V Fórum Social Mundial
Plataforma Global de luta pela Água
01/02/2005
- Opinión
No marco do V Fórum Social Mundial, em Janeiro de 2005 em Porto
Alegre, denunciaram-se claramente as ameaças ao direito de todos a
Água e serviços de saneamento, em particular nos paises em
desenvolvimento. Representantes de organizações da América, África,
Ásia/ Oceania e Europa apontaram as empresas transnacionais, as
instituições financeiras internacionais e a OMC como principais
responsáveis por essas políticas excludentes e de privatização, em
conluio com muitos governos nacionais, estaduais e locais.
Opondo-se a isso, as populações reagem e resistem. E cada vez
maior nossa capacidade de mobilização e articulação, o que
resultou recentemente em importantes vitórias. Nas ruas, como em
El Alto e Cochabamba, e também nas urnas, como no Uruguai, temos
bons exemplos de que resistir e vencer são possíveis.
Frente a analises que muitos fizeram, identificamos aqui
claramente a necessidade de nos organizar e agirmos em escala
mundial. Com nossas idéias e propostas em comum, estabelecendo
alianças, faremos frente às políticas globais e locais de
privatização e a derrotaremos. Reconhecendo a importâncias dos
momentos desse movimento, queremos a partir do V FSM, adotar uma
Plataforma Global de Luta pela Água, que acreditamos será um ponto
de encontro de muitos que militam em todo o mundo pela Água.
Plataforma de Luta pela Água - V Fórum Social Mundial
1 Declarar a Água como um direito humano: a Água é considerada na
ECOSOC como um direito humano. No entanto, na ONU ainda não
adquiriu esse status. Desenvolveremos ações junto a ONU, em suas
assembléias e reuniões, agiremos junto aos Governos nacionais para
aprovar na ONU que a Água seja de fato declarada como um direito
humano. O acesso á Água em quantidade e de qualidade suficientes á
vida, é o primeiro ponto de nossa plataforma
2 Água em mãos publicas: os serviços públicos de água e saneamento
podem sim funcionar bem, oferecendo qualidade de vida a toda a
população. Com recursos adequados, gestão participativa e controle
social, existem inúmeros serviços de Água pelo mundo afora, que
mostram claramente as vantagens da Água permanecer em mãos
publicas. Divulgar boas experiências, seguir defendendo os
serviços públicos, combatendo a privatização da Água, é um dos
aspectos forte de nosso trabalho para o próximo período.
3 Empresas transnacionais: queremos desenvolver uma forte campanha
contra as empresas transnacionais de Água, como a Vivendi, RWE e
em especial a SUEZ, a principal empresa que tantos problemas tem
gerado pelo mundo afora. Rompendo unilateralmente contratos,
demandando Estados em busca de ilegítimas indenizações, oferecendo
serviços de baixa qualidade, a Sues mostra claramente a quem serve
a privatização da Água. Faremos frente a essas empresas,
promovendo plebiscitos para definir se a água deve ficar em mãos
dessas, mostrando as conseqüências desastrosas de suas ações pelo
mundo, acompanhando e denunciando suas ofensivas para promover
mais privatizações.
4 Acordos comerciais: se a Água e um direito humano e não um bem
comercial, não devera constar de nenhuma lista de serviços a serem
comercializados. Lutaremos para a Água e o saneamento estarem fora
dos acordos da OMC ou de qualquer acordo regional ou bilateral.
Lutaremos para que no GATS ou em outros acordos não constem
quaisquer ofertas de serviços de água e saneamento em qualquer
pais. Faremos frente a ofensivas, em particular da União Européia,
para terminarem as pressões para que os paises incluam a Água na
lista de ofertas de serviços.
5 Instituições financeiras internacionais: combateremos o Banco
Mundial e seus informes que seguem afirmando que a privatização é
a alternativa para ampliar os serviços de água e o saneamento para
a população. Vamos monitorar os informes e as políticas adotadas
pelo Banco Mundial e Regionais, denunciando os condicionantes que
fazem para empréstimos, os requisitos de privatização e as
reformas jurídicas institucionais que buscam promover. Alertaremos
a população de cada pais para a política espúria que é proposta
por esses para os serviços de Água e saneamento. Da mesma maneira,
combateremos a política do FMI de seguir definindo cortes nos
gastos com serviços públicos de Água, para promover ajustes
estruturais, fazendo superávit primário para facilitar pagamento
de dividas. As dividas devem ser canceladas e não justificar corte
de gastos com serviços básicos para a população.
