Devastação da Amazônia
02/06/2005
- Opinión
Os dados de 26.130 quilômetros quadrados de desflorestamento
da Amazônia em 2005 representam uma verdadeira devastação. Não
sem razão se fizeram ouvir protestos no Brasil e na imprensa
internacional. Por que ocorre exatamente sob o Governo Lula,
no qual a Ministra do Meio Ambiente, Marina Silva é profunda
conhecedora das questões amazônicas e possui consciência
ecológica como ninguém antes na administração püblica?
A razão principal reside na contradição entre duas opções de
Governo: a do crescimento econômico e a da preservação
ambiental. Urgido a pagar a dívida interna e externa, o
Governo optou pelo crescimento econômico, especialmente por
aquelas frentes de produção que exportam grãos e carnes e que
trazem dólares. A soja e o gado exigem grandes dimensões de
terra que são conquistadas pelo desmatamento das florestas,
principalmente, no Mato Grosso onde o Governador é
apresentando como o "rei mundial da soja". O crescimento é
preferencial embora a retórica do Governo o queira com justiça
e destribuição de renda. Os dados, entretanto, desmentem tal
objetivo: a concentração de renda está aumentando, gerando
desigualdade social que é o verdadeiro nome da injustiça.
A outra opção é por políticas de preservação do meio-ambiente
e da biodiversidade com medidas inteligentes mas cujos efeitos
demoram para se produzir. Ocorre que a falta de uma cultura
ecológica na sociedade e na política não oferece sustentação a
esta opção preservacionista. Ela não tem hegemonia e se
restringe ao Ministério de Meio Ambiente. A transversalidade
da Ministra Marina Silva tem pouco curso. O principal
responsável pelo desmatamento não é o Governo brasileiro, mas
o paradigma mundial de produção de bens materiais, que se
impõe a todos como modelo único. Acoçado pela alta dívida
externa, o Brasil se vê forçado a assumir este paradigma,
quando poderia ser um dos poucos paises do mundo a apresentar
e realizar uma alternativa. Lamentavelmente não há neste
Governo massa crítica para ousar outra via. Entretanto, os
mais importantes analistas mundiais já há anos estão
advertindo que esse modelo nos poderá levar a um grande
impasse. A médio prazo, ele será simplesmente insustentável,
especialmente agora que a China e a India se fizeram
verdadeiras bombas de sucção de recursos naturais escassos no
mundo inteiro.
Quanto à Amazônia precisamos cuidar dela senão o mundo usará
contra nós o argumento válido sobre toda propriedade privada:
ela só se legitima se guardar sua função social. Caso
contrário, poderá ser desapropriada. As políticas de Governo
devem garantir que a propriedade privada brasileira sobre a
Amazônia tenha clara função social mundial. Esperamos não ir,
gaiamente, em direção do pior. Senão nossos filhos e netos
irão dentro de pouco dizer contra nós: vocês sabiam do
desastre possível. Não quiseram ouvir a Ministra Marina Silva
e tantos outros. Vejam que Terra nos legaram, devastada, sem
mancha verde, sem água suficiente, sem biiodiversidade e sem
integridade. Talvez nem possamos mais regenerá-la. E então?
Et erat videre miseriam.
https://www.alainet.org/pt/articulo/112113
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