A Bahia pela democratização da comunicação

30/10/2015
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A pouca diversidade na mídia tradicional, sobretudo com ausência de representatividade das questões raciais, foi um dos principais fatores que resultaram na criação de diversas experiências midiáticas.

 

Bandeira histórica dos movimentos sociais, a luta pela democratização da comunicação no Brasil continua, mesmo em um cenário político desfavorável. A mobilização em torno da construção de um marco regulatório segue unificando o movimento, no entanto, nem o mais otimista acredita que uma legislação democrática possa ser aprovada nos próximos anos.

 

Além de parlamentares que retiram as esperanças, o governo insiste em negligenciar as principais pautas do segmento. Mas, na contramão da inércia governamental, do conservadorismo do Congresso e do oligopólio midiático, o movimento segue forte, sendo renovado e construído de diferentes formas, fruto de diversas iniciativas individuais e coletivas.

 

Na Bahia, essa construção tem sido feita a partir de articulações e ações concretas. É o caso do Instituto de Mídia Étnica, criado há dez anos por jovens jornalistas.

 

A pouca diversidade na mídia tradicional, sobretudo com ausência de representatividade das questões raciais, foi um dos principais fatores que resultaram na criação do Instituto.

 

Hoje, o Mídia Étnica possui sede própria e realiza projetos ligados ao desenvolvimento de novas plataformas tecnológicas, empreendedorismo negro, além de manter o site Correio Nagô, portal com conteúdos que contemplam às diversas pautas raciais. Paulo Rogério, um dos fundadores, tem viajado o país e o exterior, convidado para apresentar a experiência de sucesso do Instituto.

 

A questão étnica no centro da comunicação também impulsionou a criação da revista Afirmativa, desenvolvida por estudantes de jornalismo da Universidade Federal do Recôncavo Baiano e lançada em 2014. A terceira edição da revista impressa já está pronta, feita de forma independente. Alane Reis, editora-chefe da Afirmativa também faz parte do coletivo Tela Preta, que produz filmes e vídeos, dentro de um mercado audiovisual excludente, sobretudo para diretoras mulheres e negras.

 

Aos 17 anos, Monique Evelle criou o Desabafo Social, pensando numa comunicação voltada para a garantia de direitos humanos. Atualmente, no seu quarto ano de existência, o Desabafo Social se transformou numa rede, com colaboradores de diversos estados e com um reconhecimento que vem através de prêmios, parcerias e convites para apresentar suas experiências.

 

E da periferia de Salvador surgem diversas ações, como o Resistência Poética e o Sarau da Onça, que tratam de diversas problemáticas sociais através da poesia.

 

O Mídia Periférica exibe filmes nas comunidades, promove debates e através de reportagens busca apresentar a periferia a partir de uma perspectiva de dentro. Com um olhar semelhante, atua o coletivo de Jovens Comunicadores e Comunicadoras do Subúrbio. Na cidade de Vitória da Conquista, a revista digital Gambiarra traz o ativismo como elemento transversal à produção jornalística. Em Coité, a rádio comunitária Coité FM resiste há mais de 15 anos à clandestinidade imposta pelo governo.

 

Esses são só alguns exemplos de iniciativas no estado. Cada vez mais a juventude baiana – sobretudo negra e da periferia - vai democratizando a comunicação.

 

As ações, no entanto, não estão alheias à busca por incidência política que amplie esse direito para toda a sociedade. Com esse propósito, formou-se em 2015 o Coletivo Baiano pelo Direito à Comunicação (CBCom), com o objetivo de fortalecer a articulação do segmento no Estado. Somam-se ao CBCom as iniciativas de jovens e a experiência de organizações como a Vida Brasil, Cipó, CESE e o coletivo Intervozes.

 

E essa mobilização já rendeu frutos, como a realização da Semana Nacional pela Democratização da Comunicação. As ações ocorreram de 14 a 21 de outubro e, na Bahia, seis municípios promoveram atividades, com destaque para o debate sobre mídias alternativas, concentração, representação e análise crítica da mídia. É a luta pelo direito à comunicação acontecendo na prática, com os esforços da sociedade civil e o desejo de construção de uma mídia democrática.

 

- Alex Hercog é assessor de Comunicação da Associação Vida Brasil, membro do Intervozes e do Coletivo Baiano pelo Direito à Comunicação (CBCom).

 

Fonte: http://www.brasildefato.com.br/node/33329

https://www.alainet.org/pt/articulo/173347
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