Cinco anos de genocídio no Iraque
19/03/2008
- Opinión
Às 23h35 de 19 de março de 2003, no horário de Brasília – ou 5h35 da madrugada 20 de março, no horário de Bagdá –, os EUA iniciaram o brutal bombardeio aéreo ao Iraque com o objetivo de invadir esta nação soberana. Ao completar cinco anos desta tragédia, crescem as analises sobre os seus efeitos na geopolítica mundial. Num discurso mentiroso, o presidente-terrorista George Bush defendeu a ação militar e a permanência no país por tempo indefinido. “Remover Saddam Hussein do poder foi uma decisão correta. Esta é uma luta que a América pode e deve vencer. Os homens e mulheres que entraram no Iraque há cinco anos removeram um tirano, libertaram um país e resgataram inúmeras pessoas de horrores inomináveis”, vociferou o sádico “imperador”.
Esta visão doentia, difundida por boa parte da mídia venal até recentemente – agora, diante do desastre, ela muda o enfoque, mas não faz autocrítica –, felizmente hoje não corresponde mais à leitura da maioria dos estadunidenses e das pessoas amantes da paz e com maior senso crítico no planeta. Cerca de 850 manifestações contra o bárbaro genocídio ocorreram nestes dias nos EUA, inclusive diante da Casa Branca – “para lembrar os sacrifícios de famílias e os bilhões de dólares gastos no Iraque, que podiam ser investidos no país”, informa a ONG Moveon. Fruto da tragédia, Bush está totalmente isolado e caminha para uma humilhante derrota na eleição do final do ano.
Números horripilantes da invasão
Os números da bárbara invasão são horripilantes e reforçam a revolta frente ao “império do mal”. Eles ajudam a entender a grave crise da economia ianque e a insatisfação do seu povo. Nos cinco anos de ocupação, os custos militares chegaram a US$ 3 trilhões e já superam os gastos na guerra do Vietnã, segundo cálculo de Joseph Stiglitz, prêmio Nobel de Economia. O plano criminoso de Bush de invadir o Iraque e rapidamente controlar suas riquezas petrolíferas revelou-se um fiasco. Os 157 mil soldados da tropa regular, além dos 130 mil mercenários, não conseguiram dobrar a resistência da guerrilha iraquiana. Até a semana passada, 3.983 militares estadunidenses tinham sido mortos e enviados em sacos pretos aos EUA – o que reforça a trágica lembrança do Vietnã.
Já as mortes, torturas e destruições no Iraque causam maior repulsa dos povos do mundo inteiro contra o imperialismo. Estudos indicam que o número de mortes varia de 800 mil a 1 milhão de inocentes. “Nós não fazemos a contagem de corpos”, disse, arrogante, o general Tommy Frank, que comandou a invasão. Segundo a Cruz Vermelha, a situação humanitária no país é “uma das mais críticas do mundo”. Milhões de iraquianos vegetam sem acesso à água tratada, saneamento básico ou atendimento à saúde. Mais de 4 milhões de pessoas, o equivalente a 16% da população do Iraque, vivem refugiadas em outros países da região, sem lares, sem presente ou futuro.
O imperialismo não é invencível
O saldo da invasão imperialista é devastador. Mesmo assim, George Bush insiste em manter as tropas ianques por “tempo indefinido” e o candidato do seu partido, John McCain, promete mais “cem anos de ocupação”. Já os democratas procuram “reciclar” a desgastada imagem do império, mas não ousam propor a imediata retirada. Hillary Clinton inclusive votou a favor da invasão; já Barack Obama promete deixar o Iraque, mas “após vencer a guerra”. Como afirma Frei Betto, os EUA se afundam num novo Vietnã. “Se ficar o bicho come, se correr o bicho pega”. O fim da ocupação dependerá exclusivamente do aumento da pressão interna e internacional e da força da resistência iraquiana. A guerra do Vietnã durou de 1958 a 1975; esta pode ser ainda mais longa.
É possível derrotar os planos expansionistas dos EUA. O desastre no Iraque comprova que o imperialismo não é invencível. O crescente desgaste dos senhores da guerra, dos neocons de Bush, e a grave recessão neste país revelam que o império está em declínio. Para acelerar este processo, indispensável à paz no mundo e ao bem-estar da humanidade, é preciso reforçar as denúncias do genocídio e a solidariedade aos povos vítimas da ação imperial. Ao lembrar os cinco anos da bárbara invasão, urge fortalecer o internacionalismo ativo no mundo – incluindo o Brasil. O imperialismo não cairá de maduro; depende da ação enérgica e militante dos povos.
