Ofensiva pela manutenção da política econômica
09/11/2006
- Opinión
A mídia conservadora brasileira não se intimidou com o revés sofrido no segundo turno das eleições presidenciais. Enquanto setores da esquerda mais próximos ao presidente reeleito Luiz Inácio Lula da Silva comemoram a derrota imposta à grande imprensa, esta nem bem esperou a apuração acabar para iniciar uma nova batalha. Dessa vez, em torno da condução da política econômica do país.
"A mídia tentou derrubar o Lula e agora resolveu fazer o ministério dele. Não é só isso. Querem arbitrar sobre qual é a política econômica que ele tem que fazer", observa o economista José Carlos de Assis, editor do site Desemprego Zero. Para ele, entretanto, o mais importante é o compromisso assumido pelo presidente de fazer o país crescer 5% por ano.
É exatamente esse compromisso político para o segundo mandato que preocupa a elite conservadora e, por extensão, a grande imprensa. Evidentemente, não se pode bater de frente com uma meta dessas e proclamar-se contra o crescimento. Sendo assim, surgiu um plano econômico que passou a permear as páginas dos maiores jornais do país.
A proposta seria assim. Apenas cortar juros não é suficiente para fazer uma economia se desenvolver. Tais recursos , sugere a grande imprensa, aliás mesma proposta do tucano Geraldo Alckmin, na campanha presidencial, viriam do corte de gastos públicos para ter sobra de caixa e, assim, reduzir a carga tributária. Pagando menos impostos, os empresários teriam mais dinheiro para investir e, assim, reanimar a economia. É o choque de gestão de Alckmin.
"A proposta não passa de um fetiche ideológico neoliberal que tem como pano de fundo a idéia de Estado mínimo. Para crescer 5% ao ano, a redução de gasto público é um contra-senso. Ao cortar o déficit nominal, como é a pretensão por detrás disso, vai-se acelerar a recessão", sentencia Assis.
Para o economista, esse modelo serve para quem tem dinheiro a ser aplicado em juros da dívida pública: o sistema financeiro e as empresas que têm os bancos como intermediários do seu saldo de caixa. Segundo ele, a proposta seria elevar o superavit primário (economia de despesa pública), cujo montante acaba sendo repassado para o pagamento de juros da dívida pública. "É transferência de recurso de pobre para rico", sintetiza.
Assis acredita que, numa sociedade com altas taxas de desemprego, como a brasileira, o gasto público deficitário é fundamental para retomar a economia. O corte nos juros seria uma maneira de criar uma folga fiscal que permitiria investir ainda mais. "Se a economia crescer 7% ao ano por meia década, a carga tributária como proporção do PIB passaria dos atuais 37% para 28%", prevê. De quebra, o déficit nominal chegaria a zero graças ao aumento da arrecadação decorrente do crescimento e à redução das despesas com juros.
Manipulação
Ou seja, a imprensa conservadora promove um plano para deixar tudo como está. "A mídia brasileira é muito ardilosa. Ela reflete bem o que é a nossa burguesia", comenta o jornalista Altamiro Borges, editor da Revista Debate Sindical. Ele compara a elite tupiniquim com a venezuelana que, aos primeiros sinais de contrariedade a seus interesses, tentou um golpe de Estado, mal-sucedido, contra o presidente Hugo Chávez, em abril de 2002. "A burguesia brasileira não dá o jogo por vencido, não vai para a confrontação direta. Tenta enquadrar por meio da cooptação para, num segundo momento, adotar uma postura de linchamento", analisa.
Para ele, a mídia comercial também adotou como alvo a política externa, pressionando para uma reaproximação do Brasil com os Estados Unidos e a União Européia. Em paralelo, quer que o governo endureça a relação com a Venezuela e a Bolívia. Também impede debates sobre a concentração do poder midiático. "Não querem discutir o papel da mídia no Brasil. Não aceitam debater a criação de um canal público, aberto e de qualidade. Não aceitam o fortalecimento de meios alternativos de comunicação. Não aceitam discutir a questão das verbas publicitárias do Estado", afirma.
Setor estratégico
"A mídia comercial opôs a Lula na campanha eleitoral. Esperava que seus formadores de opinião interferissem na decisão de voto da maioria dos brasileiros. Passada essa questão, a posição editorial deixou para o segundo plano formar opinião. Agora, está interessada em influenciar a política pública, diretamente com os eleitos", observa o sociólogo Venício Lima, professor da Universidade de Brasília (UnB).
A imprensa tem força até para alterar a governabilidade de um país, diz Venício. "São atores políticos com um peso considerável. Primeiro porque constituem um setor de atividade econômica com um percentual significativo do PIB. Segundo, porque esses atuam no campo simbólico, que é o palco da decisão política", explica.
Em discurso para empresários no dia 6, Lula brincou sobre a sua vitória eleitoral, agradecendo o fato de o Brasil ter mais povo do que formadores de opinião.
