Migrantes – profetas de mudanças
27/02/2005
- Opinión
Nesta semana se realiza em Roma um importante Congresso, em
torno do fenômeno migratório, e tendo por foco os emigrantes
italianos. O Brasil se faz representar, seja por causa do
grande contingente de imigrantes italianos que no final do
século 19 e início do século 20 vieram para cá, seja pela
consistência do trabalho realizado hoje pelo SPM – Serviço
Pastoral dos Migrantes, ligado à CNBB.
Historicamente a Itália sempre esteve muito envolvida com as
migrações. Hoje ela vive a contradição que mais caracteriza
este fenômeno, que é a inversão das rotas migratórias.
Tempos atrás da Itália saíram milhões de migrantes, que foram
levar sua vitalidade a diversos países no mundo inteiro.
Hoje, para a Itália se voltam os olhos ansiosos de uma
multidão que gostaria de atravessar suas fronteiras. E o país
que viu seus filhos serem calorosamente acolhidos em tantos
lugares, vive agora o drama de regular a entrada dos
migrantes que batem às suas portas.
Precedendo o Fórum Social Mundial, em Porto Alegre, em
janeiro deste ano, foi realizado com muito sucesso o Fórum
das Migrações. Seus dados principais serão recolhidos em
livro, a ser publicado em breve. Alguns deles já são levados
para o Congresso desta semana em Roma.
O fenômeno migratório sempre esteve presente na história da
humanidade. Quando surtos migratórios tomam novo impulso,
eles são sintomas de grandes transformações que já estão em
processo, e na iminência de se concretizarem. Os migrantes
são profetas de mudanças salutares e necessárias para a
humanidade.
Alguns dados nos chamaram a atenção. Impressiona a
constatação do rápido aumento, no mundo inteiro, da população
migrante. Em 1960 as estatísticas apontavam a existência de
76 milhões de migrantes. No ano 2000 já eram 175 milhões.
A América Latina foi lugar de destino de tantos migrantes.
Agora, cada vez mais rapidamente, cresce o número de latino
americanos que saem de seus países, em busca de
sobrevivência. Em 1990 eram 8,4 milhões, agora já são 20
milhões de latino-americanos vivendo em outros países.
A busca da sobrevivência é sempre o motivo maior dos
migrantes. Isto aparece, por exemplo, nos dados que revelam a
remessa de divisas, realizadas pelos migrantes latino-
americanos. Em 2003, foram enviados 38,5 bilhões de dólares
para as famílias dos migrantes em seus países de origem. Para
alguns países, como El Salvador, a remessa dos migrantes já é
a principal receita do governo. O México é o país que mais
recebe dinheiro dos migrantes, chegando a 15 bilhões de
dólares em 2003, quantia só superada pela exportação de
petróleo.
Estes dados escondem outros, que o Fórum das Migrações ajudou
a desvendar. Um deles se refere à exploração do trabalho dos
migrantes. E explica a situação dos “indocumentados”. Eles
assim permanecem, porque sua situação irregular interessa
tanto aos países de destino, que assim podem explorar melhor
seu trabalho, como para os países de origem, porque assim os
migrantes se obrigam a enviar mais remessas de divisas, pois
sua situação irregular não lhes permite investir no país onde
estão.
Sempre houve migrantes ao longo da história. Mas nunca
tiveram tantas restrições como hoje.Se nos perguntamos pelo
motivo verdadeiro da prevenção existente hoje diante dos
migrantes, é fácil perceber que a grande desigualdade
econômica e social está na origem desta prevenção. Quanto
maiores os privilégios a defender, mais se teme a presença
dos migrantes, que chegam atraídos pela riqueza existente,
que se tem medo de repartir.
As migrações denunciam a injusta desigualdade, que vai
crescendo hoje no mundo, e cuja superação se torna cada vez
mais urgente, se queremos um futuro de convivência harmoniosa
entre continentes e países.
https://www.alainet.org/pt/articulo/111444?language=en
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