Terra madre e a alimentação saudável
27/07/2006
- Opinión
Comer e escrever são o que mais nos diferenciam dos animais. Sabemos que eles pensam, cantam e cuidam da educação dos filhos. Muitos têm habilidades mais aperfeiçoadas que as humanas, como o senso de direção, o olfato e a capacidade de mover-se numa selva sem se ferir. Nós, homens e mulheres, somos os únicos animais que manipulam e cozinham os alimentos antes de ingeri-los. E fazemos da culinária obra de arte.
A industrialização afeta duplamente os alimentos: pela poluição do meio ambiente e pela utilização de recursos químicos destinados a produzi-los mais rápido, em maior quantidade e com melhor aparência (uso de agrotóxicos, manipulação genética, acréscimo de substâncias produzidas em laboratório etc).
Não sabemos exatamente quantas enfermidades contraímos por força dessa desnaturalização dos alimentos. O fato é que ela se soma ao nosso sedentarismo, à nossa ignorância em matéria de reação do organismo a cada alimento, à pressa (fast food) com que tomamos as refeições e à gula.
Na contramão deste quadro preocupante nasceu, em 1986, Slow Food, importante associação internacional empenhada na defesa da biodiversidade agroalimentar, que de 26 a 30 de outubro promoverá, em Turim, Itália, o encontro mundial entre comunidades do alimento o evento Terra Madre.
Desde 1996 Slow Food cataloga os alimentos tradicionais ameaçados de extinção em todo o mundo. É a Arca do Sabor, que apóia as comunidades interessadas em preservá-los, como é o caso do guaraná da Amazônia.
Em 1999 nasceu o projeto Baluartes, que incentiva produções alternativas, artesanais, situadas fora dos processos agroindustriais que controlam a maioria dos produtos oferecidos por supermercados.
Slow Food descarta também os produtos transgênicos, seja pela ameaça à saúde, seja por fortalecerem o monopólio de empresas transnacionais. Os transgênicos tendem a privar os agricultores de liberdade na escolha dos produtos a cultivar. Quando o pólen das plantações de organismos geneticamente modificados (OGM) viaja quilômetros, através das aves, e poliniza cultivo convencional ou biológico, os agricultores involuntariamente investem capital e trabalho na colheita de produtos que não plantaram. Slow Food defende ainda a rotulagem de todos os produtos contendo OGM, para facultar aos consumidores a escolha consciente do que ingerem.
Em outubro de 2004 ocorreu em Turim o primeiro evento Terra Madre, do qual participaram 4.888 delegados de 1.250 comunidades do alimento de 130 países: camponeses, pecuaristas, pescadores, cozinheiros etc. Havia ampla representação brasileira, da qual fiz parte.
Para outubro deste ano estão previstas 1.500 comunidades do alimento, 1.000 cozinheiros e delegações de 200 universidades. Na pauta, três grandes temas: antigas práticas de produção e consumo de alimentos; criatividade dos produtores atuais; a ciência acadêmica e a alimentação.
Para os interessados, mais informações pelo site www.slowfood.com http://www.slowfood.com/ ou terramadre@slowfood.it
* Com a transvivenciação de José Maria Cançado e Gianfrancesco Guarnieri pederam a literatura e a teledramaturgia dois grandes talentos. E perdi dois admiráveis amigos.
Frei Betto é escritor, autor, em parceria com Maria Stella Libanio Christo, de ³Saborosa viagem pelo Brasil Limonada e sua turma em histórias e receitas a bordo do fogãozinho² (Mercuryo Jovem), entre outros livros.
https://www.alainet.org/pt/articulo/116304?language=en
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