O futuro do planeta em debate
26/12/2007
- Opinión
Aumento de temperatura da Terra abre brecha para se discutir padrão de vida da sociedade capitalista.
O debate sobre o aquecimento global ganhou força em 2007 com a divulgação de uma série de relatórios do Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC, sigla em inglês), órgão ligado à Organização das Nações Unidas (ONU). No horizonte, previsões nada animadoras. Na melhor das hipóteses, a temperatura global deverá subir 1,8 ºC até 2100. Na pior, subirá em torno de 4ºC.
Em ambos os casos as conseqüências serão altamente danosas para os ecossistemas. Esse aquecimento, segundo o IPCC, estaria sendo causado pela ação humana, principalmente por meio da queima de combustíveis fósseis desde o começo da era industrial (ao redor de 1750).
Entretanto, essa posição não é consenso. Tarik Rezende de Azevedo, professor do Departamento de Geografia da Universidade de São Paulo (USP) acredita que possa estar ocorrendo um aquecimento, mas discorda das causas apontadas pelo estudo. “Evidentemente há um aquecimento, mas a discussão maior é em cima das causas. Há tantas outras coisas que pesam – e muito – que é difícil isolar cada uma delas (a ação humana) para ver o peso que tem. No caso do clima há um caso extremo de dificuldade. Como dizer que é a ação humana que mais afeta?”, questiona.
Azevedo também contesta a projeção do relatório. “Dizer que vai aumentar de 2 a 4 graus é adivinhação”, afirma. O geógrafo acredita que mais complicado ainda é quando o relatório faz projeções sócio-econômicas baseadas nas mudanças climáticas. “A história da humanidade é muito mais complicada do que equações matemáticas. Em Economia isso também ocorre. É possível prever com exatidão o que vai acontecer na bolsa de valores em seis meses?”, relativiza.
Debate
Paulo Artaxo, professor de Departamento de Física Aplicada da USP e participante do IPCC acredita que as divergências são naturais. “Em ciência sempre existe diferenças de opinião. Há divergências em relação a abordagens que o IPCC tomou. Isso é obviamente legítimo, faz parte do sistema científico global”, aponta.
O pesquisador acredita que é perfeitamente plausível defender uma posição mais “cética” cientificamente. Alerta, entretanto, que essa posição também tem sido adotada por uma parcela da comunidade científica cooptada pelas transnacionais do petróleo e do carvão, por exemplo. “A indústria está se armando do ponto de vista científico, pois o debate é político também. Então, fazem pesquisas que tentam enfatizar pontos positivos do aquecimento global. Por exemplo: parte da Rússia e parte do Canadá poderiam se tornar agricultáveis; mas não leva-se em conta o fato de que o restante do planeta vai ter conseqüências muito danosas”, defende Artaxo.
Para o físico, uma posição contrária à idéia da ação humana como principal causa do aquecimento que seja bem argumentada e com bases científicas consistentes é válida, mas acaba sendo vista injustamente com desconfiança por conta do uso desses mesmos argumentos pelas grandes transnacionais.
Tarik Azevedo também relembra que o painel montado pela ONU é intergovernamental, como diz o próprio nome. “Ou seja, são Estados discutindo a questão do aquecimento global, é uma instituição política, assim como a ONU. São feitas por cientistas escolhidos pelos Estados”, opina.
A seu ver, muito mais do que preocupações ambientais existe a necessidade de resolver o problema da escassez de petróleo. “É preciso convencer as pessoas. O clima está sendo usado como elemento de convencimento para se mudar a matriz energética do mundo”, sustenta o geógrafo.
Capitalismo
Michel Löwy, sociólogo, também está convencido de que há aquecimento global e de que a ação humana é a sua principal causa. Mas especifica: “o que causa isso não é a ação humana em geral, mas uma forma muito específica de vida social: a civilização capitalista baseada na extensão e acumulação infinita do capital e do lucro, num modo de consumo irracional e insustentável, em particular das elites ocidentais. O modo de produção, de vida, de transporte de pessoas e mercadorias – todo baseado nas energias fósseis – do capitalismo gera, inevitavelmente, a produção, em proporções assustadoramente crescentes, dos gases de efeito estufa que trazem como resultado o aquecimento global”.
Löwy aponta que alguns dos principais governos do mundo capitalista – como o estadunidense e o canadense – apontam que o problema não é grave e que bastam alguns “truques tecnológicos” para se resolver a questão. “George W. Bush (presidente dos Estados Unidos) já explicou que o modo de vida americano não é negociável”, aponta o sociólogo.
