Venezuela, política e mídia em discussão no Encontro de Blogueiro
- Opinión
A cobertura que a mídia brasileira faz sobre a Venezuela e o seu presidente, Hugo Chávez, foi o tema de um concorrido debate na tarde deste sábado (26/5), no segundo dia do 3º Encontro de Blogueiros, que acontece até amanhã, em Salvador, na Bahia. A tarde foi ocupada com as múltiplas atividades autogestionadas, que discutiram temas como liberdade de expressão e direitos humanos; estado laico, religião e diversidade na mídia; redes sociais e subjetividade. O espaço contou ainda com oficinas de WordPress e de Blogoosfero, além da exibição de documentário sobre a população do Pinheirinho, em São Paulo.
As atividades aconteceram de forma simultânea e foram propostas por diversas entidades do movimento social. O debate sobre a Venezuela, política e mídia contou com exposições do embaixador da Venezuela no Brasil, Maximilien Arvelaiz; do jornalista Renato Rovai; do professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro Dênis de Moraes e de Igor Felippe, editor do site do Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST)
O primeiro a falar foi o embaixador da Venezuela, que depois de agradecer a oportunidade de debater com ativistas pela democratização a situação do seu país, conclamou os blogueiros progressistas a criarem um movimento para enfrentar o PIG – Partido da Mídia Golpista, em âmbito internacional. A sua solicitação diz respeito principalmente à grande mídia brasileira, que segundo ele, retrata nos jornais e revistas uma Venezuela completamente diferente da real. Segundo Maximilien Arvelaiz, o processo é semelhante ao que acontece em seu país, onde já não existem partidos de oposição fortes e a própria mídia assumiu o papel de oposição ao governo de Chávez.
União do “PIG”
O venezuelano criticou a postura da grande imprensa brasileira, que insiste em mostrar uma situação de descontentamento com o governo e se nega a falar sobre os avanços que o país tem alcançado nos últimos anos, como a erradicação do analfabetismo e uma política de habitação que vai favorecer quase um terço da população da Venezuela. Para Arvelaiz, a imprensa brasileira age em parceria com a venezuelana, com o objetivo claro de desestabilizar o governo e favorecer uma derrota de Hugo Chávez nas eleições de outubro.
A tese de união das mídias dos dois países contra o presidente venezuelano também foi defendida pelos demais palestrantes. O professor da UFRJ Dênis de Moraes traçou até uma comparação entre a situação da regulação da comunicação no Brasil e na Venezuela para mostrar como o país vizinho é mais avançado e favorece a multiplicidade de vozes na informação, ao contrário de promover uma ditadura, como a grande mídia insiste em afirmar. “O governo de Chávez aprovou uma lei de comunicação que facilita o acesso, fomenta e amplia a possibilidade de multiplicidade de vozes na comunicação. Outros países da chamada Aliança Bolivariana das Américas também já fizeram isso, enquanto o Brasil continua atrasado na questão”, afirmou.
Renato Rovai destacou ainda o momento importante vivido em diversos países da América Latina, inclusive no Brasil, onde é possível observar claramente o embate entre os grandes grupos de comunicação, disputando o poder do Estado, e os movimentos sociais se articulando em redes. Isso ficou mais claro durante o golpe na Venezuela em 2002, onde a campanha da grande mídia pela legitimar o golpe foi sendo desmontada pelas informações que chegavam através das rádios comunitárias e outras formas alternativas de comunicação.