Sociedade de Sustentação da Vida
27/01/2006
- Opinión
Em muitos grupos de reflexão ecológica apresenta-se a Sociedade de
Sustentação de toda a Vida como alternativa à Sociedade de Produção
Industrial vigente. Queremos agora mostrar que esta proposta é a que mais
condiz com a ciência nova e com os conhecimentos alcançados nas últimas
décadas pelas várias ciências, especialmente ligadas à vida, à astrofísica
e à nova cosmologia.
O presuposto teórico da alterntiva da Sociedade de Sustentação de toda
Vida é a moderna visão segundo a qual tudo, o energético, o físico, o
psíquico, o econômico, o social e o espiritual não são instâncias
justapostas mas são todas interdependentes formando um complexo e grande
sistema. Niels Bohr, um dos criadores da mecânica quântica, bem dizia que
tudo está relacionado com tudo e não existe nada fora da relação. O
universo não é feito pela soma dos seres existentes, mas pela teia de
relações entre todos eles. Consoante esta perspectiva, a vida para que se
sustente, precisa encontrar aquele equilíbrio dinâmico de todos os fatores
interconectados que garantem reprodução e coevolução. Subjetivamente
significa que nós seres humanos temos um relacionamento íntimo com tudo o
que existe no universo. Como dizia o Chefe indígena Seattle:"o homem não
teceu a teia da vida, ele é é apenas um fio dela; o que fizer para a teia
estará fazendo para si mesmo".
As seguintes constatações científicas dão consistência ao que estaos
dizendo. A primeira delas é que a natureza se organiza sozinha. É um
sistema aberto em contínua interação de energia, matéria e informação. A
segunda é que a natureza se auto-estabiliza, quer dizer, se auto-regula
para compensar condições mutantes de seu ambiente. Dialoga continuamente
com o meio, se adapta, muda, integra elementos novos buscando um novo
equilíbrio. A terceira é a desintegração generativa. Quando a natureza não
consegue responder aos desafios ambientais, surgem anomalias,
desdobramentos não mais funcionais e por fim ocorre a desintegração.
Significa que aquele arranjo ecológico desaparece para dar lugar a outro
com mais possibilidades de interação e de nova síntese. Por isso trata-se
de uma desintegração generativa. É a lógica da semente que tem que morrer
para dar origem à planta. É a poda dos ramos para permitir novo vigor e
melhores frutos.
O ser humano e a cultura não estão fora desta lógica. Entraram num
processo de desintegração pois não dão mais conta dos problemas mundiais,
antes agrava-os. Receiam mudar e por isso se fazem repressivos. Mas vão
ter que mudar, pois esta é a lógica que permite a contuidade da vida e do
projeto humano sob outra forma.
Nesta transformação terá que ser posta em xeque a premissa básica da
Sociedade de Crescimento Industrial: a convicção de que os humanos são a
coroa da criação e a referência última de valor. A ecologia integral e
profunda nos liberta desta arrogância mostrando-nos que somos um elo da
comunidade de vida, inseridos num todo maior de quem somos guardiães. Não
queremos desaparecer mas continuar na rede.
A Socidade de Crescimento Industrial nos exilou da Terra e nos fez
romper os laços com a vida. Precisamos voltar ao nosso nicho natural. Essa
consciência é a base de uma Sociedade de Sustentação de toda a Vida,
aquela que fará nossa desintegração ser criativa e nos garantir ainda
futuro.
- Leonardo Boff da Comissão da Carta da Terra
https://www.alainet.org/pt/articulo/114181
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