Cid Gomes chama Eduardo Cunha de “achacador”, perde o cargo, e leva Congresso para o centro da crise

19/03/2015
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Dilma escolheu hoje o seu Ulysses Guimarães. Ele se chama Eduardo Cunha.

 

Cid Gomes chama Eduardo CunhaPara os mais novos: no governo Sarney, um presidente fraco virou refém das artimanhas e manobras do político mais habilidoso do Congresso, não à toa chamado de “Dr” Ulysses.

 

Dilma, hoje, deixou às claras quem manda no governo.

 

O ministro Cid Gomes foi ao Congresso preparado para o confronto. Preparado, talvez, para sair do governo “por cima”. Dias antes, disse que o Congresso estava cheio de “achacadores”. Foi chamado para dar explicações, num clima de intimidação institucional comandado por Cunha.

 

Cid disse o óbvio aos parlamentares:  “partidos de oposição têm o dever de fazer oposição. Partidos de situação têm o dever de ser situação ou então larguem o osso, saiam do governo”.

 

A frase alterou ainda mais os ânimos. Cid foi chamado de mal-educado. E devolveu, apontando para Cunha: “prefiro ser acusado por ele de mal-educado do que ser acusado como ele de achaque”.

 

Ok. O gesto de Cid pode ter carregado algo de oportunismo, num momento tão duro para o governo. Mas ao menos deixa tudo às claras. Ele botou o guizo no gato. Qual a causa da corrupção na política?  Dilma e o PT ou os “achacadores”?

 

Cid cumpriu um papel didático, e Cunha “Underwood” Cunha usou o Plenário como se fosse sua casa cercada de seguranças no Alto da Gávea (pelo menos era lá que ele morava em 2001, quando fui recepcionado por um capanga de revólver na cintura, ao tentar entregar um envelope para a mulher dele, Claudia Cruz – colega jornalista).

 

Eduardo Cunha não é Ulysses. É doutor só na truculência.

 

Cid saiu de plenário com dignidade. Ao cravar o “achacador” na cara de Cunha, levou o Congresso para o centro da crise. O DataFolha, que mostrou a queda de popularidade de Dilma, indicou também que só 9% aprovam a atuação dos parlamentares.

 

Contestada nas ruas por setores golpistas, Dilma entrega seu governo ao PMDB de Cunha. O presidente da Câmara, sentado em sua cadeira, foi quem anunciou a demissão de Cid Gomes.

 

A pancadaria verbal de hoje pode arrastar não só Dilma, mas o Parlamento e as instituições políticas para o contro da crise.

 

Parece não haver volta no caminho escolhido por Dilma. O programa do segundo turno não será retomado. O PMDB, chefiado por um deputado chamado de “achacador” na tribuna, é quem garante “governabilidade”.

 

Isso não vai dar certo.

 

A esquerda e os movimentos sociais, parece-me, devem seguir enfrentando os golpistas e rechaçando qualquer tentativa de mudar – na marra e no grito – o resultado eleitoral de 2014. Além do mais, devem enfrentar a horrorosa pauta que brotou do asfalto de Copacabana e da avenida Paulista nesse dia 15.

 

Mas, ao mesmo tempo, está claro que é cada vez mais improvável se construir uma saída sob comando desse governo – sequestrado por Cunha e tomado pela letargia.

 

A saída não é, nem de longe, trabalhar contra o governo Dilma. Mas para além do governo.

 

Uma Reforma Política que brote da força das ruas é a única saída pela esquerda. Há força pra isso?

 

19/03/2015

http://www.brasildefato.com.br/node/31630

 

https://www.alainet.org/pt/articulo/168323?language=en
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