Fonte: Brasil de Fato
http://www.brasildefato.com.br/v01/agencia/nacional/news_item.2006-11-08...
"A mídia tentou derrubar o Lula e agora resolveu fazer o ministério dele. Não é só isso. Querem arbitrar sobre qual é a política econômica que ele tem que fazer", observa o economista José Carlos de Assis, editor do site Desemprego Zero. Para ele, entretanto, o mais importante é o compromisso assumido pelo presidente de fazer o país crescer 5% por ano.
É exatamente esse compromisso político para o segundo mandato que preocupa a elite conservadora e, por extensão, a grande imprensa. Evidentemente, não se pode bater de frente com uma meta dessas e proclamar-se contra o crescimento. Sendo assim, surgiu um plano econômico que passou a permear as páginas dos maiores jornais do país.
A proposta seria assim. Apenas cortar juros não é suficiente para fazer uma economia se desenvolver. Tais recursos , sugere a grande imprensa, aliás mesma proposta do tucano Geraldo Alckmin, na campanha presidencial, viriam do corte de gastos públicos para ter sobra de caixa e, assim, reduzir a carga tributária. Pagando menos impostos, os empresários teriam mais dinheiro para investir e, assim, reanimar a economia. É o choque de gestão de Alckmin.
"A proposta não passa de um fetiche ideológico neoliberal que tem como pano de fundo a idéia de Estado mínimo. Para crescer 5% ao ano, a redução de gasto público é um contra-senso. Ao cortar o déficit nominal, como é a pretensão por detrás disso, vai-se acelerar a recessão", sentencia Assis.
Para o economista, esse modelo serve para quem tem dinheiro a ser aplicado em juros da dívida pública: o sistema financeiro e as empresas que têm os bancos como intermediários do seu saldo de caixa. Segundo ele, a proposta seria elevar o superavit primário (economia de despesa pública), cujo montante acaba sendo repassado para o pagamento de juros da dívida pública. "É transferência de recurso de pobre para rico", sintetiza.
Assis acredita que, numa sociedade com altas taxas de desemprego, como a brasileira, o gasto público deficitário é fundamental para retomar a economia. O corte nos juros seria uma maneira de criar uma folga fiscal que permitiria investir ainda mais. "Se a economia crescer 7% ao ano por meia década, a carga tributária como proporção do PIB passaria dos atuais 37% para 28%", prevê. De quebra, o déficit nominal chegaria a zero graças ao aumento da arrecadação decorrente do crescimento e à redução das despesas com juros.
Manipulação
Ou seja, a imprensa conservadora promove um plano para deixar tudo como está. "A mídia brasileira é muito ardilosa. Ela reflete bem o que é a nossa burguesia", comenta o jornalista Altamiro Borges, editor da Revista Debate Sindical. Ele compara a elite tupiniquim com a venezuelana que, aos primeiros sinais de contrariedade a seus interesses, tentou um golpe de Estado, mal-sucedido, contra o presidente Hugo Chávez, em abril de 2002. "A burguesia brasileira não dá o jogo por vencido, não vai para a confrontação direta. Tenta enquadrar por meio da cooptação para, num segundo momento, adotar uma postura de linchamento", analisa.
Para ele, a mídia comercial também adotou como alvo a política externa, pressionando para uma reaproximação do Brasil com os Estados Unidos e a União Européia. Em paralelo, quer que o governo endureça a relação com a Venezuela e a Bolívia. Também impede debates sobre a concentração do poder midiático. "Não querem discutir o papel da mídia no Brasil. Não aceitam debater a criação de um canal público, aberto e de qualidade. Não aceitam o fortalecimento de meios alternativos de comunicação. Não aceitam discutir a questão das verbas publicitárias do Estado", afirma.
Setor estratégico
"A mídia comercial opôs a Lula na campanha eleitoral. Esperava que seus formadores de opinião interferissem na decisão de voto da maioria dos brasileiros. Passada essa questão, a posição editorial deixou para o segundo plano formar opinião. Agora, está interessada em influenciar a política pública, diretamente com os eleitos", observa o sociólogo Venício Lima, professor da Universidade de Brasília (UnB).
A imprensa tem força até para alterar a governabilidade de um país, diz Venício. "São atores políticos com um peso considerável. Primeiro porque constituem um setor de atividade econômica com um percentual significativo do PIB. Segundo, porque esses atuam no campo simbólico, que é o palco da decisão política", explica.
Em discurso para empresários no dia 6, Lula brincou sobre a sua vitória eleitoral, agradecendo o fato de o Brasil ter mais povo do que formadores de opinião.
Fonte: Brasil de Fato
http://www.brasildefato.com.br/v01/agencia/nacional/news_item.2006-11-08...
https://www.alainet.org/pt/articulo/118113?language=en
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