Dentro da “ordem” não existe solução

20/12/2006
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A denúncia do jornalista Rodrigo Vianna, da Rede Globo, sobre manipulação de notícias, distorções deliberadas, tudo em relação ao pleito de outubro deste ano, as eleições presidenciais, ensejam algumas conclusões elementares meu caro Watson.

A primeira delas é que na “ordem” não existe solução. A “ordem” está podre.

Aquele negócio de acorda, levanta, sai, trabalha, come, trabalha, volta e dorme, que Miguel Gustavo tratou num samba maravilhoso gravado por Carminha Mascarenhas na década de 60 e depois Chico em seu “Cotidiano”, ou Caetano em “eu quero é tocar fogo nesse apartamento”, é uma realidade dramática de sobrevivência da espécie diante de um poder incrível que determina até a melhor marca de papel higiênico.

Há muitos anos atrás um diretor desses de filmes B, me escapa o nome do dito e o nome do filme, mostrou o poder da tecnologia num computador que precedeu Hall 2001. A solução era simples: desligar a tomada.

A tomada de um poder que junta todo esse arremedo de “ordem” institucional, fundada em padrões éticos, morais, cristãos e ocidentais e que hoje se mostra a cores e em versão digital, home teather e transforma pessoas em joguetes do tipo “o coroa caiu façam suas apostas o lance mínimo é de mil reais”.

Ridículo num quadro de mesas de sinuca às 8 da noite.

Reproduz-se a ética da lei de Gérson, levar vantagem em tudo.

Uma das explicações dos cientistas políticos, lógica e sensata, para a eleição de figuras como Maluf, Clodovil, Garotinho, Rosinha, Bejani e outros mais, passa por aí: o regozijo com o triunfo de um igual.

É lá em cima, é cá em baixo.

Flávio Cavalcanti, notório dedo dura à época da ditadura militar, foi um dos precursores da farsa e da mentira na televisão. E ao vivo, num tempo em que não haviam as gravações e edições de hoje.

Lançado, em 1957, o Sputinik, montou todo um programa, “Noite de Gala”, para mostrar que o poderio da então União Soviética mostrava apenas a ditadura cruel e perversa do comunismo. Lá, os velhos eram mortos para não pesarem nas despesas públicas e as crianças arrancadas de seus pais.

Ao desembarcar em Cuba, João Paulo II, o papa norte-americano, que alguns dizem ter nascido na Polônia, ouviu de Fidel Castro que “milhões de crianças dormirão nas ruas do mundo hoje, mas nenhuma delas é cubana”.

A carta do jornalista Rodrigo Vianna mostra que a gota d’água existe. Que consciência é realidade. Que dela não fugimos sob pena de virarmos seres amorfos e sem vida, por mais íntegros que possamos ser.

A Globo, em si e por si, é apenas a mentira do mundo oficial. Onde se misturam interesses e vontades dos barões da tecnologia, travestidos na ordem moral e “democrática”, que é preciso chegar à hora certa e estabelecer prioridades que não rompam os limites do imposto sob as mais variadas formas de dominação que a mídia exibe.

Não são só eleições. Eleições são apenas um momento em todo o processo.

É todo o conjunto. Uma subeditora da revista “Superinteressante” disse a estudantes de comunicação, em palestra, que “é bobagem falar da grande mídia, pois em que lugar do mundo uma filha de favelada chegaria onde chegou”.

Não há diferença entre Beira-mar e os Marinhos, que podem ser Frias, ou Civitas.

Mas existe um processo aviltante de degradação do ser humano.

William Bonner é apenas um dos que aceitou ser robô em todo esse emaranhado que constrói o poder que transforma o Natal numa festa de consumo desvairado e a vida numa grande depressão.

Viva os laboratórios.

Viva a Globo.

Viva toda a manipulação.

No próximo ano todos serão felizes.

Os velhos continuarão a ser assassinados na falta de saúde, de qualquer tipo de amparo, nas aposentadorias miseráveis e as crianças continuarão a ser roubadas pelo tráfico e pela indigência de amor, pois os pais têm uma agenda a cumprir em nome do futuro.
O futuro está no plim plim.

Ou a “ordem” é rompida, está podre e nenhuma fiscalização resolve. Pede por baixo dos panos também, é parte do esquema, ou não haverá sobrevivência mínima do ser.

Já o coroa, esse atônito e perplexo por ser adereço, na incompreensão da realidade e em seus próprios erros e inconseqüências por conta da perplexidade, imaginou de forma infantil que o segredo da vida estivesse numa vida cantada por uma libélula numa tribo primitiva da América do Sul.

Fernão Capelo Gaivota só em filme.

Abraços só em datas festivas. Fora dessas efemérides se constituem risco ao poder. Maior ou menor.

A vida é o que a Globo manda. E a Globo manda o que os defensores e cultores da “ordem” determinam. Fila indiana para os abraços e trocas de presentes.

E a Globo é todo o processo de dominação exposto vinte e quatro por dias. A ponta visível.

Que pena que o aparente e às vezes aterrador esoterismo da alma e da consciência não se materializem na célebre receita de Sérgio Porto: “o melhor da televisão é o botão de desligar”. Vale para a ordem instituída e cronometrada.

“Quem lê tanta notícia”

Ou joga para o alto ou não tem saída.

Foi tudo isso que Rodrigo Vianna mostrou em sua carta. Um gesto de sobrevivência.

Não quis ser Miriam Leitão da vida.
https://www.alainet.org/pt/articulo/118794
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