Entre nos EUA sem ser fotografado ou preso!

16/01/2004
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Quem toma atitudes soberanas – como essas de punir o comandante da American Airlines no aeroporto de Cumbica – tem que estar preparado para retaliações. Afinal, qualquer atitude que a política externa brasileira tome, encontra caras amarradas, com previsões funestas sobre suas conseqüências, nos colunistas econômicos e dentro da equipe econômica do governo - que são cada vez mais a mesma coisa. Por isso esta coluna hoje é de utilidade pública: como contornar as represálias do mais poderoso governo do mundo diante das justas medidas brasileiras nesta semana em Cumbica. Se você precisa ou deseja entrar nos Estados Unidos, não atenda a nada dos que as agências de turismo e a tradição mandam fazer. Oriente-se por quem melhor conhece os Estados Unidos: Michael Moore. Ele nos recomenda "Cinco formas engenhosas de entrar nos Estados Unidos". A primeira delas é de avião, a partir da constatação de que é absurdo que se gaste milhões de dólares para vigiar a fronteira mexicana, quando mais da metade dos imigrantes ilegais chegam de avião aos EUA. Se você quiser chegar lá pela via aérea, Moore diz que não é necessário passar por grandes aeroportos super policiados como os de Nova York ou de Los Angeles. Porque agora não importa que pequena cidade exibe seu "aeroporto internacional", como os de Chatanooga ou de Reno ou de Flint. Vários deles possuem seu próprio serviço de alfândega, "cujos agentes não foram necessariamente selecionados entre os indivíduos mais perspicazes da população local". Você pode, segundo Moore, aterrizar em uma dessas cidades, dizer que você é turista ou estudante e pronto. Se quiser entrar nos EUA pelo México, Moore recomenda evitar os postos de fronteira onde os candidatos à presidência costumam tirar fotografias para suas campanhas e que ficam infestados de policiais. (Cuidado também, acrescento eu, com o aeroporto internacional da capital mexicana, onde impunemente agem oficialmente agentes da policia dos EUA, com a complacência do governo de Vicente Fox, vigiando os passageiros que partem para os EUA em empresas mexicanas – certamente mais um avanço na integração estilo ALCA, propiciada pelo Nafta.) Moore recomenda cruzar o Rio Grande pelo lado de Brownsville, um rio fácil de ser cruzado a pé ou em Los Ébanos, no Texas, em que o rio pode ser cruzado com um bote puxado por cordas. Chegado ao lado norte-americano, você será recebido por um tipo dos serviços de imigração que se interessa sobretudo pela pesca e que lhe fará passar rapidamente pela alfândega. Uma terceira possibilidade é chegar pelo outro lado dos EUA, pelo Canadá. Se estiver chegando da Europa, Moore recomenda aterrizar em Toronto ou em Montreal, dizer aos agentes da alfândega vai visitar as cataratas do Niágara e se dirija para a fronteira norte-americana. Não há praticamente vigilância entre o Quebec e Vermont, segundo ele. Se quiser um bom lugar para cruzar, ele recomenda o campo que está ao lado do McDonald's, instalado ao lado da estrada 87 do estado de Nova York, na fronteira com Vermont. Chegado aos EUA, passe diretamente para Vermont, onde há menos patrulhas de fronteira, tome a I-89 até a saída n. 10, depois a estrada 100 para o norte até Waterbury e pronto. É possível ainda chegar por mar, pelo mais próxima fronteira sul desde o México. A não mais de 80 quilômetros das costas da Flórida, a ilha de Bimini, nas Bahamas, é de fácil acesso. Uma embarcação pode lhes desembarcar clandestinamente na Flórida pelo preço de 950 dólares (perguntem por Lou, no segundo cais, que ele faz o servicinho) ou um vôo de hidro-aviao até Miami, que sai por 156 dólares mais as taxas. Moore não recomenda chegar à Flórida em ski aquático, porque o motor deles tem autonomia apenas para cerca de 15 quilômetros. Finalmente, existe um lugar pelo qual, segundo Moore, pode-se entrar nos EUA com a certeza de jamais encontrar um patrulha. Não há nenhum agente de imigração nas ilhas Diomede, no estreito de Behring. No inverno, quando o mar está gelado, pode-se tranqüilamente cruzar a pé da Rússia aos EUA. As indicações se encontram no livro de Moore Downsize this, publicado nos EUA e que podem evitar aborrecimentos nos aeroportos norte-americanos para nossos sofridos cidadãos, assim como evitar situações de conflito, que causam tantas ansiedades em prefeitos, juizes e outros indivíduos tão preocupados com as contrariedades eventualmente provocadas em turistas norte-americanos pelo exercício do – superado, pela globalização neoliberal – conceito de soberania. Boa viagem.
https://www.alainet.org/pt/articulo/109105
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