- Altamiro Borges é jornalista, membro do Comitê Central do PCdoB e autor do livro “Venezuela: originalidade e ousadia” (Editora Anita Garibaldi, 3ª edição).
Esta visão doentia, difundida por boa parte da mídia venal até recentemente – agora, diante do desastre, ela muda o enfoque, mas não faz autocrítica –, felizmente hoje não corresponde mais à leitura da maioria dos estadunidenses e das pessoas amantes da paz e com maior senso crítico no planeta. Cerca de 850 manifestações contra o bárbaro genocídio ocorreram nestes dias nos EUA, inclusive diante da Casa Branca – “para lembrar os sacrifícios de famílias e os bilhões de dólares gastos no Iraque, que podiam ser investidos no país”, informa a ONG Moveon. Fruto da tragédia, Bush está totalmente isolado e caminha para uma humilhante derrota na eleição do final do ano.
Números horripilantes da invasão
Os números da bárbara invasão são horripilantes e reforçam a revolta frente ao “império do mal”. Eles ajudam a entender a grave crise da economia ianque e a insatisfação do seu povo. Nos cinco anos de ocupação, os custos militares chegaram a US$ 3 trilhões e já superam os gastos na guerra do Vietnã, segundo cálculo de Joseph Stiglitz, prêmio Nobel de Economia. O plano criminoso de Bush de invadir o Iraque e rapidamente controlar suas riquezas petrolíferas revelou-se um fiasco. Os 157 mil soldados da tropa regular, além dos 130 mil mercenários, não conseguiram dobrar a resistência da guerrilha iraquiana. Até a semana passada, 3.983 militares estadunidenses tinham sido mortos e enviados em sacos pretos aos EUA – o que reforça a trágica lembrança do Vietnã.
Já as mortes, torturas e destruições no Iraque causam maior repulsa dos povos do mundo inteiro contra o imperialismo. Estudos indicam que o número de mortes varia de 800 mil a 1 milhão de inocentes. “Nós não fazemos a contagem de corpos”, disse, arrogante, o general Tommy Frank, que comandou a invasão. Segundo a Cruz Vermelha, a situação humanitária no país é “uma das mais críticas do mundo”. Milhões de iraquianos vegetam sem acesso à água tratada, saneamento básico ou atendimento à saúde. Mais de 4 milhões de pessoas, o equivalente a 16% da população do Iraque, vivem refugiadas em outros países da região, sem lares, sem presente ou futuro.
O imperialismo não é invencível
O saldo da invasão imperialista é devastador. Mesmo assim, George Bush insiste em manter as tropas ianques por “tempo indefinido” e o candidato do seu partido, John McCain, promete mais “cem anos de ocupação”. Já os democratas procuram “reciclar” a desgastada imagem do império, mas não ousam propor a imediata retirada. Hillary Clinton inclusive votou a favor da invasão; já Barack Obama promete deixar o Iraque, mas “após vencer a guerra”. Como afirma Frei Betto, os EUA se afundam num novo Vietnã. “Se ficar o bicho come, se correr o bicho pega”. O fim da ocupação dependerá exclusivamente do aumento da pressão interna e internacional e da força da resistência iraquiana. A guerra do Vietnã durou de 1958 a 1975; esta pode ser ainda mais longa.
É possível derrotar os planos expansionistas dos EUA. O desastre no Iraque comprova que o imperialismo não é invencível. O crescente desgaste dos senhores da guerra, dos neocons de Bush, e a grave recessão neste país revelam que o império está em declínio. Para acelerar este processo, indispensável à paz no mundo e ao bem-estar da humanidade, é preciso reforçar as denúncias do genocídio e a solidariedade aos povos vítimas da ação imperial. Ao lembrar os cinco anos da bárbara invasão, urge fortalecer o internacionalismo ativo no mundo – incluindo o Brasil. O imperialismo não cairá de maduro; depende da ação enérgica e militante dos povos.
- Altamiro Borges é jornalista, membro do Comitê Central do PCdoB e autor do livro “Venezuela: originalidade e ousadia” (Editora Anita Garibaldi, 3ª edição).
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