Vida: procurando entender para escolher (I)
10/02/2008
- Opinión
Se, como dizem, é verdade que só se ama o que se conhece bem, para escolher a vida como nos diz a Campanha da Fraternidade 2008, é preciso primeiro conhecê-la, compreendê-la, saber defini-la e circunscrevê-la com a razão, embora sabendo que nunca o conseguiremos totalmente. E por quê? Porque a experiência de estar vivo e de desejar mais vida é algo que nossa razão nunca dará conta senão de forma limitada. Não impede que seja preciso colocá-la em marcha, essa razão que se não dá conta, pelo menos ajuda a aproximarmo-nos mais das perguntas que nos fazemos.
Para começar, a vida é um conceito pluriforme, ou seja, com numerosas faces. Ao dizer vida, podemos estar referindo-nos ao processo em curso do qual os seres vivos são uma parte; ao espaço de tempo entre o nascimento e a morte de um organismo qualquer; também à condição de uma entidade que nasceu e ainda não morreu e, portanto, está em vida; e aquilo que faz com que um ser vivo esteja… vivo.
Para a parte da filosofia que se situa além da física, ou seja, além daquilo que nossos sentidos podem alcançar i-mediatamente, os gregos encontraram o nome de metafísica, justamente porque estava além da física. Metafisicamente então, a vida é um processo constante de relacionamentos. Está vivo quem se relaciona, quem se comunica com o mundo, consigo mesmo, com os outros. A religião acrescentou: com Deus.
Muitos biólogos e cientistas da natureza tentam definir a vida como um "fenômeno que anima a matéria”. Este fenômeno faz com que todo ser vivo seja dotado de movimento, crescimento, metabolismo, reprodução e capacidade de resposta a estímulos. O meio ambiente, os outros seres vivos, tudo isso são pólos de relações com quem há que relacionar-se para estar vivo, para seguir vivo, para manter-se na vida.
Nessas respostas dadas ao meio ou aos outros, no entanto, os seres vivos diferem fundamentalmente. Há alguns que se movem por instintos que muitas vezes são parcos e nada sofisticados. Por exemplo, o carrapato resolve sua vida pelo tato, com o qual se agarra às superfícies da pele dos animais e à casca das árvores e pelo olfato que o faz sentir o cheiro do sangue que irá sugar para alimentar-se. O carrapato não vê, não ouve.
O ser humano não apenas usa plenamente seus cinco sentidos como é capaz de empregá-los para criar outras coisas muito além da simples resposta a estímulos que a natureza e os semelhantes podem fornecer-lhe. O ser humano faz poesia, compõe sinfonias, inventa regras para jogos que se transformarão em esportes. O ser humano é capaz de ouvir. Ouvir não apenas o outro semelhante a si que pronuncia uma palavra totalmente humana, como também ouvir outra Palavra que vem de mais além e cuja fonte passa a ser o motivo principal de sua busca vital.
A maioria dos seres vivos nasce, cresce, reproduze-se, envelhece e morre. Com o ser humano também acontece isto. A diferença é que o ser humano, homem ou mulher, se faz perguntas. Pergunta-se pela razão das coisas, por sua origem e seu fim. Pergunta, em suma, pelo sentido da vida.
A pergunta pelo sentido da vida é o questionamento que o ser humano se faz sobre a natureza da existência, sua finalidade ou não, para cada pessoa e para a humanidade como um todo. Essa pergunta, então, será o que demarcará a "interpretação do relacionamento entre o ser humano e o mundo".
Muitas escolas filosóficas, ao longo da história, procuraram responder essa questão do ser humano pelo sentido da vida. Muitas, ou melhor, todas as religiões igualmente se debruçaram sobre ela. O Cristianismo encontrou uma resposta à qual muitos seres humanos, do lado ocidental do mundo, aderiram, praticaram e praticam. Trata-se de uma escolha da vida e do entendimento da vida entre outras. E, uma vez mais, é preciso conhecer para escolher. É o que procuraremos fazer na próxima semana.
