Onde foram parar os valentes jornalistas da Globo que defendiam o impeachment?

12/08/2015
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O patriarca morreu, mas o papismo foi mantido pelos três herdeiros

 

Uma coisa eu preciso reconhecer na família Marinho: ela sabe dar ordens.

 

Nisso, é bem diferente da família Civita, que não consegue pedir um café para o mordomo.

 

Nem bem João Roberto Marinho disse aos senadores do PT que transmitiria a seus editores o que ouvira deles, o noticiário da Globo mudou consideravelmente.

 

Em todas as mídias.

 

O que João ouviu é o que todos já sabiam: que a cobertura da Globo vinha sendo escandolasamente enviesada contra o governo.

 

João prometeu aos senadores que iria avisá-los do diagnóstico prontamente.

 

Presumo, pelo que conheço da Globo, que ele mandou um email sintético, que é seu estilo, aos integrantes do Conedit, o Conselho Editorial.

 

Acabou.

 

No Jornal Nacional da sexta-feira, um milagre: a dupla aparição de Dilma e Lula em reportagens diferentes.

 

Há quanto tempo o JN não abria espaço duplo para coisas do PT? Uma eternidade.

 

Os jornalistas da Globo sabem que o preço da visibilidade é a submissão.

 

Ou o papismo.

 

Na biografia de Bial sobre Roberto Marinho, um episódio revelador é narrado.

 

O jornalista Evandro de Andrade estava conversando com Roberto Marinho sobre a possibilidade de chefiar o Globo.

 

Evandro, numa carta, garantiu a RM que era “papista”. O papa falou, acabou: passemos para o próximo assunto.

 

Imagine, apenas a título de especulação, que Ali Kamel se insurgisse e continuasse a acelerar enquanto os patrões pedem que se freie.

 

Quantas horas até ele ser removido? E alguém trataria de espalhar, nos corredores do poder na Globo, que Kamel foi vitimado pelo Ibope. Pegou, afinal, o Jornal Nacional com mais que o dobro da audiência atual.

 

Mas isso não vai acontecer, porque Kamel é papista. Você não faz carreira na Globo se não for.

 

A Globo freando, as demais empresas jornalísticas fizeram o mesmo, excetuada a Abril com a Veja.

 

Para a Veja, não há mais recuo possível. O estrago por anos de jornalismo criminoso é de tal monta que simplesmente não existe um caminho de volta.

 

Os atuais leitores – analfabetos políticos de classe média que tem raiva de pobres, negros, homossexuais, índios e demais minorias – debandariam. E os antigos jamais retornariam.

 

A Folha e o UOL, da família Frias, parecem ter também desistido de atear fogo. Todos os dias, na home do UOL, o blogueiro Josias de Souza decretava o fim do governo.

 

Procurei Josias hoje, na home, e não encontrei. Fui a seu blog, e encontrei um tom que nada tem a ver com a gritaria dos últimos meses.

 

A coragem dos colunistas e comentaristas da grande mídia vai até o exíguo limite de uma ordem patronal.

 

No Facebook, Eric Bretas, diretor de mídias digitais da Globo, disse que o editorial da Globo provava que jornalistas e donos não têm a mesma opinião.

 

Respondi que respeitaria os aloprados da Globo se eles, diante das novas instruções de JRM, continuassem a fazer o que vinham fazendo.

 

Claro que isso não aconteceu.

 

Certamente os papistas da Globo encontraram, como sempre, vários motivos para pensar exatamente igual aos donos.

 

- Paulo Nogueira, jornalista, é fundador e diretor editorial do site de notícias e análises Diário do Centro do Mundo.

 

11 ago 2015

http://www.diariodocentrodomundo.com.br/onde-foram-parar-os-jornalistas-da-globo-que-defendiam-o-impeachment-por-paulo-nogueira/

https://www.alainet.org/pt/articulo/171690?language=en
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