Galeano e o silêncio das palavras
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As palavras faziam parte dos ritos solenes e sagrados de Eduardo Galeano. Ele as empregava com a parcimônia típica dos colibris que, com beleza e leveza, flanam diante das flores enquanto colhem seus néctares.
A solenidade e a sacralidade com que brincava com as palavras conferiam veracidade indestrutível à denúncia que fazia dos paradoxos duma América Latina rica, porém espoliada pelos poderosos nativos e estrangeiros.
Com palavras certeiras, exprimia uma consciência implacável em favor dos povos ultrajados pelas elites egoístas; com elas levantou-se insurgente contra todas as formas de opressão.
Galeano lapidou palavras que nos ajudaram a conhecer e a interpretar o mundo. Ele não arriscava improvisos para traduzir o sentido das suas palavras; preferia lê-las e interpretá-las em cerimônias de impressionante reverência às suas plateias.
As palavras hoje calaram; elas entristeceram. Não podem ser esculpidas da voz, porque hoje a voz compreensivelmente não sai: é difícil e doloroso dizer adeus a Galeano.
As palavras não se deixam escrever porque não encontram, dentre todos os idiomas da terra, aquelas capazes de homenagear este que é o mais inigualável subversivo; um ser humano original e inconcedível na luta contra a opressão, a desigualdade, a injustiça, o preconceito.
Que privilégio pertencer a esse mesmo mundo palmilhado por Galeano, espelho duma nova e cada vez mais imprescindível humanidade. Sempre acompanhado da esperança, ele ensinou a crer que “o mundo que necessitamos não é menos real que o mundo que conhecemos e padecemos”.
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