- Maria Clara Lucchetti Bingemer, teóloga, professora e decana do Centro de Teologia e Ciências Humanas da PUC-Rio, é autora de "A Argila e o espírito - ensaios sobre ética, mística e poética" (Ed. Garamond), entre outros livros.
Para começar, a vida é um conceito pluriforme, ou seja, com numerosas faces. Ao dizer vida, podemos estar referindo-nos ao processo em curso do qual os seres vivos são uma parte; ao espaço de tempo entre o nascimento e a morte de um organismo qualquer; também à condição de uma entidade que nasceu e ainda não morreu e, portanto, está em vida; e aquilo que faz com que um ser vivo esteja… vivo.
Para a parte da filosofia que se situa além da física, ou seja, além daquilo que nossos sentidos podem alcançar i-mediatamente, os gregos encontraram o nome de metafísica, justamente porque estava além da física. Metafisicamente então, a vida é um processo constante de relacionamentos. Está vivo quem se relaciona, quem se comunica com o mundo, consigo mesmo, com os outros. A religião acrescentou: com Deus.
Muitos biólogos e cientistas da natureza tentam definir a vida como um "fenômeno que anima a matéria”. Este fenômeno faz com que todo ser vivo seja dotado de movimento, crescimento, metabolismo, reprodução e capacidade de resposta a estímulos. O meio ambiente, os outros seres vivos, tudo isso são pólos de relações com quem há que relacionar-se para estar vivo, para seguir vivo, para manter-se na vida.
Nessas respostas dadas ao meio ou aos outros, no entanto, os seres vivos diferem fundamentalmente. Há alguns que se movem por instintos que muitas vezes são parcos e nada sofisticados. Por exemplo, o carrapato resolve sua vida pelo tato, com o qual se agarra às superfícies da pele dos animais e à casca das árvores e pelo olfato que o faz sentir o cheiro do sangue que irá sugar para alimentar-se. O carrapato não vê, não ouve.
O ser humano não apenas usa plenamente seus cinco sentidos como é capaz de empregá-los para criar outras coisas muito além da simples resposta a estímulos que a natureza e os semelhantes podem fornecer-lhe. O ser humano faz poesia, compõe sinfonias, inventa regras para jogos que se transformarão em esportes. O ser humano é capaz de ouvir. Ouvir não apenas o outro semelhante a si que pronuncia uma palavra totalmente humana, como também ouvir outra Palavra que vem de mais além e cuja fonte passa a ser o motivo principal de sua busca vital.
A maioria dos seres vivos nasce, cresce, reproduze-se, envelhece e morre. Com o ser humano também acontece isto. A diferença é que o ser humano, homem ou mulher, se faz perguntas. Pergunta-se pela razão das coisas, por sua origem e seu fim. Pergunta, em suma, pelo sentido da vida.
A pergunta pelo sentido da vida é o questionamento que o ser humano se faz sobre a natureza da existência, sua finalidade ou não, para cada pessoa e para a humanidade como um todo. Essa pergunta, então, será o que demarcará a "interpretação do relacionamento entre o ser humano e o mundo".
Muitas escolas filosóficas, ao longo da história, procuraram responder essa questão do ser humano pelo sentido da vida. Muitas, ou melhor, todas as religiões igualmente se debruçaram sobre ela. O Cristianismo encontrou uma resposta à qual muitos seres humanos, do lado ocidental do mundo, aderiram, praticaram e praticam. Trata-se de uma escolha da vida e do entendimento da vida entre outras. E, uma vez mais, é preciso conhecer para escolher. É o que procuraremos fazer na próxima semana.
- Maria Clara Lucchetti Bingemer, teóloga, professora e decana do Centro de Teologia e Ciências Humanas da PUC-Rio, é autora de "A Argila e o espírito - ensaios sobre ética, mística e poética" (Ed. Garamond), entre outros livros.
https://www.alainet.org/pt/articulo/125611?language=en
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