Mentiras estadunidenses para justificar a guerra
30/08/2006
- Opinión
Na última terça-feira, os dois principais auxiliares de Bush, o secretário da Defesa, Donald Rumsfeld, e a secretária de Estado, Condoleezza Rice, deram declarações reafirmando a opção belicista da Casa Branca, que procuram justificar com argumentos inconsistentes.
Rumsfeld criticou duramente os que se opõem à guerra no Iraque e à autoproclamada política antiterrorista dos Estados Unidos. Falando para uma platéia de ex-militares, o responsável pelas atuais guerras “preventivas” com que os EUA agrediram povos e violaram soberanias nacionais fez comparações históricas descabidas no afã de encontrar uma justificativa plausível para a política militarista em vigor.
Para o chefe do Pentágono a guerra “antiterrorista” norte-americana guarda semelhança com a luta antifascista na II Guerra Mundial. “Lembro a história porque mais uma vez nos encontramos diante de desafios similares para fazer frente à crescente ameaça de um novo tipo de fascismo”. E exagera o papel dos Estados Unidos naquele episódio da história mundial.
Não há termo de comparação, o secretário de Bush labora em erro. O fascismo contra o qual lutaram os povos, tendo à frente a ampla coalizão na qual participava como uma das principais forças a União Soviética socialista, foi uma expressão concreta do imperialismo naquele momento histórico preciso. Os Estados Unidos só entraram na guerra e só combateram a potência alemã na medida em que isto passou a interessar aos seus próprios planos de domínio mundial.
A atual guerra “antiterrorista” de Bush nada tem a ver com luta antifascista. A luta antifascista nos anos 30 e 40 teve um caráter profundamente democrático e revolucionário. Em grande medida, foi uma luta em defesa do socialismo e teve como corolário o surgimento das democracias populares, sob a direção dos comunistas, no Leste da Europa e na Ásia, assim como o aprofundamento da democracia nos países ocidentais. No interior dos próprios Estados Unidos avançou à época a consciência democrática e adquiriu novo sentido a luta em defesa da Carta dos Direitos, da Constituição e pela igualdade, racial e social. A tal ponto que logo depois os círculos direitistas norte-americanos reagiram com o Macartismo, já no quadro da guerra fria contra a União Soviética.
Diferentemente do fascismo, o que o governo estadunidense ultraconservador de nossos dias combate como “terrorismo” são forças políticas e Estados nacionais que por uma ou outra razão contrariam os seus interesses imperialistas, planos expansionistas e de domínio do mundo. E o fazem lançando mão de métodos terroristas, praticando o que as forças democráticas denunciam como terrorismo de Estado. Desse modo, se fascismo há, trata-se do neofascismo norte-americano.
É ledo engano supor que sob essa esfarrapada bandeira os Estados Unidos conseguirão formar e dirigir alguma coalizão de forças democráticas. Aliás, o próprio presidente Bush o admite ao ameaçar países soberanos quando afirma que o mundo tem de escolher entre “ficar conosco ou contra nós”, brandindo as armas com que pretende punir os que ficarem contra.
No mesmo evento em que Rumsfeld fez suas falsificações históricas, a secretária de Estado, Condoleezza Rice, descartou a retirada das tropas norte-americanas do Iraque. Para ela, “a estratégia americana no Iraque pode ter sucesso e terá mas se partirmos antes do tempo, o custo do fracasso será alto, de fato será incalculável”. O que a secretária não admitiu de público, mas tira o seu sono e o dos demais estrategistas da Casa Branca, do Departamento de Estado e do Pentágono é que na prática sua política de ocupação no Iraque já está fracassando, na medida em que cresce a resistência nacional e os ocupantes não conseguem encontrar meios de promover a estabilidade política nem impedir a guerra civil.
Rumsfeld e Rice cumprem o seu papel. Eles têm de falar em nome do núcleo duro da Administração ultraconservadora de Bush para reagir ao cada vez mais amplo e intenso movimento antiguerra no país, que galvaniza diferentes setores da sociedade e ecoa até mesmo no Capitólio, onde a presença de tropas estadunidenses no Iraque é motivo de acesas controvérsias entre republicanos e democratas. Eles têm de tergiversar e mentir, desviar a atenção e inventar pretextos não só para permanecer ocupando o Iraque, mas também para levar adiante o seu tenebroso plano de “reestruturação do Oriente Médio”. As sucessivas derrotas que estão sofrendo inspirarão novas mentiras e declarações diversionistas.
- José Reinaldo Carvalho, Jornalista. Diretor de Comunicação do Cebrapaz e membro da Comissão Política do CC do PCdoB.
Fonte: http://www.vermelho.org.br/base.asp?texto=6931
https://www.alainet.org/pt/articulo/116803
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