Economia do trabalho, social e comunitária

15/05/2012
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 Enquanto escrevo estas linhas, oito crianças menores de cinco anos de idade estão morrendo na Argentina e, dez, no Brasil, vítimas da desnutrição. A realidade socioeconômica continua dolorosa. Mesmo em países desenvolvidos disseminam-se múltiplas formas de desigualdade e de exclusão.
 
É fato que o desenvolvimento desigual dos países e regiões da economia capitalista se aprofundou com mais intensidade nesses modernos tempos de economia globalizada, cujos ganhos na escala financeira se avolumam à medida que a precarização das relações de trabalho (exploração, subemprego, informalidade) se tornam mais constantes.
 
Inequivocamente, o processo conhecido por “globalização” tem manifestado sua face de desigualdade em todos os níveis da economia e também nas relações trabalhistas.
Mas, afinal, que dados corroboram para esse “desmonte” da economia com reflexos explícitos na precarização do trabalho?
 
Comecemos essas respostas resgatando, em escala mundial, os seguintes dados: 70 mil pessoas morrem de fome a cada dia. A cada 5 segundos uma inocente criança com menos de 10 anos morre de fome ou de doenças decorrentes disso. Somente em 2009, mais de 6 milhões de crianças morreram vitimadas pela falta de alimentos. Há espalhadas pelo mundo 900 milhões de pessoas vivendo em condições de fome generalizada. Segundo o Banco Mundial (2009), 1,100 bilhão de pessoas vive com menos de um dólar por dia e 2.800 bilhões vivem com menos de dois dólares/dia. Projeções para 2015 indicam que 750 milhões de pessoas estarão em uma posição de completa degradação social - 15% da pobreza global em comparação aos 28,3% calculado em 1990. Atualmente, existem mais de 55 milhões de latino-americanos e caribenhos vivendo em extrema pobreza. Só no Brasil, segundo o (IBGE), a fome afeta mais de 15 milhões de pessoas.
 
Desde que começou a crise econômica mundial em 2007, a economia consegui “produzir” mais 27 milhões de desempregados que se somam ao contingente de mais de 150 milhões de “desocupados”.
 
Segundo a Organização Internacional do Trabalho (OIT): "Apesar de grandes esforços dos governos, a crise de empregos continua inalterada, com um em cada três trabalhadores no mundo – ou cerca de 1,1 bilhão de pessoas – ou desempregada ou vivendo na pobreza". Para o corrente ano, a OIT estima que o mundo atinja a impressionante cifra de 200 milhões de desempregados.
 
Com isso, surgem inevitáveis perguntas: De quem é a culpa? Dos mercados financeiros globais? Da liberalização dos mercados de capitais? Da globalização que privilegia ganhos especulativos e torna o trabalho precário? Do homem insensível ou da economia de mercado? Existe apenas um ou são vários os responsáveis por tão terrível situação?
 
É possível mudar essa situação
 
Em certa medida, a atividade econômica tem falhado miseravelmente em relação ao correto entendimento das “raízes” de uma crise que não é só econômica, mas também “humana”, pois promove um de seus efeitos mais cruéis: a degradação social que atinge os mais necessitados.
 
Essa atividade econômica que permeia as finanças é míope para a busca dos meios necessários ao desenvolvimento humano uma vez que prioriza o crescimento econômico (quantidade), e não o desenvolvimento (qualidade).
Desse modo, perpetuam-se as indecentes linhas de pobreza relativa (quando uma pessoa é considerada pobre a partir do momento em que sua renda é inferior a uma determinada magnitude de poder de compra) e absoluta (quando a quantidade de dinheiro recebida não é necessária para alcançar um nível mínimo de vida).
 
Essa degradação social ocorre em paralelo ao desmonte das relações dignas de trabalho promovidas pela “globarbarização”.
 
 Por isso defendemos que o papel fundamental da economia é o de ser essencialmente humana e social valorizando, em primeiro lugar, as pessoas e o mercado de trabalho.
Chamamos a atenção para a necessidade de se estabelecer políticas públicas com o intuito de promover os laços que devem dar sustentabilidade a uma economia mais social.
 
Esta é – inequivocamente - uma das razões decisivas para se construir estratégias visando à formação de outra economia que há tempos se faz necessária.
Na essência, o que todos almejamos é a criação de uma economia que seja capaz de criar um “mundo” em que caibam todos “os mundos”, com participação ativa de todos priorizando o “ser” e, não, o “ter”.
 
Mercado social
 
Outro aspecto importante a ser enfrentado é o de criar modelos de desenvolvimento humano visando acima de tudo estabelecer espaços para a harmonização econômica, social, ambiental e trabalhista.
 
Esse desafio, per si, exige a criação de estruturas de governança apropriadas para lidar com essa complexidade e, além disso, exige e clama pela participação ativa dos cidadãos nos assuntos econômicos. Entendemos que a partir da criação e consolidação de um ótimo mercado de trabalho abre-se possibilidade para se constituir esse tipo diferenciado de economia.
 
Tal afirmação baseia-se no seguinte argumento: a participação da sociedade civil nas decisões sobre a atividade econômica é de suma importância, pois permite o encontro de soluções sustentáveis. Assim será possível alcançar uma melhor economia, eliminando os focos principais da exclusão social.
 
Para tanto, é imprescindível fortalecer o mercado de trabalho a partir da criação de postos que sirvam exclusivamente para fazer a economia andar para frente, valorizando o “bem” mais importante que cada trabalhador possui: seu salário.
Na busca por desenvolvimento econômico e humano - com promoção de políticas de inclusão social – é preciso dar ênfase ao desenvolvimento do potencial humano por meio de estratégias que permitam aos indivíduos e comunidades cooperarem uns com os outros.
 
É dessa forma que acontece uma economia mais comunitária em que não haja perdedores. Essa economia social e comunitária deverá promover, na essência, o bem comum. Para tanto, urge que compreendamos os princípios básicos da economia de mercado de caráter comunitário e social.
 
Assim esperamos “construir” uma economia do trabalho, social e comunitária voltada ao emprego do bem-estar. Afinal, é para isso que a ciência econômica serve.
 
Marcus Eduardo de Oliveira
Economista, mestre em Integração da América Latina (USP). Professor de Teoria Econômica (UNIFIEO) e (FAC-FITO).
https://www.alainet.org/pt/articulo/157950
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