“O grande satã” versus o “demônio do terror”

10/07/2004
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A primeira reação de Tony Blair foi tentar mexer com o patriotismo dos ingleses diante de um ato de guerra contra a Grã Bretanha. “Não seremos vencidos pelo demônio do terror”. Saddam Hussein referia-se aos Estados Unidos e seus principais aliados, os britânicos em primeiro lugar, como o “Grande Satã”. A mesma expressão foi usada pelos aiatolás no início da revolução islâmica no Irã. Os mortos nas ações de guerra de ambos os lados são inocentes. Homens e mulheres no Afeganistão, no Iraque, nos Estados Unidos, na Inglaterra, na Espanha, pessoas de todos os cantos. A insanidade não é privilégio de Osama bin Laden. Tem consigo no desvario do terrorismo George Bush, Tony Blair e acólitos como Silvio Berlusconi, o presidente do Paraguai, o do México, da Colômbia, os generais paquistaneses, boa parte dos governos submetidos à cruzada democrática do terror de mercado. E o controle dos grandes meios de comunicação no mundo que dominam, ou aterrorizam com mariners, agentes da CIA, etc, etc. No próprio país do terror de mercado jornalistas estão sendo presos por não revelarem fontes que dão conta das atrocidades cometidas em larga escala contra povos de todo o mundo e nas mais diversas formas. O campo de concentração de Guantánamo, as prisões iraquianas e as próprias prisões dos EUA, cheia de presos sem culpa formada e acesso a defesa ou a instrumentos legais capazes de garantirem direitos mínimos. O Islã não prega o terror como tentam fazer crer e o ato que matou londrinos inocentes não foi terrorismo. Puro ato de guerra, de resistência contra essa modalidade terrorista disfarçada de “justiça infinita” e água benta distribuída ao mundo inteiro desde que comprada aos EUA, seus aliados e paga em dólar, de preferência. Qual o sentido, por exemplo, de comprar o Paraguai, à revelia dos paraguaios e ali instalar uma base militar? Terroristas em Foz do Iguaçu? Ou uma extraordinária riqueza em água, um dos bens mais preciosos do mundo atual? Ocupar a Amazônia brasileira através de ONGs ditas religiosas, organizações de caridade, diga-se de passagem, com a cumplicidade dos sucessivos governos do Brasil. Quais os objetivos desses atos imperiais? A invasão do Iraque foi produto de uma vontade deliberada de tomar conta do petróleo daquele país. Não havia armas químicas e nem biológicas e Saddam Hussein era uma ameaça apenas aos iraquianos. Suas bombas eram traques. Os jornais brasileiros estamparam, mesmo com a crise política que vive o País, manchetes das quais escorria o sangue e o patriotismo canalha dos donos do poder, falando em terror, em assassinos impiedosos. Todos os dias, no Iraque, morrem civis, homens e mulheres, crianças, idosos em número maior que os inocentes civis, homens, mulheres, crianças e idosos que morreram em Londres ou na ação de guerra contra o World Trade Center. Há notícias de estupros contra iraquianas e afegãs diariamente na imprensa e praticado por militares libertadores dos EUA. Chamar Osama bin Laden, um fanático religioso, de “grande demônio do terror” é só a retórica de um político corrupto, mentiroso (mentiu no caso das armas químicas e biológicas), a serviço de outra modalidade de terror, o de mercado, tão perigoso quanto o fanatismo de bin Laden. Teme, na farsa democrática, que no futuro eleitores ingleses se dêem conta que a Inglaterra é vítima de uma inconseqüência provocada por seu próprio governo. Essa luta do “Grande Satã” contra o “Demônio do Terror” é apenas a tragédia dos que assumiram o controle do mundo e se volta contra todos os trabalhadores e todas as pessoas em todos os cantos. Não há diferença entre Bush, Blair e bin Laden. E nem foi um ato de terror. Foi uma ação de guerra. Do contrário, todos os atos norte-americanos e britânicos no Iraque também terão que ser chamados atos de terrorismo. E nem falei do povo de Deus, o de Israel, que assassina impunemente palestinos ao longo de anos e anos. Muito menos do muro da vergonha, gostam dessa expressão, que separa os eleitos do Senhor, dos “malditos”. Outra forma de fascismo vivo.
https://www.alainet.org/pt/articulo/112418
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