Agosto de 1945 - marco do terrorismo dos EUA
Homenagem a Hiroshima e Nagazaki
15/08/2005
- Opinión
Quando dobraram os sinos fúnebres às 8:15 da manhã deste 6 de agosto, marcando o início das celebrações em homenagem às vítimas do bombardeio atômico perpetrado há 60 anos pela aviação estadunidense sobre as cidades japonesas de Hiroshima e Nagasaki, toda a humanidade amante da paz em cada canto deste vasto mundo deve ter expressado um ricto de dor, um sentimento de luto e algum gesto de condolência e solidariedade com as vítimas de um dos mais bárbaros atos de violência e terrorismo praticado pelo imperialismo norte-americano, sob falsos pretextos, no crespúsculo da Segunda Grande Guerra.
O Cebrapaz - Centro Brasileiro de Solidariedade aos Povos e Luta pela Paz se associa aos sentimentos do povo japonês e de todos os povos do mundo ao rememorar o trágico acontecimento. Ao condenar o barbarismo que resultou em genocídio e devastação, levantamos também a nossa voz contra a chantagem nuclear, o militarismo e a política de guerra praticados pelo governo dos Estados Unidos.
O número de mortos oficialmente reconhecidos em Hiroshima ultrapassa 220 mil. Outras 70 mil pessoas foram vítimas fatais do bombardeio que ocorreu três dias depois na cidade de Nagasaki e mais de 100 mil pessoas sofreram mutilações e contraíram enfermidades em decorrência da radiação nuclear.
Os bombardeios atômicos em Hiroshima e Nagasaki em 6 e 9 de agosto de 1945 estão, sem sombra de dúvidas, entre os mais covardes crimes de guerra já praticados contra a humanidade. Muito embora os círculos imperialistas norte-americanos defendam que o uso da bomba atômica foi necessário para obter a capitulação japonesa, que viria a ocorrer no dia 15 de agosto, os fatos demonstram que foi absolutamente desnecessário. A Europa já tinha assistido três meses antes, ao triunfo das forças aliadas. O Japão estava praticamente derrotado e em vias de assinar sua rendição. O que os EUA pretendiam, já sob o comando de Harry Truman, que como vice-presidente sucedera a Roosevelt em razão da sua morte, era evitar a abertura da frente oriental pela União Soviética, conforme acordo celebrado na Conferência de Yalta, realizada entre 7 e 14 de fevereiro de 1945, na presença de Stálin e Roosevelt. Com desmedido cinismo Truman argumentou que os bombardeios atômicos eram indispensáveis como medida preventiva à invasão do Japão pela União Soviética.
Na verdade, com o uso das armas nucleares pela primeira vez na história, queriam os imperialistas estadunidenses deixar patenteada a sua superioridade militar como manifestação inequívoca de que se tornara a superpotência mundial, sem competidor à altura, no pós Segunda Grande Guerra. Inaugurava-se desse modo a etapa da intimidação e da chantagem nuclear por parte dos Estados Unidos, logo frustrada pela fabricação do artefato nuclear pela União Soviética em 1949. Tempos depois a Inglaterra (1952), a França (1960), a China (1964) realizaram testes nucleares e quebraram o monopólio estadunidense, de tal maneira que no período que ficou conhecido na história como a "Guerra Fria", teve lugar uma encarniçada corrida armamentista envolvendo principalmente os EUA e a URSS.
A tragédia de Hiroshima e Nagasaki constituiu assim o marco miliário da chantagem nuclear e de uma sucessão de guerras de agressão contra países e povos independentes que, sob circunstâncias formas e pretextos diversos, prossegue até os nossos dias. O imperialismo norte-americano perpetrou genocídios durante a intervenção na Coréia, no Laos, Cambodja e Vietnã, sobre cujo território despejou armas químicas que até hoje produzem efeitos maléficos à população.
Terminada a Guerra Fria, empenhados em redesenhar a ordem mundial de tal maneira a assegurar a hegemonia absoluta, o imperialismo norte-americano, levantando o falso pretexto de combater o terrorismo e impedir que os países dum mitológico eixo do mal possuam armas de destruição em massa, elaboraram e estão pondo em prática a estratégia da "guerra preventiva" para o que criaram também uma nova política nuclear. Esta política consiste em fabricar novas armas e assegurar aos EUA o direito de ser o primeiro a utilizá-las, atribuindo assim o caráter de armas ofensivas e não mais dissuassivas. Esta é a razão por que os EUA não assinaram o Tratado que proíbe o uso das armas biológicas, recusaram-se a ratificar o Tratado de Proibição Integral de Provas Nucleares, abandonaram o Tratado sobre Mísseis Anti-Balísticos e retomam o programa que ficou conhecido como "Guerra nas Estrelas".
Neste começo de século a humanidade está testemunhando o drama representado pela realização dos tenebrosos planos belicistas do imperialismo. As guerras contra o Afeganistão e o Iraque com todo o seu cortejo de destruição e morte para as populações vítimas dos atos de agressão, criam um ambiente de insegurança e terror que afeta todos os países.
Ao relembrar a hecatombe provocada pelo banditismo do imperialismo norte-americano em Hiroshima e Nagasaki, ouvindo com emoção o badalar dos sinos e os cânticos pacifistas das crianças japonesas, as forças que lutam pela paz em todo o mundo associam à sua dor e ao seu espanto por tão hediondos crimes de lesa humanidade uma reflexão e uma atitude. Guerras de agressão e genocídios são o resultado da natureza do imperialismo. As políticas levadas a efeito pelos EUA, se não forem contidas, resultarão em semelhantes tragédias. Impedi-las é, pois, o mister das forças que lutam pela paz em todo o mundo, contra o militarismo, a corrida armamentista e a política de guerra dos países imperialistas. Para que jamais se repitam as devastações ocorridas em 6 e 9 de agosto de 1945.
- Socorro Gomes é presidenta do Cebrapaz - Centro Brasileiro de Solidariedade aos Povos e Luta pela Paz.
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