O brasileiro <i>cordial</i>

19/10/2007
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Chefe do extinto (nem tanto) Serviço Nacional de Informações no governo do general ditador Figueiredo, o general Otávio Medeiros assim se referiu à campanha pelas diretas já: "teremos eleições diretas em 1990 dentro do cronograma estabelecido pelo governo do presidente Figueiredo e até lá a revolução cumprirá seu papel".

Errou por um ano, as diretas foram em 1989 e Fernando Collor de Mello, invenção do neoliberalismo e da GLOBO foi o primeiro presidente eleito pelo voto direto desde Jânio Quadros, em 1960.

O general Otávio Medeiros foi um dos que ajudou a abafar o atentado do Rio Centro. Militares pretenderam explodir uma bomba num show com viés de esquerda e a bomba acabou explodindo no colo de um sargento, o encarregado de colocar a bomba e a culpa na esquerda, justificando algo como um ato institucional número seis. Novo golpe dentro do golpe.

Golbery do Couto e Silva bateu de frente com Medeiros e como era ligado a Geisel acabou caindo. Medeiros ficou senhor absoluto do governo Figueiredo.

O que Medeiros não contava é que nas eleições indiretas de 1984 o governador de Minas, Tancredo Neves viesse a derrotar Paulo Maluf e muito menos que Maluf conseguisse derrotar o projeto da extrema-direita militar, o coronel Mário David Andreazza, na convenção da ARENA, partido da ditadura.

Um pouco antes das eleições de 1984 Medeiros fechou questão quanto à natureza da legislatura que viria a elaborar a nova constituição do Brasil. Os militares não admitiam uma Assembléia Nacional Constituinte, mas aceitavam um Congresso Nacional Constituinte.

Quando da deposição de Getúlio Vargas, em 1945, convocou-se uma Assembléia Nacional Constituinte.

As diferenças entre um e outro são muitas, pois tanto podem ser de natureza jurídica como política. No fundo Medeiros interpretava o sentimento da mais refinada gorilada já afastada de alguns dos postos chaves e sem forças para um novo golpe.

Tancredo surpreendeu os militares de extrema-direita ao receber de imediato o apoio do general Geisel, seu grupo (até moralmente superior a Medeiros, Figueiredo e esses adoradores de cheiro de cavalo) e da disposição desses militares, liderados pelo general Leônidas Gonçalves de reagir caso algum novo Rio Centro fosse tentado.

A história está incompleta e vai continuar incompleta sem uma Assembléia Nacional Constituinte.

O modelo institucional está falido em todos os seus braços, em toda a sua dimensão. Executivo, Legislativo e Judiciário não representam as aspirações e muito menos as exigências de um Brasil livre, soberano e independente. Seja porque permeados pela impossibilidade de mudanças substanciais e indispensáveis, seja por fraqueza, seja pela corrupção, seja pelas amarras que poucos percebem, mas ainda sobrevivem da legislação da ditadura militar.

Não há saída e nem alternativa no que está aí. Ou alguém acha que um Congresso com Paulo Maluf, Jader Barbalho, Renan Calheiros, Artur Virgílio, Tasso Jereissati, Michel Temer, Hélio Costa, mais esse, mais aquele, aquele, outro, vai resolver alguma coisa?

Ou um Judiciário dominado por interesses de grupos econômicos (ano passado a FEBRABAN – FEDERAÇÃO BRASILEIRA DOS BANCOS levou não sei quantos juízes para um regabofe em Camandatuba com tudo pago e tudo concedido para discutir juros e agiotagem legalizados)?

Num governador que "contrata" a miss Brasil para tentar decolar sua campanha presidencial? Ou noutro, José Serra, que rasga compromissos simples que assina e assenta em cima do maior monstrengo de corrupção no País, a associação FIESP/BANCOS/MÍDIA/PSDB/DEMocratas?

A Comissão de Ética do Senado da República (que República?) deve arquivar o processo contra o senador Eduardo Azeredo, típico pilantra sonso, como tem arquivado sistematicamente todos. O de Roriz ia para a frente, pois Joaquim Roriz não é necessariamente um integrante das elites. É um Beira-mar da vida que chegou ao Senado, ao governo de Brasília. Não sabe a diferença entre tinto seco e tinto suave. Se cair sai de quatro. Foi acidente de percurso.

O Brasil hoje enfrenta o dilema de reafirmar sua soberania, sua independência ou curvar-se aos interesses dos norte-americanos (texanos), como aconteceu durante os oito anos do governo FHC e continua a acontecer no equilíbrio do lulismo de acender uma vela a Deus e outra ao diabo.

Podemos virar uma grande Roça de Cana, sermos transformados em bagaços dessa política mundial que chamam de globalização e, na verdade, é a franquia controlada a ferro e fogo do american way life.

Venezuela, Bolívia e Equador começam a mostrar que é possível sair desse inferno de leite contaminado com sangue, pus e bactérias de doenças incuráveis distribuídos por multinacionais dos transgênicos.

Cuba resiste desde 1969 e encontra fôlego nas políticas bolivarianas de Hugo Chávez.

A Universidade Pública no Brasil vai se transformando em braço das grandes empresas multinacionais, vira uma espécie de laboratório dos interesses dessas empresas e o pensar desaparece para que prevaleça a matemática dos auditores do progresso deles.

E assim todo o tecido político, econômico e social do País. Um filme como TROPA DE ELITE que tenta mostrar (num sei não) a corrupção e a barbárie da Polícia acaba sendo saudado pela mídia podre como exemplo de tratamento a ser dispensado a bandido.

Podre, fétido está o modelo.

Não há que ser cordial num processo que esmaga e avilta o ser humano.

A luta para resgatar o Brasil como nação soberana, livre e restituir a dignidade aos brasileiros, roubada por criminosos como Renan Calheiros não passa pela pretensa legalidade.

Essa é apenas a camisa de força dos donos.

Passa por romper essas amarras, jogar fora essa vestimenta hipócrita do capitalismo franqueado e tutelado do neoliberalismo.

Passa por ir às ruas e varrer com essa canalha. Não é o CANSEI não, que essa gente quer é aumentar o consumo de liteiras. Ainda está presa em 1887.

Sonha com um d. Pedro III.

É luta de sobrevivência do ser humano como tal. Do Brasil como nação.

Sabe o que vem por aí agora? A gravidez da Angélica, mais ou menos, a imbecilização do distinto e da distinta. Depois, o BBB-8 e Boninho e sua turma de juízes a decidir quem é ou não vagabunda.

Isso tudo é para ser jogado no lixo. Tampado e lacrado.

A luta popular não passa pela chamada legalidade democrática. Essa é apenas a formalização de um Estado corrupto para além da apropriação do dinheiro público. Corrupto no processo de transformação do Brasil em apêndice de apetites globais que nada têm a ver com as aspirações legítimas dos brasileiros.

O mundo dessa gente, Renan, aqui como símbolo de uma das partes podres, FIESP, mídia (GLOBO, VEJA, FOLHA, ESTADÃO, etc), Judiciário e Executivo se equilibrando entre Maresguia e gente de caráter como Celso Amorim, não tem nada a ver com o Brasil e muito menos com o povo brasileiro.

E nem me falem em Heloísa Helena, um blefe tão grande que sequer vale a pena comentar.
https://www.alainet.org/pt/articulo/123860
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