Pelo povo palestino
02/07/2006
- Opinión
Eu pergunto quem nesse mundo que, tocado pela máquina estadunidense de ideologia, já não verteu milhares de lágrimas ao presenciar, no cinema, o drama dos judeus durante o governo de Hitler, na Alemanha? Quem não se comoveu com a Lista de Schlinder, com o A Vida é Bela e tantos outros filmes sobre o holocausto e o extermínio de uma gente cujo único crime era ter nascido sob a bênção da estrela de Davi? Ninguém passa impune por essa dor. E quem vê as imagens no cinema não pode evitar a perplexidade: como, naqueles dias, ninguém fez nada enquanto aquilo acontecia?
Pois agora aí está, o mesmo velho drama se repetindo. Desta vez com os palestinos. E o que é pior. Quem promove o massacre é o governo de Israel. É fato que existem muitos judeus contrários a essa política e é fato que esta é uma política do estado israelense e não do seu povo. Mas a pergunta que não cala é: como permitem os judeus que seu governo siga fazendo o que faz? Quando se levantarão contra o crime? Quando seguirão as palavras da Torá, do velho deus de Abraão que, por certo, não aprovaria um massacre como esse que vimos todos os dias nas cidades palestinas. Que deus impiedoso é esse que permite que seres sejam mortos pelo simples fato de serem palestinos? Nada mais...
Nunca é demais lembrar que o estado de Israel nasceu à força, sob a proteção dos Estados Unidos logo depois da segunda guerra. Diziam que tinham direito ao seu território original. Que eu saiba nunca negou que os judeus pudessem voltar para sua terra ancestral. O que se questionou desde sempre foi o fato de que ali já havia um povo e uma nação. O pensador egípcio Samir Amin lembra bem o fato de que se fosse um outro povo qualquer que buscasse voltar às suas terras originárias – o povo africano por exemplo, levado à força para as Américas – haveria quem aprovasse isso? Ainda mais se os africanos que quisessem voltar fossem apenas o de uma determinada religião? Isso não seria visto como um tremendo absurdo? Ou então, se todos os católicos do mundo reivindicassem a ocupação da Itália para lá fazer seu estado, seriam aceito pelo mundo?
As gentes da palestina por certo não veriam problema em acolher os judeus que quisessem viver ali, em harmonia, construindo um governo de paz. O que nunca aceitaram foi a violência, a invasão, a destruição e a sua própria diáspora. Naqueles dias de 1948 milhares de palestinos tiveram de fugir para a Jordânia e dali para outras tantas partes do mundo por conta da invasão. Por que a diáspora palestina é menos injusta que a dos judeus? Quem instituiu isso?
Agora, estamos de novo diante de mais e mais barbáries contra o povo palestino. E é bom lembrar que estas pessoas já foram obrigadas a abandonar seu território, já tiverem milhares de filhos mortos, têm um muro vergonhoso que lhes rouba a liberdade de caminhar pela sua própria terra, de visitar os parentes. Pois para Israel não basta. Ao que parece, o governo sionista quer exterminar até o último palestino. E o mundo está quieto. E o mundo deixa que isso ocorra sem um grito de basta!! O que esperam as gentes? Que passem os anos e que a máquina do cinema nos mostre as imagens de ficção para que todos possam verter lágrimas de dor?
Pois a dor das gentes palestinas é real agora. As imagens da Palestina são reais. Casas bombardeadas, crianças mortas pelo chão, jovens estraçalhados, a vida se extinguindo. E nenhum crime cometeram. Apenas existem ali, num lugar que o governo de Israel judeu quer para si. Resistem com desespero. São chamados terroristas. Mas, afinal quem é que promove o terror? O que é o terror? Não seria o contrário? Terrorista é o governo de Israel, que usa tanques contra velhos. Que usa fuzis contra crianças, que humilha homens de bem, que aprisiona a vida das gentes em sua própria casa?
Então, o que podem fazer as gentes diante desse terror? Por todos os cantos de “nuestra América” travam-se batalhas contra as injustiças, contra os acordos predadores que o império impõe, contra a discriminação. Penso que é hora de todo esse povo em luta incluir entre as suas bandeiras o fim do massacre contra o povo palestino. Ninguém pode mais se omitir. Se todo o planeta se levantar, quem sabe as coisas não mudam? E, ainda assim, se não mudarem, pelo menos aquela gente que vive sob as bombas de Israel vai saber que o mundo se importa, que eles não estão sós. É hora de as gentes saírem às ruas! Contra o governo de Israel, a favor do povo palestino.
- Elaine Tavares – jornalista no Ola/UFSC. O OLA é um projeto de observação das lutas populares na América Latina. www.ola.cse.ufsc.br
https://www.alainet.org/pt/articulo/115815
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