OMC: Amordaçam camponesas/es

18/12/2005
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Se algo se destacou em torno da VI Reunião Ministerial da OMC, que culminou ontem em Hong Kong, é a criatividade com que se realizaram as mobilizações de resistência pacifica, onde a cultura e suas diferentes expressões foram um ponto de encontro para os milhares de delegadas/os de todos os horizontes do planeta. Mas no sábado, 17 de dezembro, a polícia de Hong Kong interrompeu violentamente a marcha pacífica, organizada pela Via Campesina para expressar sua postura ante a agenda da OMC, deixando como saldo cerca de 70 pessoas feridas e mais de 500 presos. Milhares de militares sitiaram a cidade num tempo recorde, reprimiram com violência os manifestantes, e cercaram o grupo de camponesas/os que tinha conseguido chegar practicamente até a mesma entrada do lugar onde se realiza a ministerial, para conduzí-los a uma prisão local ?especialmente? preparada para a ocasião. Estima-se que haviam 10 policiais por manifestante nesta área e de três nos arredores. Ontem a Via Campesina voltarou a manifestar, pois segundo explica Josie Riffaud do Comitê de Coordenação Internacional da organização, ?o movimento camponês, que não é parte das esferas da OMC nem está sujeito a consulta, não tem outra possibilidade para fazer ouvir sua voz e expressar seu desespero, ante o iminente aniquiliamento de seu modo de vida, que resulta das decisões tomadas em reuniões como esta?. De fato, a pressão a medir-se, em preços, tecnologias e tipos de produtos, com as grandes corporações ou com o agronegócio nacional, empurra cada vez ao campesinato ao endividamento, a quebra, a emigração e inclusive ao suicídio, sobretudo na Ásia. O desaparecimento do modo de vida no campo para converter o campo numa grande indústria (como já esta sucedendo em muitos países) coloca o campesinato numa situação de vida ou morte, ou melhor, como enfatiza a coreana Yoon Geum Soon, ?...de resistência permanente e de luta especialmente na contramão da OMC que é quer um mundo sem camponesas/os?. Os problemas para o agronegócio são, então, bem mais fundo do que os assuntos de concorrência de mercado, subvenções ou a venda de qualquer produto; têm que ver com as orientações e o desenho do mundo delineado pelo mercado, cujos traços não deixam espaço para o campesinato. Com a participação de mais de duas mil delegadas/os, provenientes de todas as partes do mundo, a Via Campesina vem realizando em Hong Kong uma volumosa agenda, que compreende debates, reflexões, mobilizações, atos culturais e diferentes ações de sensibilização dirigidas à população local. Claro que tudo isto se desenvolve num espaço próprio, separado do lugar do a Reunião Ministerial, à qual não só que não foi convidada senão que está sendo repelida.
https://www.alainet.org/pt/articulo/113887?language=en

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