Competição ou cooperação?
08/07/2004
- Opinión
Há um fato que faz pensar: a crescente violência em todos os
âmbitos do mundo e da sociedade. Mas há um que é perturbador: a
exaltação aberta da violência não poupando sequer o universo do
entretenimento infantil.
Chegamos a um ponto culminante com a construção do princípio da
auto-destruição. Por que chegamos a isso? Seguramente são
múltiplas as causalidades estruturais e não podemos ser
simplistas neste campo. Mas há uma estrutura, erigida em
princípio, que explica em grande parte a atmosfera geral de
violência: a competitividade ou a concorrência sem limites.
Ela vigora primariamente no campo da economia capitalista de
mercado. Comparece como o motor secreto de todo o sistema de
produção e consumo. Quem for mais apto (forte) na concorrência
quanto aos preços, às facilidades de pagamento, à variedade e à
qualidade, este vence. A competitividade opera implacável
darwinismo social: seleciona os mais fortes. Estes, diz-se,
merecem sobreviver, pois dinamizam a economia. Os mais fracos
são peso morto, por isso são incorporados ou eliminados. Essa é
a lógica feroz.
A competitividade invadiu praticamente todos os espaços: as
nações, as regiões, as escolas, os esportes, as igrejas e as
famílias. Para ser eficaz, a competitividade deve ser
agressiva. Quem consegue atrair mais e dar mais vantagens? Não é
de se admirar que tudo passa a ser oportunidade de ganho e se
transformou em mercadoria, do eletrodoméstico à religião. Os
espaços pessoais e sociais que têm valor mas que não têm preço
como a gratuidade, a cooperação, a amizade, o amor, a compaixão
e a devoção, ficam cada vez mais acantonados. Mas estes são os
lugares onde respiramos humanamente, longe do jogo dos
interesses. Seu enfraquecimento nos faz anêmicos e nos
desumaniza.
Na medida em que prevalece sobre outros valores, a
competitividade provoca mais e mais tensões, conflitos e
violências. Ninguém aceita perder nem ser engolido pelo outro.
Luta defendendo-se e atacando. Ocorre que após a derrocada do
socialismo real, com a homogeneização do espaço econômico de
cunho capitalista, acompanhada pela cultura política neoliberal,
privatista e individualista, os dinamismos da concorrência
foram levados ao extremo. Em conseqüência, os conflitos
recrudesceram e a vontade de fazer guerra não foi refreada. A
potência hegemônica, os EUA, são campeões em competitividade,
usando todos os meios, inclusive armas para sempre triunfar
sobre os outros.
Como romper esta lógica férrea? Resgatando e dando centralidade
àquilo que outrora nos fez dar o salto da animalidade à
humanidade. O que nos fez deixar para trás a animalidade foi o
princípio de cooperação e de cuidado. Nossos ancestrais
antropóides saiam em busca de alimento. Ao invés de cada qual
comer sozinho como os animais, traziam ao grupo e repartiam
solidariamente entre si. Dai nasceu a cooperação, a
socialidadade e a linguagem. Por este gesto inauguramos a
espécie humana. Face aos mais fracos, ao invés de entregá-los à
seleção natural, inventamos o cuidado e a compaixão para mentê-
los vivos entre nós.
Hoje como outrora são os valores ligados à cooperação, ao
cuidado e à compaixão que limitarão a voracidade da
concorrência, desarmarão os mecanismos do ódio e darão rosto
humano e civilizado à fase planetária da humanidade. Importa
começar já agora para que não seja tarde demais.
* Leonardo Boff. Teólogo.
https://www.alainet.org/pt/articulo/110225?language=es
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