão pela qual age com
abuso de poder".
A Anatel lacra e chama a Polícia para fazer o resto do serviço:
algemar, prender os perigosos marginais que ousam desobedecer à lei.
Qual lei?
Não a lei das rádios comunitárias que ela não tem isso. Mas a
LGT (para telecomunicações e não para radiodifusão), que em seu
artigo 183 determina cadeia para quem operar serviço sem
autorização. Ou Código Brasileiro de Telecomunicações, modificado na
ditadura militar, em 1967, quando se acrescentou o artigo 70,
mandando botar na cadeia os subversivos que operassem emissora sem
autorização, em vigor até hoje. Não importa a lei, o que importa é
reprimir, impedir que esse povo, o povo, tenha voz.
Neste momento centenas de pessoas no Brasil estão respondendo a
processo na Polícia Federal por "operação de emissora clandestina".
Existem projetos no Congresso nacional anistiando essas pessoas.
Como não interessa ao Governo, eles não andam.
Em junho de 2003, numa reunião das entidades de rádios
comunitárias da Bahia com o ministro Miro Teixeira, ele foi
questionado sobre isso. Imediatamente chamou um assessor e
determinou: "faça, agora, uma minuta de Decreto ou Medida Provisória
para anistiar essa gente, que eu levarei pessoalmente até Lula para
ele assinar". Até hoje não se tem notícia dessa minuta. Era somente
uma bravata.
O medo está no ar
O Ministério das Comunicações não resolveu nem aquelas questões
básicas do cartório. Por exemplo, até hoje o atendimento via
telefone é precário, improvisado, feito por pessoas sem a devida
competência, deslocadas para função para quebrar o galho. Uma
central de atendimento, ou centrais de atendimento que poderiam
funcionar nos estados, não foram instaladas aqui ou acolá.
Talvez o Estado, tão caridoso com as empresas de comunicação,
pudesse ajudar as RCs. Você sabe quanto as empresas estatais
investiram nas rádios comunitárias em 2003? Zero!
Pra encerrar.
Por medo ou vassalagem, o fato é que o Governo Lula
declaradamente tomou uma posição: ficar ao lado dos coronéis da
comunicação. Infelizmente, ao tomar esse partido, Lula enterra sua
história. Pior, enterra a esperança dos que acreditavam que
finalmente poderiam falar. Eles continuam mudos. O medo venceu a
esperança. Quem faz rádio comunitária têm medo da repressão, têm
medo do futuro – porque não vislumbram futuro. Tudo parece como no
passado. E o povo continua sendo marginal no seu país.
Lula parece não ter percebido a dimensão do que faz. Estes que
hoje ele adula são os mesmos que satanizaram e continuam satanizando
os movimentos populares, gente como ele. São os mesmos que fizeram
500 anos de deseducação do povo brasileiro. Os mesmos que
construíram este país sem destino, sem-terra, sem-água, sem-sonhos,
sem-esperanças.
Mesmo quem não votou em Lula acredita que é preciso mudanças.
Isto não aconteceu porque as elites continuam dominando o país.
Mudança é quando o povo se apodera do seu destino.
Fazer com que o povo domine os meios de comunicação, construa
seus meios, é a largada para esta mudança. O povo continua faminto
de comunicação, educação, cultura. Vai ter um fome zero para
comunicação? Quando? No segundo Governo Lula? Lula acredita que os
ruralistas da comunicação vão deixar ele se eleger novamente? A
gente ainda vai acreditar nele?
* Dioclécio Luz é jornalista, autor do livro "Trilha das rádios
comunitárias", e membro do Conselho de Acompanhamento da Mídia da
CDH da Câmara dos Deputados.
https://www.alainet.org/pt/articulo/109056
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