6 Metas de Desenvolvimento do Milênio: queremos denunciar as
contradições implícitas naqueles que por um lado firmam
compromissos com o combate a pobreza no mundo e por outro lado
defendem acordos privatizantes da Água, ampliando a exclusão do
acesso a água para os povos mais necessitados. Combater a pobreza
exige políticas coerentes e em todos os fóruns denunciaremos essas
contradições.
7 Combate a todas as modalidades de privatização: como um bem
publico e um direito humano, lutaremos contra todas as formas de
privatização, seja a parceria publico privada (PPP), seja a venda
de parte de ações de empresas publicas em bolsa de valores, ou
qualquer outra forma de privatização gradativa. Nos preocupa ainda
o uso da Água por grandes empresas, sejam engarrafadoras, sejam
empresas de agronegocios, que na pratica apropriam-se da Água como
um bem privado. Ampliaremos a divulgação em nível mundial das
lutas de resistência vitoriosas e apoiaremos iniciativas
semelhantes. Atenção especial daremos nos próximos anos aos paises
atingidos pela tsunami e por outros desastres naturais, onde por
falta de recursos financeiros para reconstrução de infra-estrutura,
costuma-se optar erradamente por privatizar serviços em vez de
reconstruí-lo sob controle do Estado.
8 Preservação da Água na Natureza: normalmente chamada de recurso
hídrico, a Água e mais que isso. Já existia antes do ser humano, é
fundamental para todas as espécies e não deve ser vista apenas
como um recurso a ser apropriado. Vamos defender grandes reservas,
como o Aqüífero Guarany e outros, as bacias hidrográficas, os
glaciares, combater ações de grande agentes poluentes, como
mineradoras e grandes industrias, questionar e exigir debates
transparentes sobre impacto ambiental e humano na construção de
represas, e agir sempre no sentido da preservar esse bem que
pertence a todos os seres vivos.
9 Ênfase na questão de gênero e aos grupos mais atingidos: nessa
luta pela Água, reconheceremos o papel destacado que as mulheres,
principais gestoras cotidianas da Água, devem ocupar. Para as
mulheres em particular, junto com agricultores familiares,
indígenas e outros grupos populacionais que mais sofrem com a
falta de acesso a Água com qualidade, devemos socializar
informações e reflexões sobre políticas de Água, garantindo que as
populações participem diretamente na definição e na execução das
políticas, tanto a nível local quanto a nível mundial
10 Ampliar alianças e construir nossa união em um grande movimento
mundial: sabemos que não reunimos agora todos e todas que lutam
pela Água. Conhecemos a existência de milhares de organizações no
mundo lutando por essa mesma plataforma aqui delineada. Queremos,
ou mais, precisamos estar todos unidos um dia, em um grande
movimento mundial pela Água. Aprovamos agora essa plataforma
global, valida em todo nosso planeta, com os principais pontos que
nos unem. Acreditamos que essas lutas são dinâmicas e necessitamos
ter uma plataforma constantemente atualizada. Por isso
manifestamos nossa total abertura para novas idéias e,
principalmente, novas adesões a essa plataforma, na expectativa
que, no espaço do Fórum Social Mundial possamos aglutinar todos e
todas que militam pela Água, na certeza que um novo mundo e
possível.
Agenda para o próximo período
22 de Março: Dia Mundial da Água
17 a 20 de Março: Fórum Mundial Alternativo de Água (Genebra)
10 a 16 de Abril: Semana de Ação Global
Maio 2005- Negociação na OMC sobre GATS (Genebra)
Dezembro de 2005- OMC (Hong Kong)
I Fórum Ibero Americano por uma Nova Cultura da Água - 5 a 9
Dezembro de 2005 - Fortaleza - Brasil
2006 - Fórum Mundial da Água - verificar possibilidades e
vantagens em participar ou não desse Fórum. Desde já denunciar os
interesses das ETNs, em conluio com o Banco Mundial dominantes no
Fórum.
https://www.alainet.org/pt/articulo/111352?language=en