Porto Alegre terá um novo FSM
15/01/2004
- Opinión
O encontro na Índia irá discutir o papel do Fórum Social
Mundial no cenário mundial, o que deve resultar em um novo
tipo de encontro no ano que vem, na volta a Porto Alegre
O grande tema desta quarta edição
do Fórum Social Mundial é qual o papel que ele deve ter na
disputa política global. Desde a segunda edição do evento,
ou para ser mais preciso, desde o fim da primeira, alguns
membros do Conselho Internacional, intelectuais e líderes
de movimentos da sociedade civil vêm tratando a questão.
Para eles, não bastava ao FSM ser um contraponto a Davos,
na Suíça, onde se reúnem anualmente grandes capitalistas e
chefes de Estado, mas ele precisaria ter propostas mais
concretas a serem trabalhadas pelas organizações presentes.
É muito provável que aqui nesse encontro da Índia a questão
não seja resolvida. Mas tudo indica que já há um quase-
consenso de que a fórmula bem sucedida dos três primeiros
FSMs deve ser requalificada. O Fórum não pode continuar
sendo apenas um espaço para trocas de idéias e experiências
em nível global. Seu destino é se tornar um espaço
aglutinador de lutas e campanhas de caráter universal. Aqui
na Índia, deve-se caminhar nesse sentido. Na quinta edição,
a ser realizada no ano que vem em Porto Alegre, esse
caminho deve se sedimentar. A próxima edição de Porto
Alegre deve ser a de um novo Fórum.
Para que isso aconteça, algumas questões práticas a serem
implementadas são decisivas. Em recente artigo o diretor do
Le Monde Diplomatique, Bernard Cassen, sustenta que o FSM e
os outros encontros continentais e regionais precisam ter
uma memória organizada. A própria revista Fórum é uma
tentativa de se promover esse tipo de registro. Mas é
preciso muito mais. O FSM não produz nada sistematizado.
Outro ponto em que o FSM precisa avançar é no estudo da sua
essência. Quais são os movimentos e idéias que de verdade
dão vida a ele? O sociólogo português Boaventura de Sousa
Santos foi provocado recentemente a fazer um primeiro
esforço para colocar no papel quais são as principais
convergências, divergências e prioridades do movimento
altermundista que dão vida ao FSM.
Aqui na Índia este debate sobre o futuro do FSM vai
acontecer no dia 20 de janeiro. Entre os participantes
estarão o brasileiro Chico Whitaker, da Comissão de Justiça
e Paz e um dos idealizadores do FSM, o próprio Boaventura e
Vittorio Agnoletto, um dos principais organizadores do
Fórum de Gênova, onde houve um grande enfrentamento com a
polícia, que resultou na morte do estudante Carlo Giuliani.
O debate deve esquentar quando for defendida a posição que
parece ser a da maioria dos ativistas indianos em relação a
uma maior pragmatismo político e ao mesmo tempo um
distanciamento de empresas e organizações próximas ao
capital. Neste FSM, por exemplo, o comitê organizador
indiano rejeitou o apoio da Fundação Ford, que havia sido
co-financiadora das três edições anteriores. Outra
diferença é que no Brasil foram oito entidades no comitê de
central da organização. Aqui são 200.
A partir de amanhã é que vai ser possível verificar no que
essa nova fórmula vai resultar. Mas de algum jeito é
interessante ver que até do ponto de vista organizativo o
Fórum pode ser feito de muitas maneiras e que não há um
formato específico para ele. Aqui, tudo está mais artesanal
(leia matéria). Até porque o orçamento é a metade do FSM
anterior. Em Mumbai, a previsão de custo é de 2 milhões de
dólares, contra 4 milhões da última edição. Mas por mais
que isso possa provocar problemas, como falta de
computadores, de tradutores profissionais e até de
equipamentos de tradução, o que nos parece muito difícil de
não acontecer aqui é a solidificação da opção por um FSM
que, mantendo sua pluralidade, deve se transformar num
espaço estratégico não só de debates, mas também de
enfrentamentos políticos globais.
* Renato Rovai. Enviado da Revista Fórum à Índia
https://www.alainet.org/pt/articulo/109107
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