O Etanol não será o nosso salvador limpo e verde!

09/04/2007
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Parece que os cidadãos das sociedades industrializadas, ainda irão agarrar-se ao seu estilo de vida extravagante e ao maciço super-consumo por algum tempo. A mudança climática ainda é vista pela maioria – como algo que pode ser consertado através de leis, regras mais rígidas e punições dos grandes poluidores – e no que se diz ser uma solução limpa e verde, o etanol.

Sim, todos podemos nos agarrar aos pedaços de inox, borracha e vidro, os símbolos do excesso e irracionalidade do século XX desde que passemos a queimar álcool.

Essa forma particular de ilusão coletiva pareceu loucura suficiente para inspirar Fidel Castro ainda convalescente, a levantar da cama e escrever o primeiro editorial para o principal jornal do país, o Granma, desde que adoeceu em julho do ano passado. Não é que haja uma falta de questões para o grande comandante comentar. Mas ele considerou essa a mais importante. Por quê?

Citando as palavras de castro: “Mais de três bilhões de pessoas no mundo estão condenadas a uma morte prematura por fome e sede... Essa idéia sinistra de transformar alimentos em combustível foi definitivamente estabelecida como a estratégia econômica da política Norte Americana na segunda-feira, dia 26 de março de 2007.”

Foi nesse dia que o Presidente George Bush se encontrou com os Presidentes das Três Grandes empresas automobilísticas, declarando que o etanol é o próximo combustível estratégico para o império – e uma resposta parcial para as suas políticas fracassadas no Oriente Médio.

20 por cento de solução?

Castro estava falando do milho, mas esse não é o único grão que os defensores do etanol estão considerando --- trigo, semente de girassol, canola e outros alimentos já estão sendo usados, ou estão na mira das grandes empresas de petróleo. A demanda por etanol será tão gigantesca que somente as maiores e mais capitalizadas corporações dos Estados Unidos poderão se beneficiar - eliminando os pequenos produtores com a alta dos preços do milho.

Bush ao sair da reunião com os Três Grandes proclamou que pretendia reduzir em 20 por cento o consumo de gasolina em 10 anos – um número impressionante se for levado a sério, e que irá exigir 35 bilhões de galões de etanol. Logicamente Bush e os seus aliados corporativos discutiram o uso de lascas de madeira e grama também, mas o milho é a chave. Para produzir tanto etanol serão necessários 320 milhões de toneladas de milho. A FAO, Organização de Alimento e Agricultura da ONU dia que a produção de milho dos Estados Unidos em 2005 chegou a 280 milhões de toneladas. Os Estados Unidos produzem 40 por cento do milho do mundo e controlam os preços do mercado. Não é necessário um cálculo elaborado para ver que somente para atender a demanda de etanol dos Estados Unidos nos próximos 10 anos, irá exigir 46 por cento do suprimento de milho do mundo.

Isso é obsceno. Por que a maior parte desses bilhões de toneladas de milho são hoje consumidos pelos povos do mundo – em sua maioria pobres – ou são usados como ração para seus animais de criação. Isso significa que o mundo terá que produzir mais e mais grãos apenas para manter a posição em que se encontra hoje, mas ao mesmo tempo em que a demanda por etanol aumenta, aumenta também o preço do milho. A FAO diz que a concorrência entre grãos para combustível e grãos para alimento já está ocorrendo e foi a principal explicação para o declínio dos estoques de grãos no mundo na segunda metade de 2006.

Como Castro salientou em seu artigo para o Granma, o preço do milho não vai apenas estar fora de alcance para milhões de pessoas, “Mas o que é pior é que, se os países pobres receberem algum tipo de financiamento para produzir etanol de milho ou outro alimento, muito em breve não haverá uma árvore sequer em pé para proteger a humanidade da mudança climática.” Ele também demonstrou que a sua compreensão dos eventos mundiais está aguda como sempre, e que o aumento da demanda de grãos para energia irá exacerbar grandemente a falta de água crítica que dois terços da humanidade enfrentam.

Números desanimadores


Apesar desse cenário catastrófico ainda há aqueles que argumentam que os retornos devem ser considerados e que a mudança climática global causada pelas emissões de carbono deve ser atacada. Mas recentemente dois estudos Canadenses levantaram sérias dúvidas sobre o que realmente obtemos desse comércio moralmente questionável. Os Estados Unidos podem muito bem optar pela reposição estratégica do petróleo, mas há sérias dúvidas de que o clima global irá se beneficiar com isso. Um estudo feito por Frédéric Forge da Biblioteca do Biblioteca do Parlamento que esta trabalhando na sua divisão de ciência e tecnologia. Forge diz que o benefício do esforço maciço necessário para dez por cento de etanol em todos os veículos será mínimo: “Na verdade, se 10 por cento do combustível consumido for etanol feito de milho [em outras palavras, se fosse usado em todos os veículos], as emissões do efeito estufa do Canadá iriam ser reduzidas em um por cento.”

Mas um estudo não publicado pelo meio-Ambiente do Canadá diz que mesmo essa estimativa é questionável. Um relatório recente da CBC – que veio e foi sem que ninguém mais chegasse perto ou tornasse a repeti-lo – revelou que os cientistas do Meio-Ambiente do Canadá estudaram quatro novos modelos de veículos, comparando emissões normais com uma mistura de 10 por cento de etanol e levando em consideração uma ampla gama de condições de trânsito. O estudo revelou que não havia virtualmente nenhuma diferença estatística significativa das emissões dos gazes do efeito estufa no escapamento. Algumas emissões do gás hidrocarbono na verdade aumentaram sob certas condições.

O pensamento delirante que diz que podemos manter o nosso estilo de vida atual e salvar o planeta irá cedo ou tarde, ser relegado à lata de lixo da história. Quanto mais cedo nos desfizermos do delírio incorporado na “salvação por etanol” melhor.

- Murray Dobbin escreve a sua coluna o estado da Nação duas vezes ao mês para o The Tyee .

TRADUÇAO DE ANA AMORIM
http://www.alternet.org/story/50189

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https://www.alainet.org/pt/articulo/120505?language=en

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