Fonte: Brasil de Fato
http://www.brasildefato.com.br
O debate sobre o aquecimento global ganhou força em 2007 com a divulgação de uma série de relatórios do Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC, sigla em inglês), órgão ligado à Organização das Nações Unidas (ONU). No horizonte, previsões nada animadoras. Na melhor das hipóteses, a temperatura global deverá subir 1,8 ºC até 2100. Na pior, subirá em torno de 4ºC.
Em ambos os casos as conseqüências serão altamente danosas para os ecossistemas. Esse aquecimento, segundo o IPCC, estaria sendo causado pela ação humana, principalmente por meio da queima de combustíveis fósseis desde o começo da era industrial (ao redor de 1750).
Entretanto, essa posição não é consenso. Tarik Rezende de Azevedo, professor do Departamento de Geografia da Universidade de São Paulo (USP) acredita que possa estar ocorrendo um aquecimento, mas discorda das causas apontadas pelo estudo. “Evidentemente há um aquecimento, mas a discussão maior é em cima das causas. Há tantas outras coisas que pesam – e muito – que é difícil isolar cada uma delas (a ação humana) para ver o peso que tem. No caso do clima há um caso extremo de dificuldade. Como dizer que é a ação humana que mais afeta?”, questiona.
Azevedo também contesta a projeção do relatório. “Dizer que vai aumentar de 2 a 4 graus é adivinhação”, afirma. O geógrafo acredita que mais complicado ainda é quando o relatório faz projeções sócio-econômicas baseadas nas mudanças climáticas. “A história da humanidade é muito mais complicada do que equações matemáticas. Em Economia isso também ocorre. É possível prever com exatidão o que vai acontecer na bolsa de valores em seis meses?”, relativiza.
Debate
Paulo Artaxo, professor de Departamento de Física Aplicada da USP e participante do IPCC acredita que as divergências são naturais. “Em ciência sempre existe diferenças de opinião. Há divergências em relação a abordagens que o IPCC tomou. Isso é obviamente legítimo, faz parte do sistema científico global”, aponta.
O pesquisador acredita que é perfeitamente plausível defender uma posição mais “cética” cientificamente. Alerta, entretanto, que essa posição também tem sido adotada por uma parcela da comunidade científica cooptada pelas transnacionais do petróleo e do carvão, por exemplo. “A indústria está se armando do ponto de vista científico, pois o debate é político também. Então, fazem pesquisas que tentam enfatizar pontos positivos do aquecimento global. Por exemplo: parte da Rússia e parte do Canadá poderiam se tornar agricultáveis; mas não leva-se em conta o fato de que o restante do planeta vai ter conseqüências muito danosas”, defende Artaxo.
Para o físico, uma posição contrária à idéia da ação humana como principal causa do aquecimento que seja bem argumentada e com bases científicas consistentes é válida, mas acaba sendo vista injustamente com desconfiança por conta do uso desses mesmos argumentos pelas grandes transnacionais.
Tarik Azevedo também relembra que o painel montado pela ONU é intergovernamental, como diz o próprio nome. “Ou seja, são Estados discutindo a questão do aquecimento global, é uma instituição política, assim como a ONU. São feitas por cientistas escolhidos pelos Estados”, opina.
A seu ver, muito mais do que preocupações ambientais existe a necessidade de resolver o problema da escassez de petróleo. “É preciso convencer as pessoas. O clima está sendo usado como elemento de convencimento para se mudar a matriz energética do mundo”, sustenta o geógrafo.
Capitalismo
Michel Löwy, sociólogo, também está convencido de que há aquecimento global e de que a ação humana é a sua principal causa. Mas especifica: “o que causa isso não é a ação humana em geral, mas uma forma muito específica de vida social: a civilização capitalista baseada na extensão e acumulação infinita do capital e do lucro, num modo de consumo irracional e insustentável, em particular das elites ocidentais. O modo de produção, de vida, de transporte de pessoas e mercadorias – todo baseado nas energias fósseis – do capitalismo gera, inevitavelmente, a produção, em proporções assustadoramente crescentes, dos gases de efeito estufa que trazem como resultado o aquecimento global”.
Löwy aponta que alguns dos principais governos do mundo capitalista – como o estadunidense e o canadense – apontam que o problema não é grave e que bastam alguns “truques tecnológicos” para se resolver a questão. “George W. Bush (presidente dos Estados Unidos) já explicou que o modo de vida americano não é negociável”, aponta o sociólogo.
Fonte: Brasil de Fato
http://www.brasildefato.com.br
https://www.alainet.org/pt/articulo/124935?language=en
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